Um náufrago que passou 14 meses à deriva no mar e atribuiu sua sobrevivência à misericórdia de Deus, agora está sendo processado pela família de um colega de pescaria, acusado de canibalismo.
José Salvador Alvarenga foi resgatado em fevereiro de 2014, nas Ilhas Marshall. Ele e o colega haviam naufragado na costa mexicana em novembro de 2012 enquanto tentavam pescar tubarões.
“Achava que ia ficar louco”, disse o homem, que atribuiu à sua fé em Deus a força para sobreviver a tantos meses de isolamento.
Alvarenga relatou que os problemas começaram quando estavam a 70 Km da costa do México e um vento forte começou soprar do norte. Sem motor, ele e seu ajudante, Ezequiel Córdoba, ficaram à deriva no barco de pesca. O jovem, que tinha entre 16 e 18 anos, morreu quatro meses depois por não conseguir se alimentar de animais crus.
“[Ezequiel] aguentou quatro meses. Mas depois fiquei sozinho. ‘Meu Deus, quando vou sair, quando vai me levar?’, eu pensava’”, disse o náufrago, que afirmou ter lançado o corpo do colega ao mar, além de precisar ingerir água da chuva ou sua própria urina, e comer peixes, tartarugas e aves, todos crus. “Levantava esperando patos, pássaros que viessem à minha lancha”, disse, acrescentando que passava os dias “sentado, vendo o céu, vendo o sol”.
Agora, Alvarenga – que é considerado o náufrago que sobreviveu no mar por mais tempo – é processado pela família do colega, que pede US$ 1 milhão (cerca de R$ 3,9 milhões) de indenização, de acordo com a emissora Fox News Latina.
Em sua defesa, o náufrago sobrevivente nega que tenha comido o corpo do colega e relata que jamais considerou a hipótese de se alimentar do corpo de Ezequiel, que havia feito dois pedidos na hipótese de sua morte: que Alvarenga não comesse seu corpo; e que ele contasse o que houve à sua mãe.
Alvarenga ainda acrescentou que Ezequiel sofreu uma convulsão e morreu com os olhos abertos, o que o levou a demorar a perceber que ele tinha morrido. Em seus delírios – comum a pessoas expostas a longos períodos sob o sol e ao balanço do mar – o sobrevivente disse ter conversado com o corpo do colega por seis dias, antes de perceber que ele estava morto, e enfim, jogar seu corpo ao mar, com uma camiseta vermelha.
Ricardo Cucalón, advogado de Alvarenga, criticou a iniciativa da família de Ezequiel, afirmando que suas motivações são apenas financeiras, além de não poderem provar as acusações. Segundo Cucalón, o interesse dos pais de Ezequiel está nos royalties recebidos pelo sobrevivente por conta da publicação de um livro com a história dos 14 meses ao mar.