Um pastor do Nepal foi preso e multado por conta de comentários sobre a pandemia de covid-19 que se tornaram virais nas redes sociais. Ele foi condenado a dois anos de prisão e o valor da multa equivale a US$ 166.
A condenação do pastor Keshav Archarya, da Abundant Harvest Church, ocorreu no último dia 30 de novembro. Ele foi sentenciado por descumprir a lei anticonversão do Nepal.
Segundo o portal UCA News, a multa aplicada no pastor foi de US$ 166, que na cotação atual representa R$ 922. O tempo de restrição de liberdade definido pelo tribunal nepalês foi de 2 anos.
A motivação para sua condenação traz indícios de perseguição religiosa, já que o processo foi aberto depois que um vídeo seu, orando para que a pandemia do novo coronavírus fosse encerrada e os doentes fossem curados, se tornou viral no país.
O pastor foi sentenciado em 30 de novembro a dois anos de prisão devido a postagens nas redes sociais no COVID-19. Archarya também foi multado em violação à lei anticonversão do Nepal.
“Ei, corona – vá e morra. Que todas as suas obras sejam destruídas pelo poder do Senhor Jesus. Eu te repreendo, corona, em nome do Senhor Jesus Cristo. Pelo poder ou governante desta Criação, eu o repreendo”, orou o pastor Acharya no vídeo.
“Pelo poder do nome do Senhor Jesus Cristo, corona, vá embora e morra”, enfatizou o pastor. Diante da repercussão, Archarya foi preso pela polícia distrital de Kaski sob acusação de transgredir a lei de conversão, que proíbe que os cidadãos encorajem outros a se converterem a novas religiões.
O pastor afirmou, em depoimento prestado depois de preso, que ele não foi o responsável pela publicação do vídeo. Ele passou um mês preso e foi solto somente depois de pagar fiança.
Entretanto, ele foi preso novamente, porém, sem mandado. A segunda prisão de Acharya aconteceu sob uma nova acusação de violação da lei anticonversão e de distribuição de folhetos cristãos na região de Dolpa, no Nepal.
O tribunal distrital de Dolpa então sentenciou Acharya com dois anos de prisão após considerá-lo culpado de proselitismo em 22 de novembro, segundo informações do portal Christianity Daily.
A constituição do Nepal foi alterada em 2015 para tratar sobre o proselitismo religioso, com o novo texto declarando que o país é uma democracia secular com herança de um reino hindu.
O Artigo 26 (3) da Constituição do Nepal pune legalmente qualquer pessoa que “deve se comportar, agir ou fazer outros agirem para perturbar a lei pública e ordenar a situação ou converter uma pessoa de uma religião para outra ou perturbar a religião de outras pessoas”.
Após as mudanças na Constituição do Nepal, o governo também alterou o Código Penal do país em 2018 para criminalizar a conversão religiosa de forma que aqueles que fossem considerados culpados, ou acusados de encorajar outros a se converterem a outra religião seriam condenados a no máximo cinco anos e multado em não mais de US$ 416 ou 50 mil rúpias.
A sentença do pastor Acharya, nesse contexto, foi considerada leve. Mesmo assim, muitos grupos de monitoramento da liberdade religiosa de cristãos condenaram a condenação do tribunal.
O gerente regional da International Christian Concern para o sul da Ásia, William Stark, levantou preocupações sobre a sentença, afirmando que essa foi a forma que autoridades locais encontraram para colocar atrás das grades um pastor cristão.
As autoridades locais, revelou Stark, são conhecidas por alvejar os cristãos e suas comunidades desde que a Constituição do Nepal foi emendada em 2015: “Por mais de um ano, as autoridades no distrito de Dopla pareciam empenhadas em condenar o pastor Acharya de algo e puni-lo por simplesmente ser um pastor cristão”, disse Stark.
“Hoje, os cristãos nepaleses viram novamente seus medos realizados. A abrangente lei anticonversão do Nepal deve ser revogada se a liberdade religiosa for realmente um direito a ser desfrutado pelos cidadãos do país”, concluiu.