O cantor Leonardo Gonçalves aderiu à “lógica” de Kleber Lucas para criticar a música O Nosso General é Cristo, composição assinada pelo pastor Adhemar de Campos que se tornou clássica na música cristã brasileira.
As lentes usadas pelos cristãos de esquerda para lerem a Bíblia e a fé cristã em si são as da ideologia oriunda do marxismo. Por esse motivo, Kleber Lucas vê racismo no hino 39 da Harpa Cristã (Alvo Mais Que a Neve) que fala sobre a purificação dos pecados no sacrifício de Jesus na cruz.
A letra de O Nosso General é Cristo guarda bastante proximidade com o capítulo 6 da carta do apóstolo Paulo aos Efésios, em que ele orienta os irmãos na fé a se fortalecerem e vestirem toda a armadura de Deus e o escudo da fé para enfrentarem os poderes das trevas.
“Depois de incontáveis ditaduras militares na América latina com uma penca de militares e até generais comprovadamente torturadores, em especial pra alguém, por exemplo, que foi torturado por um general, como você acha que soa cantar ‘o nosso general é Cristo’? Você pode chamar de militância, mas estamos falando de sensibilidade. E a fala original é do @prkleberlucas, um homem preto que cresceu na favela. Sua fala está marcada pela sua experiência. Você não consegue ter sensibilidade pra ouvir e refletir?”, escreveu Leonardo Gonçalves em sua conta no Twitter.
A redução de uma letra inspirada na mensagem bíblica a um gatilho emocional é um segundo passo para que a cultura do cancelamento seja legitimada no âmbito religioso. O primeiro alvo foram as passagens bíblicas que denunciam explicitamente o pecado, mas o apreço dos fiéis às Escrituras não permitiu que essa “lógica” antropocêntrica se estabelecesse.
Agora, as músicas são tratadas como inadequadas sob um olhar ideológico, e grandes artistas que antes eram reverenciados pelo enorme talento, passam a expressar um raciocínio que coloca o homem no centro de tudo.
A problematização dessa canção pelo artista adventista, que se engajou na militância de esquerda ao longo dos últimos anos e admite que está sofrendo rejeição do público evangélico por seus posicionamentos, é apenas mais um capítulo em seu distanciamento do segmento onde construiu sua carreira musical.
“Eu não represento o povo evangélico”, disse Leonardo em junho deste ano durante uma apresentação em uma igreja LGBT, definindo de forma muito objetiva seu posicionamento.