O padre José Fernandes de Oliveira, 76 anos, popularmente conhecido como Zezinho, é um dos pioneiros na música católica e considerado o mentor de todos os padres cantores brasileiros. Ele considera que os evangélicos “são muito bons de marketing“, e por isso a música gospel cresceu e conquistou tanto espaço.
Em uma entrevista à revista Veja, o padre Zezinho, autor de mais de 1.700 canções e 90 livros, deixou claro que sua visão sobre a capacidade dos evangélicos em divulgar as produções musicais não é pejorativa.
O sacerdote foi questionado se “a música católica está deixando a desejar com relação à evangélica”, e sua resposta frisou que há, da parte dos católicos, uma preocupação muito grande com a qualidade das composições.
“Não [está deixando a desejar]. Há autores excelentes entre os evangélicos, mas a música católica continua muito boa. Eu, por exemplo, continuo compondo com o mesmo cuidado”, afirmou o padre Zezinho.
“Escrevo canções cheias de conceitos da psicologia e sociologia, que celebram símbolos conhecidos por toda a humanidade. Falo muito de pão, água, vinho, velas, luzes, ventre, colo. São letras que trazem reflexões profundas a um povo pobre, de maneira acessível. O que acontece é que os evangélicos são muito bons de marketing“, acrescentou.
A atribuição do sucesso da música gospel a uma suposta habilidade de comunicação é, também, a razão pela qual as igrejas evangélicas vêm arrebanhando tantos fiéis católicos.
“O marketing deles é muito agressivo. Basta ligar a televisão e ver as garantias que eles dão, os milagres que prometem. Nós católicos também presenciamos milagres, só que não fazemos propaganda disso e a multidão que vai a Aparecida está aí para provar. Só que eu não saio gritando por todos os cantos, nem expulso demônios em público, muito menos uso o palco para me exibir”, pontuou.
“Na Igreja Católica, quando vejo alguém que se gaba desse poder, sugiro que o use nas UTIs de hospital. Os católicos tem o mérito de saber refletir. Para mim, a reflexão já é um grande milagre. Aliás, a ideia de o Brasil passar a ser um país evangélico não me assusta. Quem quiser ir embora, pode ir. Eu continuo tentando ser um bom padre católico”, concluiu.