Uma homenagem póstuma a uma mãe-de-santo na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) terminou em um ato de agravo às igrejas cristãs e na invocação de entidades por um dos convidados.
A cerimônia, proposta pelo deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), incluiu a entrega de uma condecoração aos filhos de Beatriz Moreira Costa, a Mãe Beata de Iemanjá. “Os 86 anos de vida e militância da líder religiosa foram celebrados ao som de atabaques, instrumentos típicos das religiões de matrizes africanas, durante a entrega da Medalha Tiradentes, mais alta condecoração concedida pela ALERJ”, diz o site da Casa.
Quando Freixo concedeu a palavra ao candomblecista Aderbal Moreira Costa, o que se viu foi um ato contraditório de defesa do Estado laico, acompanhado de uma pregação de censura às igrejas cristãs, manifestação política contra a família Bolsonaro e um grito de guerra esquerdista: “Fora Temer”.
Em meio a rezas em dialetos africanos ritualísticos, Costa protestou: “Que essa Casa aprenda com os povos originários o que é ética, o que é valor e o que é humanidade… Que essa Casa não permita mais que as igrejas se apossem do estado”, disse.
Ainda sob os aplausos das centenas de adeptos das religiões afro-brasileiras que acompanhavam a cerimônia, Costa acusou a sociedade de promover “o crime de racismo religioso, de homofobia, de lesbofobia”, e pediu que a ALERJ “não permita mais o genocídio do povo negro, não permita que essa família Bolsonaro tome conta do estado e continue a cometer crimes contra a humanidade”.
Ao receber de volta o microfone, Marcelo Freixo – derrotado pelo evangélico Marcelo Crivella (PRB) nas últimas eleições para a prefeitura do Rio de Janeiro (RJ), reforçou a manifestação política, sem se preocupar com a contradição de, sendo defensor de um conceito inflexível de laicidade, ter aplaudido um ritual de invocação de entidades do Candomblé.
“O dia mais bonito que já presenciei no Parlamento”, disse o deputado esquerdista, expondo um comportamento de oportunismo e revelando que a pregação de um Estado laico de seu partido é, na verdade, uma censura às religiões cristãs que se opõem à visão de sociedade comunista.
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