Uma cruz de madeira, construída há mais de trinta anos, está no centro de uma nova polêmica de intolerância religiosa envolvendo católicos e evangélicos.
A cruz em questão foi construída em 1984 em um morro da cidade de Taipas do Tocantins, cidade localizada no sudeste do estado nortenho, próxima à fronteira com Goiás.
Moradores da cidade acusam um pastor da cidade de Aparecida de Goiânia (GO) de ir à cidade, acompanhado de fiéis, e quebrar o monumento, considerado histórico por estar associado à construção da primeira igreja católica da cidade.
“Eu estava em casa. De lá, dá para ver o cruzeiro. No momento, um vizinho disse que tinha visto uma movimentação estranha. Olhei por meio de um binóculo e vi o que estava acontecendo”, disse Maria Dolores da Silva Sá, moradora de um bairro vizinho ao morro que abrigava a cruz.
Maria Dolores afirmou que quando viu o pastor e os fiéis evangélicos descendo o morro, foi ao seu encontro para questioná-los sobre o motivo de destruírem a cruz: “O pastor disse que nós não estávamos recebendo as bênçãos por causa dela. Eu cheguei a chorar. A gente ficava sentado no banco olhando para ela. O detalhe é que quem a colocou no morro já morreu, era membro da igreja”, relatou, em entrevista ao G1.
Quando terminou a conversa com o pastor, Maria Dolores se apressou em contar o fato aos fiéis que frequentam a mesma paróquia, e formou um grupo para ir ao morro e verificar o que tinha acontecido. Lá, encontraram a cruz sem um dos braços e jogada em uma vala.
Rosa Alves de Sá, uma das fiéis católicas ligadas à direção da paróquia, decidiu registrar um boletim de ocorrência. “Eles tentaram arrancar. Como não conseguiram, quebraram a base dela com um facão e jogaram numa vala”, lamentou.
A cruz, que tinha cerca de três metros de altura, originalmente foi instalada em frente ao templo católico, na época de sua construção. “O templo foi construído por meio de doações. Todo mundo se uniu para ajudar. Lembro que naquele ano meu marido resolveu construir a cruz para ser o marco histórico da construção da igreja católica na cidade. Ela foi fixada em frente ao templo”, relembrou Rosa.
Há cerca de 10 anos, a cruz foi removida para a construção de uma praça em frente ao templo, e para que ela não ficasse esquecida, os fiéis a fixaram em um dos morros da cidade: “A cruz ficou encostada. Para dar uma utilidade a ela, resolvemos fixá-la na altura do morro. Ela ficava visível, toda a população via”, explicou.
“Em alguns momentos íamos no morro para fazer momento de oração. Tem um significado, uma história”, disse o seminarista Marcos Teles Azevedo.
Um pastor da Assembleia de Deus Ministério do Seta em Taipas do Tocantins, Sebastião Dias da Silva, disse que não conhece o pastor que está sendo acusado: “Ele estava na cidade à convite de um membro da igreja, mas eu não o conheço. Fiquei sabendo depois, não sei quem o incentivou a fazer isso. Cada um tem seus dogmas e seu modo de pensar. Por mim, ela ficaria em cima da serra. Não atrapalha”, disse.
A Polícia Militar registrou o Boletim de Ocorrência e irá repassar o caso para a Polícia Civil, que investigará o caso de vandalismo.