As manifestações de pastores e lideranças religiosas sobre questões envolvendo a pandemia têm sido altamente patrulhadas pela grande mídia e redes sociais. Um pastor opinou sobre o uso de máscara ao andar na rua, se tornou alvo de críticas e precisou se defender resgatando uma orientação feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para Davi Godoy, que atua como pastor em Campo Grande (MS), o uso de máscara ao andar na rua, fora de aglomerações, é dispensável: “Não precisa andar na rua de máscara, não tem necessidade, o vírus não pega pelo ar. Ele só pega através de contato, saliva, ou contato manual, abraço, ou você colocar a mão em algum lugar onde uma pessoa contaminada colocou e depois você levar à boca”, disse o pastor em um vídeo.
“Se você estiver andando de máscara, esse ar que é para ser colocado para fora, que é o gás carbônico, você vai estar colocando ele de volta e isso vai te fazer mal”, acrescentou, pontuando um aspecto do uso desse equipamento de proteção individual que é muito questionado.
A repercussão da declaração de Godoy levou seu vídeo a ser tema de uma reportagem no telejornal MS1, da TV Morena, que entrevistou a infectologista Priscila Alexandrino. A especialista afirmou que a percepção do pastor sobre a máscara está incorreta: “É uma medida muito importante para a prevenção do novo coronavírus, porque protege as pessoas que estão usando a máscara que eliminem as secreções respiratórias, por conta da barreira física que a máscara representa”.
Alexandrino acrescentou que “se todas as pessoas usarem a máscara a chance de contaminação caí muito”, explicou.
A Sociedade Brasileira de Infectologia comentou o caso lembrando que há outro rumor compartilhado nas redes sociais que alega que o uso prolongado de máscara produz baixa oxigenação do organismo (hipóxia) por impedir a troca de oxigênio e dióxido de carbono do corpo com o ambiente.
“Essa é mais uma das inúmeras informações falsas que estão circulando sobre a pandemia. O uso da máscara não causa nem hipóxia nem intoxicação pelo dióxido de carbono”, garantiu o médico Leonardo Weissmann.
Depois de ver seu vídeo se tornar o centro de uma polêmica nas redes sociais, o pastor Davi Godoy voltou ao assunto dizendo que se expressou de maneira equivocada: “Em primeiro lugar eu queria dizer que eu sou totalmente a favor de todo equipamento de segurança conta a Covid, mas a própria OMS, em julho, já tinha publicado que fazer exercícios físicos, atividades nas ruas [com máscara] prejudica sim a saúde, é isso que eu quis dizer”, enfatizou.
Patrulha
Em maio, quando o cenário de contaminação pelo novo coronavírus estava em franca ascensão, outro pastor foi alvo de uma espécie de linchamento virtual por sugerir que as pessoas de sua rede de contatos fizessem um gargarejo como medida adicional de proteção contra a infecção.
A receita de gargarejo recomendada pelo pastor Waldeir de Oliveira levou veículos de imprensa a repercutirem o caso, tentando associar a sugestão a charlatanismo. O pastor assembleiano disse que misturava água morna com meio limão e uma colher de chá de bicarbonato de sódio para gargarejar. A mistura, supostamente, ajuda a limpar a garganta, e seria uma forma adicional de prevenção do coronavírus.
O portal G1 repercutiu o vídeo e ouviu o médico infectologista Evaldo Stanislau, que reprovou a receita dizendo que não há nenhuma pesquisa que comprove os benefícios: “É lamentável, com tanta informação já veiculada, inclusive essa fake news já desmentida em rede nacional, que uma pessoa que deveria ter responsabilidade divulgue algo assim”.
Paulo de Jesus, criminalista, também foi ouvido sobre a possibilidade de charlatanismo, mas negou que o pastor tenha cometido o crime, já que nem a comunidade médica tem um consenso sobre a doença e o vírus, além do fato de não ter sido prometida cura: “Ele não faz menção ou desencoraja o uso da máscara ou do álcool em gel e não fala que a pessoa deve deixar de usá-lo. Não vejo como um caso que seria levado à área penal […] O fato de anunciar por vídeo que algumas pessoas fazem isso não configura o crime. Ainda mais nessas circunstâncias que você falou, sobre não recomendar o descumprimento das medidas em detrimento do uso da água com limão”, avaliou.