Uma Igreja Batista no Canadá decidiu demitir seu pastor depois que ele revelou que, na verdade, é um transexual porque se considera uma mulher.
Junia Joplin revelou sua “identidade de gênero” durante um sermão que enfatizava a importância de dizer a verdade sem medo das consequências.
“Quero ser a pessoa que Deus me criou para ser”, disse o pastor – que até então se chamava Justin – no culto de domingo.
Um mês depois, 111 membros da Igreja Batista Lorne Park, em Mississauga, província de Ontário, no Canadá, realizaram uma votação para decidir o que fazer sobre a revelação, e o placar foi 58 a 53 para demiti-lo.
“Eu me revelei transgênero em junho e fui demitido em julho”, disse Joplin, que atuava como pastor da igreja há seis anos, de acordo com informações do jornal The New York Times.
A Igreja Batista de Lorne Park disse que a votação ocorreu após um mês de “discernimento e discussões em oração” entre o então reverendo transexual e a congregação: “A igreja atravessou no mês passado um processo de tentativa de discernir a vontade de Deus”, afirmou em comunicado.
“Foi determinado, por razões teológicas, que não é da vontade de Deus que Junia permaneça como nosso pastor”, sublinhou o texto.
Aos, 41 anos, cresceu em uma pequena cidade, Hudson, na Carolina do Norte (EUA) e regularmente frequentava cultos com sua família em uma igreja batista. Por volta dos 11 anos teve um pressentimento em um acampamento de verão que queria ser pastor, e antes de completar 13 anos fez seu primeiro sermão.
Mais tarde estudou em um seminário batista em Richmond, na Virgínia, se casou e teve dois filhos. Em 2014, assumiu a vaga de pastor na igreja canadense, e ao longo dos seis anos que atuou lá, se apresentou como homem.
“Comecei a explorar publicamente a apresentação de gênero feminino há cerca de dois anos, em uma ou duas ocasiões raras”, disse ele, que usava o cabelo longo, mas sempre preso.
Este ano, começou a pensar em admitir sua intenção de fazer a transição de gênero para a congregação, mas decidiu esperar passar a celebração do centenário da igreja em maio. No entanto, em março, a pandemia fez com que os cultos fossem realizados online.
“Até 14 de junho, eu era percebido como homem”, disse o transexual. “Eu estava me apresentando como homem, sendo chamado pelo meu nome de nascimento. Era eu que apresentava o homem da melhor maneira possível”, acrescentou o pastor numa entrevista.
Em seu sermão, sem saber como a congregação reagiria, Joplin organizou uma transmissão em separado, caso alguém tentasse interrompê-lo no meio de seu anúncio: “Eu não tinha certeza se eles me deixariam terminar o sermão. Foi difícil para mim ler minha congregação. Eu já preguei sermões defendendo a aceitação antes e obtive uma boa reação, mas eu só queria estar pronto se alguma coisa desse errado”.
“Quero que você me ouça quando digo que não devo ser apenas pastor: devo ser mulher. Oi amigos. Oi família. Meu nome é Junia. Você pode me chamar de June. Eu sou uma mulher trans e meu pronome é ‘ela’”, disse à congregação.
“Estou dizendo que quero ser a pessoa que Deus me criou para ser. Percebo, é claro, que posso estar correndo um risco tremendo aqui. É assustador, mas li em algum lugar que o amor lança fora o medo”, acrescentou, referenciando a Bíblia.
Joplin não pregou mais em sua então igreja após se posicionar como transexual. Foi informado que a congregação decidiu demiti-lo e agora aguarda igrejas progressistas adeptas da “teologia inclusiva” fazerem um convite.
No último domingo, 26 de julho, pregou na Igreja Batista St. Charles Avenue, em Nova Orleans, a convite da pastora Elizabeth Mangham Lott, que saiu de férias.
Para o pastor, ganhar notoriedade não é o foco: “Minha esperança em tudo isso não é procurar atenção, mas ser visível e deixar as pessoas verem que as pessoas de fé LGBTQ são seres humanos”, concluiu.