Às vésperas de uma nova eleição presidencial, o pastor Ricardo Gondim voltou a criticar a postura dos líderes evangélicos que se envolvem com a política, e afirmou que o crescimento desses casos tende a tornar o Brasil um país ainda mais antiético e insensato.
Gondim publicou o artigo “Deus nos livre de políticos evangélicos” e lembrou que, meses atrás, quando escreveu o artigo “Deus nos livre de um Brasil evangélico”, as críticas à sua perspectiva foram maciças: “Há algum tempo, preocupado com o ideario político do movimento evangélico, escrevi Deus nos livre de um Brasil evangélico . O texto, obviamente, suscitou opiniões diversas. Igrejas, envolvidas com o poder e tomadas por ambições messiânicas, chiaram. Crentes, fascinados com propostas messiânicas de transformar o Brasil em uma república cristã, reagiram com raiva”, relembrou Gondim.
No novo texto, o pastor da Igreja Betesda usou um artigo do professor Geoffrey R. Stone, que leciona Direito na Universidade de Chicago, como argumento para defender a ideia de que políticos evangélicos não refletem, no exercício de suas funções, os princípios cristãos.
“Stone se deparou com uma lista dos dez estados com maior índice de pessoas que se consideram religiosas na América. Com excessão de Utah, mórmon, todos os outros fazem o cinturão bíblico, o chamado ‘Bible belt’. Portanto, estados com predominância evangélica. Por ordem, são: Mississippi, Utah, Alabama, Louisiana, Arkansas, Carolina do Sul, Tennessee, Carolina do Norte, Georgia e Oklahoma. Stone pesquisou o que essa maciça presença evangélica significa nesses estados do sul. Sua descoberta estarrece: Nove dos dez estados mantiveram escolas racialmente segregadas até a decisão da Suprema Corte de aboli-las em 1954; Cinco dos dez estados continuam como os piores na insistência de manter segregação racial nas escolas públicas; Oito dos dez estados constam nas lista dos onze com maior população carcerária; Todos os dez estados têm pena de morte; Sete dos dez estão entre os dez com mais alta percentagem de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza”, enumerou o pastor.
A lista de constatações negativas continua, com a menção de que nove dos estados norte-americanos que formam o tal “cinturão bíblico” estão na lista dos 20 com maior número de fumantes. O pastor acrescentou que “Sete dos dez estados foram ranqueados entre os dez com a pior condição de saúde; Nove dos dez estados constam entre os treze piores na expectativa de vida; Sete dos dez estados têm os piores níveis nacionais na qualidade de serviço médico; Cinco dos dez estados são os únicos estados americanos sem leis de salário mínimo; Todos os dez participam das listas dos piores salários mínimos americanos; Nove desses dez estados estão na lista dos dezoito piores com gastos em educação pública; Nove dos estados foram inseridos na lista dos vinte piores no quesito qualidade da escola pública; Nove desses dez estados constam dos vinte piores nos índices de morte provocada por arma de fogo; e Cinco dos estados constam entre os dez em que mais cidadãos veem pornografia na internet”, listou Gondim.
Depois de enumerar fatores negativos relativos à realidade dos estados norte-americanos em que os evangélicos são maioria – e logo, tem mais políticos evangélicos – Gondim explicou o título de seu artigo: “No Brasil seria diferente? Acredito que o melhor dos mundos que políticos evangélicos moralistas prometem pode não acontecer. Pelo contrário, com o histórico já bem documentado da fragilidade ética dos líderes e com a falta de senso crítico dos seguidores, caso o avanço do neopentecostalismo continue e mais grandes empresas da fé comprem horário na televisão, o pior ainda está por vir. Infelizmente”.