Com a proximidade do primeiro turno das eleições, as lideranças cristãs têm compartilhado reflexões com o propósito de ajudar os fiéis a escolherem seus candidatos de acordo com valores princípios e valores que sejam condizentes com as raízes do Evangelho, e na ausência de total compatibilidade, escolher “o menos pior”.
Os pastores Heber de Campos Jr., da Igreja Presbiteriana de Limeira, e Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) deram orientações sobre como escolher o voto. Sem indicar candidatos, os líderes evangélicos destacaram a importância de saber a dimensão das escolhas.
Durante uma palestra na Igreja Batista de Parquelândia, em Fortaleza (CE), Campos Jr. falou sobre como escolher um candidato de forma sábia, e destacou que por mais que um candidato não seja cristão, é importante analisar as bandeiras que ele defende. “É como achar alguém para casar, você não encontra todas as qualidades, você acha algumas e as outras a gente roga a Deus que dê”, ilustrou.
Comentando uma exposição feita por uma espectadora da palestra, o pastor destacou que “muita gente” tem o sentimento de que numa eleição, “nós acabamos escolhendo o menos pior”, uma vez que, assim como na política, votar é a “arte do possível”.
“Quando a gente vê grandes bandeiras que são ruins, a gente tem todo o direito de dizer ‘eu não voto nesse cara’. Porque as grandes bandeiras que ele balança eu não concordo”, orientou.
Citando o livro Contra a Idolatria do Estado, do pastor Franklin Ferreira, Campos Jr. disse que o último capítulo ensina “como votar de forma consciente”, e que essa leitura pode ajudar a definir critérios de forma mais objetiva.
Consequências
Silas Malafaia abordou a mesma questão explorando o viés da consequência, dizendo que um voto mal escolhido pode ajudar a eleger quem tem bandeiras exatamente opostas às cristãs. Para tanto, o pastor explicou de forma resumida o sistema de quociente eleitoral, responsável por definir quem são os candidatos a deputados estaduais e federais que receberão o mandato das urnas.
“Você sabia que você pode votar em um irmão [na fé] e acabar elegendo um corrupto, um ímpio, um cara que é contra seus princípios? Eu vou te explicar”, introduziu o pastor.
“O voto de deputado estadual e federal é o voto da representação social. Os deputados são eleitos pelo quociente eleitoral, não é apenas pelo seu voto. É o conjunto de votos que o seu partido, ou a sua coligação tem, e onde ele está colocado”, explicou.
Um caso das eleições de 2014 que se encaixa nessa descrição é o do Cabo Daciolo (Patriota), que teve apenas 49,8 mil votos, mas foi eleito deputado federal por conta da ampla votação de outros dois candidatos do PSOL na ocasião, Chico Alencar e Jean Wyllys.
“Se você vota num irmão da igreja que não tem possibilidade nenhuma de ganhar, e você sabe, percebe [isso] – o cara vai ter mil votos, 500 votos, dois mil votos – ele vai ajudar a eleger um ímpio, mas ele não vai ser eleito”, contextualizou Malafaia.
“Eu queria pedir ao povo evangélico: hoje, em todo o Brasil, em todos os estados, nós temos gente que têm possibilidade de ser deputado federal e deputado estadual. Não jogue teu voto fora votando em irmão porque é teu amigo, ou é da tua igreja, mas não tem chance nenhuma de ganhar. Você vai acabar elegendo um ímpio que é contra seus valores”, pediu.
“Acorda, povo de Deus! O voto não é só da pessoa”, enfatizou o pastor. “Se a pessoa não tem condição de se eleger, o voto nele vai ajudar a eleger outro. O voto de deputado estadual e federal é onde vão se fazer as leis que vão governar o país e os estados. É muito importante, é inegociável esse voto. Não dê esse voto para ninguém que não tenha suas convicções”, insistiu.
Voto em branco
A grande insatisfação das pessoas em relação ao perfil dos candidatos a presidente e a governador leva muita gente a escolher uma opção legal, mas omissa: o voto em branco.
Nesse contexto, o pastor Campos Jr. admoestou os fiéis a trocarem a comodidade da omissão por uma escolha que seja minimamente condizente com princípios e valores éticos.
“Tem gente que diz: ‘Não voto em ninguém, a coisa mais crente que tem votar em branco’. Mas votar em branco é não participar desse dever”, explicou. “Votar é parecido com fazer votos. Uma vez meu pai me deu uma lição, ele falou sobre a importância de fazer votos. Lembro que eu falei: ‘Se fazer voto é algo tão sério, eu acho que não vou fazer’. Ele me disse: ‘Filho, não fazer votos é não querer compromisso’. Votar em branco não é a saída”, ressaltou, fazendo referência à passagem bíblica de Eclesiastes 5.
“Eu acho que a gente precisa procurar aquele que a maior bandeira [se assemelha com nossos princípios]. […] ‘Eu não volto nesse cara, as grandes bandeiras que ele balança eu não concordo’. Temos que escolher os nossos candidatos baseado em um entendimento daquilo que é a sua grande bandeira”, pontuou.
Ao final, o pastor enfatizou que essas bandeiras devem estar de acordo com a Palavra de Deus: “Quando você for pensar nas grandes bandeiras do seu candidato, lembre-se que elas não precisam ser somente de coisas que tocam em questões que as Escrituras falam, como casamento homossexual e aborto, porque essas a gente já sabe. Mas se o político fala de política internacional, administração, engenharia da cidade, essa também é uma ideia cristã”, finalizou.