O caso do adolescente que foi algemado a um poste no Rio de Janeiro por jovens que decidiram, por conta própria, perseguir assaltantes na zona sul da cidade tornou-se pano de fundo para severas críticas à jornalista Rachel Scheherazade, do SBT.
O rapaz que supostamente estava assaltando na noite do episódio foi preso a um poste e deixado nu no local, enquanto os “justiceiros” do bairro foram atrás de seus comparsas. A polícia confirmou que o adolescente já possuía três passagens por roubo.
Entidades de defesa dos Direitos Humanos criticaram a ação dos jovens que algemaram o adolescente ao poste. Porém, Rachel Scheherazade criticou a postura dos ativistas dos Direitos Humanos e sugeriu que estes fizessem “um favor ao Brasil” e adotassem “um bandido”.
“Num país que sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até compreensível […] O Estado é omisso, a polícia desmoralizada, a Justiça é falha… O que resta ao cidadão de bem, que ainda por cima foi desarmado? Se defender, é claro […] O contra-ataque aos bandidos é o que chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite”, disse Scheherazade.
O comentário da jornalista, de teor contundente, foi criticado alguns de seus colegas de profissão, que demonstraram acreditar que a questão da violência urbana e dos Direitos Humanos não seja tão simples.
“Até entendo, embora não concorde, que setores da população, indignados com a violência, apoiem gestos como o dos jovens que detiveram um suposto assaltante, o agrediram e o deixaram nu e preso com uma trava de bicicleta a um poste, no Flamengo, no Rio. Mas acho estranho que uma emissora de televisão divulgue uma mensagem tão agressiva de apoio a este gesto, como o comentário da jornalista Rachel Sheherazade no ‘SBT Brasil’ desta terça-feira (04) sobre ‘o marginalzinho amarrado ao poste’”, analisou Maurício Stycer, colunista do Uol sobre assuntos ligados à televisão.
Já Ricardo Alexandre, colunista do portal MSN, criticou veementemente a postura da jornalista, ilustrando sua opinião a partir de princípios adotados por segmentos cristãos, como os da teologia da libertação, na Igreja Católica, ou a teologia de missão integral, entre as igrejas protestantes, que apontam o “pecado estrutural” como causa das mazelas sociais.
“O conceito de pecado estrutural defende que, além dos pecados pessoais (roubar, matar, praticar a imoralidade, mentir etc.) há certo tipo de desvio da vontade de Deus que diz respeito à estrutura das coisas. Ao jeito que a sociedade se organiza, à forma com que o egoísmo, a violência e a maldade está entranhada na estrutura das nossas relações”, explicou Ricardo Alexandre.
Para o colunista, a jornalista demonstrou não levar em consideração que o adolescente que ficou preso ao poste é uma vítima da forma como a sociedade se organiza.
“Provavelmente, Rachel Sherazade, que se diz cristã, nunca ouviu falar em pecado estrutural. Não deve ter lhe ocorrido que ‘o marginalzinho’ nu em um poste é tão vítima da estrutura corrompida quanto aquele de quem roubou. O justiceiro, cuja atitude a jornalista chama de ‘compreensível’, também é vítima do pecado estrutural, assim como o infeliz que foi deixado amarrado com uma trava de bicicleta no Flamengo. Por isso, entre outros motivos, não devemos tomar a vingança em nossas mãos. Por isso não devemos estimular o ódio como paga pelo ódio. Por isso, a única saída é romper o ciclo de maldade, e não estimulá-lo”, concluiu.
Assista ao comentário de Rachel Scheherazade sobre o adolescente que foi preso a um poste no Rio de Janeiro:
Por Tiago Chagas, para o Gospel+