A escritora Marina Camargo César produziu um livro reportagem intitulado Entre a Cruz e o Arco-Íris, onde reproduz um vasto material coletado a partir de entrevistas feitas com dezenas de pessoas.
Entre os que foram ouvidos por Marina, que é editora do jornal Valor Econômico, estão desde líderes religiosos até leigos, adeptos das mais variadas tradições cristãs. Entre os que receberam solicitação para uma entrevista estão o pastor Silas Malafaia, tido como o líder evangélico com maior exposição midiática no Brasil atualmente.
O blogueiro e colunista do portal MSN, Ricardo Alexandre, publicou em sua coluna detalhes do making of do livro, que ele ajudou a editar e escreveu o prefácio: “Marília entrevistou dezenas de pessoas durante o período de reportagem, incluindo pastores e leigos de diversas tradições cristãs, das chamadas igrejas ‘inclusivas’ às mais tradicionais, no Brasil e no exterior, alguns inflexíveis diante da ortodoxia outros com casos de homossexualidade na própria família”, escreveu.
Sobre o convite feito a Malafaia e negado pelo mesmo, Alexandre diz que o pastor se recusou a participar alegando falta de tempo: “Por meio de sua assessoria, Malafaia primeiro disse que não poderia receber a jornalista, dada a agenda disputadíssima dele. Diante da insistência de Marília, o pastor disse que aceitaria responder apenas por e-mail. Claro que um encontro olhos-nos-olhos – como ele concederia logo depois a Sabrina Sato no Pânico na TV ou a Luciana Gimenez no Super Pop – sempre renderia mais ao leitor, mas era a opção que tínhamos, então concordamos”, revela.
Dentre as perguntas enviadas, quatro delas foram sugeridas pelo blogueiro, e referiam-se a comparações de padrões de comportamento e postura entre o próprio Jesus Cristo e outros líderes cristãos subsequentes a Ele, e Silas Malafaia. “Depois de receber e ler as perguntas, entretanto, Silas Malafaia disse que não teria tempo de responder. Foi uma pena”, lamentou Ricardo Alexandre.
Veja as perguntas enviadas a Silas Malafaia pela escritora Marina Camargo César e que o pastor não respondeu:
O teólogo Justino Mártir (100-165) dizia que uma das marcas da igreja cristã primitiva era o fato de os santos terem passado a “conviver com outros povos” com os quais antes não conviviam “por causa de seus costumes diferentes”. Ou seja, segundo ele, a mensagem de Jesus mudou sua maneira de relacionarem-se com os diferentes. O senhor enxerga esse mesmo espírito em seus discurso acerca dos ativistas homossexuais? Em caso negativo, como o senhor justifica essa aparente diferença de postura entre Justino Mártir e Silas Malafaia?
Pelo que entendo, boa parte do seu discurso contra a PL122 baseia-se no que ela fere dos direitos dos cristãos. Biblicamente, o cristão teria outro direito além de servir o próximo e ser, como diria Charles Spurgeon, “a bigorna do mundo”?
Os evangelhos mostram Jesus amoroso e misericordioso com os marginalizados e pecadores. O episódio da casa de Levi, por exemplo, mostra-o comendo e bebendo com prostitutas e alcoólatras. Os únicos registros da Bíblia de Jesus desqualificando e confrontando publicamente eram dirigidos aos líderes religiosos (“sepulcros caiados”, “raça de víboras”, “cegos que guiam cegos” etc.). O senhor, nos últimos anos, tem feito aparições públicas ao lado de líderes religiosos muito controvertidos no meio protestante, alguns com complicações até na justiça comum (Sônia e Estevam Hernandes, Morris Cerullo). Por outro lado, em seu debate sobre homossexualidade, já chamou ativistas gays de “parasitas”, uma premiada jornalista de “vagabunda”, políticos de “idiota”, “frouxo” e “bandido”. Como o senhor harmoniza esses comportamentos aparentemente opostos entre Jesus Cristo e um de seus representantes brasileiros mais expostos na mídia?
O apóstolo Paulo, em Romanos 1, afirma que a homossexualidade é decorrência do fato de os homens não terem rendido graças devidas a Deus e terem, como efeito, glorificado a imagens feitas à semelhança do homem. Gostaria de fazer duas perguntas ao senhor: a) digamos que os cristãos consigam proibir legalmente não apenas o casamento, mas toda relação ou manifestação homossexual em todos os países do mundo. O senhor acha que isso reverteria em glória para Deus? b) o senhor afirmaria que a sua luta contra o comportamento homossexual equipara-se em tempo e energia à sua luta contra outras “disposições mentais reprováveis” citadas por Paulo no texto, como a ganância, a injustiça, a rivalidade e a arrogância? Em caso negativo, porque a preferência por um assunto que, se entendo bem, é apenas uma entre várias manifestações de um mal maior (o rompimento do homem com Deus)?
Por Tiago Chagas, para o Gospel+