O desenrolar das investigações do assassinato do pastor Anderson do Carmo vem trazendo pontos questionáveis da conduta da Polícia Civil no caso, na visão de um perito criminal oficial do estado do Rio de Janeiro. Enquanto isso, um dos advogados de defesa desconfia que a arma encontrada na casa da família pode ter sido plantada.
O dr. Edilson Francioni, perito oficial e consultor processual, gravou um vídeo apontando detalhes relacionados à atuação da Polícia Civil no caso. Ele questionou a conduta da delegada Bárbara Lomba, que tem divulgado detalhes da investigação para a imprensa, assim como outros agentes, o que seria proibido por uma lei estadual.
Francioni foi além e questionou também as informações adiantadas pelo governador Wilson Witzel (PSC) que, um dia após o crime falou à imprensa sobre os rumos da investigação.
Entretanto, o principal ponto de questionamento feito por Francioni envolve a arma encontrada na casa de Flordelis, que está sendo apresentada pela Polícia como de propriedade de Flávio dos Santos, apontado como autor dos disparos, mas que teria negado aos advogados ter feito qualquer confissão.
“A Polícia precisa ter muita responsabilidade com as provas. […] Essas notícias de um exame preliminar de um confronto balístico realizado na divisão de homicídios são muito estranhas. Não existe confronto balístico preliminar. Eu nunca ouvi dizer que se fizesse exame de confronto balístico em qualquer instalação da perícia do Rio de Janeiro além do serviço de perícia de armas de fogo”, apontou Francioni, acrescentando que as divisões de homicídio do RJ não possuem o micro-comparador balístico, equipamento caríssimo necessário à realização desse procedimento.
“Houve confronto balístico na divisão de homicídios? Se houve, com que comparador? Onde a divisão de homicídios arranjou um micro-comparador balístico que nem os órgãos oficiais de perícia tem?”, questionou. “E os peritos? Eles foram treinados para isso ou será que teriam feito afirmações falsas como meio de fazer pressão psicológica com os indiciados?”, insistiu.
O perito ainda avaliou que a defesa do acusado pode usar todos os erros que ele aponta como forma de alegar que a arma não era sua, já que foi manipulada por muitas pessoas, ou mesmo declarar que não tinha arma na casa, podendo ser inocentado das acusações.
Prova plantada
Essa última possibilidade apontada pelo dr. Edilson Francioni foi aventada pelo advogado que integra a equipe de defesa de Flávio dos Santos. Maurício Eduardo Mayr disse que a arma só foi encontrada na segunda busca realizada na residência e que ninguém da família acompanhou os agentes, o que na sua visão, levanta a suspeita de que a prova teria sido plantada.
“Essa questão da arma está sendo apurada de como chegou ao local. A polícia fez duas buscas e apreensões, antes no local, e não encontraram arma. Os policias são pessoas muito investigativas e perspicaz e teriam achado essa arma num primeiro momento. Não acharam o celular, mas acharam a arma dois dias depois. Pode ter sido plantada? Pode. Podia estar lá e eles não terem achado? Podia. Mas, a busca e apreensão não foi acompanhada por ninguém da família. O que eu ouvi dos irmãos do Flávio é que eles esvaziaram a casa e ninguém da família acompanhou”, disse o advogado.
“A arma estava em local de fácil acesso. A arma teria sido plantada por alguém em interesse a morte do pastor. Houve uma romaria na casa e durante as buscas, varias pessoas — inclusive os policias — poderiam ter guardada [a arma]”, acrescentou Mayr, de acordo com informações do jornal O Dia.
Seguindo a mesma linha dos questionamentos feitos pelo perito Francioni, o advogado recapitula fatos que foram noticiados na imprensa, inclusive com imagens: “Um policial aparece na gravação segurando a arma sem luvas e depois repassa para o outro que estava sem proteção. E depois um perito manuseia a arma também sem luvas. Afinal, quantas digitais tem essa arma?”.
Assim como o advogado Anderson Rollemberg, que compõe a equipe que defende Flávio, Mayr também revelou à imprensa que até o momento a Polícia Civil não concedeu acesso ao inquérito, e que o filho biológico de Flordelis está sendo mantido em condições inadequadas: “Falei com o Flavio e ele está debilitado, mal alimentado, não tem banho de sol. Isso não cabe dizer se ele é inocente ou não. Só queremos que ele seja transferido, pois ele não está sendo bem tratado. Os cachorros da delegacia estão mais bem tratados que o meu cliente”, criticou.
A defesa também questiona a alegada confissão do crime: “Eu conversei com o Flávio sobre o caso mas não perguntei sobre a arma e o celular. Só fiz questões técnicas como a confissão. Não sabemos se a confissão foi à base de remédio, já que ele foi atendido varias vezes aqui na delegacia. Queremos saber como foi prestada essa pseudo-confissão, se foi a base de remédios, que horas foi”, explicou.
Uma nova busca foi realizada na casa de Flordelis, enquanto ela concedia entrevista coletiva na última terça-feira, 25 de junho. “Ontem, fizeram buscas e apreensões na casa dela para recolher celulares e outros objetos. No momento que os filhos prestavam depoimento [na segunda-feira, 24], um filho entregou o celular. Não sabemos se essa ida ao carro foi munido de mandado ou não. Rechaçamos isso”, concluiu Maurício Eduardo Mayr.