A deputada Érika Kokay (PT-DF), uma das parlamentares de esquerda com posicionamento mais radical em oposição aos evangélicos, protagonizou um momento de ironia durante o depoimento da ministra Damares Alves na Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados.
Damares compareceu à comissão na última quarta-feira, 10 de abril, para prestar esclarecimentos sobre o funcionamento de 12 conselhos, comitês e comissão ligados ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.
De acordo com informações do portal Poder 360, a deputada petista fez críticas à atuação de Damares Alves e questionou detalhes do funcionamento do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), que é a instância máxima de debate, criação e controle de políticas públicas voltadas à infância e adolescência.
“Como é possível, ministra, que nós não tenhamos em pleno funcionamento um órgão como o Conanda? Porque nem todas as meninas vítimas de violência podem ser salvas por um Jesus na goiabeira, nós precisamos de políticas públicas”, ironizou Érika Kokay.
A menção ao episódio da goiabeira foi uma referência ao relato de Damares Alves, anos atrás, sobre os abusos sexuais que sofreu na infância, e da experiência sobrenatural vivida pela ministra, ao ter uma visão de Jesus momentos antes de tentar o suicídio.
A fala desrespeitosa da deputada petista levou a ministra às lágrimas, e outros deputados presentes à sessão fizeram questão de enaltecer a força de Damares Alves para suportar e vencer o momento de dificuldade ainda na infância. Diversos parlamentares usaram o termo “guerreira” para se referir a ela.
Quando teve oportunidade de responder à fala de Érika Kokay, Damares Alves pontuou que não esperava ouvir uma ironia da deputada em um assunto tão delicado, e afirmou que o Conanda está em funcionamento, e que “atrasou em questão dias” as reuniões do grupo de trabalho.
“Eu não posso me omitir, eu não posso me silenciar, Jesus realmente apareceu no pé de goiaba pra mim. E a forma como a senhora falou em um primeiro momento machucou muito essa ministra. Eu senti que a senhora falou de uma forma irônica, a senhora zombou, mas a senhora não zombou somente de uma menina, zombou de milhares de meninas do Brasil. Quem passou pelo calvário que eu passei sabe o que é sentar no colo de um abusador. E eu esperava, deputada, de todo mundo, menos da senhora, que é uma psicóloga”, rebateu Damares Alves.
Kokay, então, desconversou, respondendo que fez menção ao episódio da goiabeira para expressar seu posicionamento contra a assistência religiosa como único apoio a quem sofre violência sexual: “Eu me solidarizo com a sua dor e com a de milhares de crianças, mas digo que, [além da] assistência religiosa –ainda que seja fundamental, pois eu não duvido que a senhora tenha encontrado a sua salvação–, é preciso ter um plano de enfrentamento à violência sexual que atinge as crianças, um plano que contemple todas as políticas públicas”, finalizou a deputada.