Tratar da relação entre fé e saúde mental é algo que a psicóloga cristã Marisa Lobo considera de extrema importância. Após ministrar em um evento que, segundo ela, reuniu 300 jovens em um retiro, a especialista concedeu uma entrevista exclusiva ao GospelMais, onde aproveitou para de fazer um alerta à Igreja de Cristo.
Autora do livro Famílias em Perigo e Ideologia de Gênero na Educação, Marisa Lobo tem publicado artigos endossando o que outras figuras públicas, como o jornalista Rodrigo Constantino, vem apontando como objeto de grande preocupação, que é o estado emocional da juventude atual.
Na entrevista, a especialista concorda com uma declaração recente de Constantino, feita em um artigo para a revista Oeste, onde o mesmo apontou que alguns dos principais pilares da sociedade, como “família estruturada (segurança do lar), sensação de pertencimento (patriotismo) e religião (senso moral)” estão sendo atacados. Leia a íntegra, abaixo:
Estamos no Setembro Amarelo, e gostaríamos de saber o que tem observado com relação ao papel da Igreja na lida com os transtornos emocionais.
Historicamente, a Igreja sempre foi uma importante aliada na prevenção e cuidados em saúde mental, pois sempre buscou ter um olhar humanizado sobre o doente, uma vez que o sofrimento emocional é real e pode ser tão degradante quanto qualquer doença.
Quando falamos de ideação suicida, por exemplo, o incentivo à fé como ferramenta de superação dos problemas tem sido um recurso valiosíssimo, e acredito que o ataque à religião, promovido nas últimas décadas por alguns setores, só fez prejudicar os que realmente promovem a saúde.
Em matéria de inclusão, acolhimento e suporte ao doente e suas famílias, não há dúvida de que a Igreja, enquanto comunidade, é a nossa maior aliada.
Então, é possível dizer que a Igreja vem conseguindo superar os preconceitos com relação às desordens psicológicas, não espiritualizando tudo o que vê pela frente?
Ainda precisamos melhorar nesses aspectos, como no que envolve a compreensão científica dos transtornos mentais e emocionais. Não é fácil porque nós, como cristãos, cremos no mundo espiritual e sabemos como isso também exerce influência sobre nós.
Em todo caso, também acredito estamos conseguindo distinguir melhor as coisas, reconhecendo os reais problemas de ordem psicológica, mesmo quando associados a algo que desconhecemos. Ou seja, a fatores popularmente atribuídos ao sobrenatural. Nesse sentido, a contribuição da Igreja tem sido muito mais positiva e vem evoluindo com o tempo.
Com relação aos jovens, existe alguma demanda que podemos considerar o seu cuidado uma questão de urgência?
Com base nas viagens que faço pelo Brasil e até fora, ministrando, falando sobre família, saúde mental, educação, depressão e outros temas relacionados, posso dizer que é urgente cuidarmos da formação de identidade dos jovens, porque, a geração atual é uma geração cuja identidade tem sido fortemente atacada.
Temos crianças crescendo sem saber, por exemplo, se são meninos ou meninas, porque estão sendo induzidas por narrativas que negam a realidade biológica dos sexos em detrimento de uma ideologia. O mesmo podemos dizer com relação aos pilares morais, historicamente ligados à valorização da família e da fé em Deus.
Tudo isso tem a ver com formação de identidade, e é por isso que a sua desconstrução significa uma grande ameaça aos jovens, pois impacta diretamente na maneira como eles se enxergam e se situam no mundo, consequentemente em todo o seu emocional.
Em relação aos pastores, muito se noticia sobre casos de suicídio resultantes de doenças emocionais. Há, entre os líderes, alguma sinalização de agir em relação ao cuidado da saúde mental de maneira preventiva?
Tenho visto muitos pastores preocupados. Alguns estão se mobilizando, criando grupos de apoio, onde uns pastoreiam os outros, o que é muito bom, porque grande parte dos problemas emocionais ligados ao líder religioso está no “peso” da responsabilidade pela função de liderança, e também na solidão ministerial.
Já temos estatísticas apontando que a maioria dos pastores se sentem solitários, ministerialmente falando. Ou seja, eles cuidam, mas não são cuidados, o que é um grande problema, porque faz parecer que o líder é imune ao adoecimento emocional, o que é falso.
Daí surge a importância da mutualidade e do reconhecimento de que ninguém deve caminhar sozinho.
O modelo bíblico de família, como sabemos, tem sido muito atacado pelo liberalismo ideológico. Como psicóloga cristã, você considera que esses ataques podem estar contribuindo para o adoecimento emocional da juventude?
Sem dúvida, porque na família que a criança dá início à formação de valores. O mundo da criança é interpretado, primeiramente, através da sua relação com a família. Por isso, a estrutura emocional que o jovem carrega ao longo da vida é fruto, em grande parte, da sua experiência familiar.
Não é por acaso que, segundo as estatísticas, a maioria dos jovens detentos vem de famílias desestruturadas. Os ataques liberais à família, portanto, especialmente à figura de autoridade paterna, representam um ataque à base de formação moral e, consequentemente, comportamental dos jovens.
Quais recomendações você daria aos líderes, convenções e entidades religiosas, em geral, no tocante aos cuidados em saúde mental?
Invistam pesado no assunto, por exemplo, promovendo seminários, cursos, palestras e demais atividades sobre o tema. Obviamente, isso não precisa estar dissociado de tudo o que cremos no âmbito religioso. Muito pelo contrário!
Como cristãos, a fé em Deus é o nosso maior alicerce, assim como o ponto de partida pelo qual interpretamos o mundo. Porém, isso não significa que não devamos compreender como este mundo, no caso a ciência, entende a saúde mental. Fazendo isso, teremos uma visão ampliada, mais precisa, obtendo melhores condições de acertar mais, e errar menos.