A rebelião de pastores contra a Igreja Universal do Reino de Deus em Angola continua repercutindo, e um porta-voz do movimento reitera acusações de racismo e evasão de divisas, além de apontar a figura do bispo Honorilton Gonçalves como o principal fator de insatisfação entre as lideranças angolanas.
Ao todo, a Igreja Universal possui 220 filiais no país africano, sendo que atualmente 110 estão sob o controle dos 320 pastores rebeldes à instituição. O obreiro Dinis Bruno, um dos integrantes do movimento que se valeu até de violência na tomada dos templos, concedeu uma entrevista em que reiterou acusações antigas, como a exigência de vasectomia para ser parte do quadro de pastores.
A revista Veja questionou o motivo do rompimento do grupo rebelde com a instituição fundada pelo bispo Edir Macedo: “São muitas razões, que vão desde recebermos metade do salário pago aos religiosos nascidos no Brasil até não ter acesso às casas dos condomínios da igreja. Mas há coisas mais graves. O Honorilton Gonçalves exige a castração de pastores, a vasectomia como forma de todos viverem exclusivamente para a Universal. Para ele, tem de aguentar tudo calado”.
Em seguida, ele se refere ao bispo Honorilton Gonçalves – que lidera a instituição no país – como um “psicopata”, acusando-o de agir intransigentemente: “Não aceita diálogo. Ele tentou aqui em Angola fazer o mesmo script de Moçambique: escorraçar pastores que mostraram posição contrária a ele. Ele mandou arrombar a casa do bispo Bezerra Valente Luiz, que era o número dois da Universal em Angola e agora lidera o movimento”, explicou.
“Desde que iniciamos as reivindicações no ano passado, o Honorilton passou a vender casas, condomínios e terrenos da Universal. Por que acabar com o patrimônio da igreja? Há também o problema da evasão de divisas. Só no ano passado, foram enviados ao Brasil 100 milhões de dólares sem declaração alguma ou registro”, acusou Bruno.
Segundo o obreiro a Universal ainda “arrecada mais” junto aos fiéis angolanos, e parte é destinada à manutenção do estilo de vida da liderança: “Tem pastores que compram casas, condomínios, carros… Ou seja, essa quantia poderia ser maior e nem tudo vai para o Brasil. Hoje, estamos com o controle de metade das 220 igrejas de Angola. No país, há meio milhão de fiéis. Mais pastores devem vir para o nosso lado”, contextualizou.
Sobre o líder da instituição, bispo Edir Macedo, o obreiro angolano afirmou que é “claro” que o fundador sabe da conduta de seu homem de confiança, e acrescentou acusações: “O Edir disse ao Honorilton para não ceder à pressão e que o povo angolano é corrupto. Eles chegam aqui, são racistas e desfazem da gente — e ainda temos de escutar esse tipo de coisa. As intenções obscuras vão muito além da realidade da fé”.