Um grande número de templos da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola foi tomado por pastores e bispos do país, num movimento de rebelião contra a direção da instituição no Brasil. Sacerdotes de nacionalidade brasileira também foram expulsos dos templos e devem deixar o país.
O episódio de rebelião tem como líder o bispo Valente Bezerra Luiz, que era vice-presidente da Universal até então. Ele e demais pastores acusam os sacerdotes brasileiros de racismo, discriminação social e evasão de divisas, configurada, segundo eles, pelo envio de dízimos e ofertas dos fiéis para a matriz, no Brasil.
Chamada de comissão de reforma da IURD, o movimento agora controla cerca de 30 templos no país, principalmente na capital Luanda. A instituição deverá ser chamada de Igreja Universal de Angola.
“A igreja vem desenvolvendo há muito tempo e a ganancia dos expatriados brasileiros foi se avolumando, razão pela qual tomamos a decisão da ruptura do convênio com a gestão brasileira”, explicou Nilton Ribeiro, porta-voz dos pastores angolanos.
“Crimes como o racismo, discriminação social, abuso de autoridade, faltas de respeito, humilhações públicas e evasão de divisas para o exterior e evasão ilícita de capital, são alguns problemas que podemos evocar”, denunciou Ribeiro, de acordo com informações do portal AngoNotícias.
De acordo com o porta-voz, não há possibilidade de negociação com a direção da Igreja Universal “porque foi lhes dada a oportunidade em novembro do ano passado”: “Tomamos seis províncias do país, Luanda, Benguela, Huambo Malanje, Cuanza Sul e Namibe”, acrescentou Ribeiro.
A Igreja Universal do Reino de Deus vem enfrentando dificuldades no país há anos, e em janeiro deste ano, surgiu no horizonte a hipótese de a instituição ser expulsa pelas autoridades.
Na ocasião, o diretor do Instituto Nacional para Assuntos Religiosos (INAR), Francisco Castro Maria, declarou que havia a possibilidade de as atividades fossem encerradas caso as denúncias apresentadas contra membros terminassem comprovadas pelas autoridades.
Versão da Universal
Em sua defesa, a Igreja Universal do Reino de Deus afirmou que o grupo rebelde agiu de forma “orquestrada e violenta”, com “pastores, esposas de pastores e funcionários” sendo agredidos: “Alguns ficaram feridos e precisaram receber atendimento médico. Todos passam bem”, garantiu a assessoria de imprensa.
“Os autores dos ataques pertencem a ‘um grupo de ex-pastores desvinculados da Instituição por práticas e desvio de condutas morais e, em alguns casos, criminosas e contrárias aos princípios cristãos exigidos de um ministro de culto’. Para confundir a sociedade angolana, os invasores espalharam mentiras absurdas, como, por exemplo, uma acusação de ‘racismo’. A verdade é que esses dissidentes têm promovido ataques xenófobos — esses sim, racistas — contra a Universal e seu corpo eclesiástico. Xenofobia é o sentimento de ódio contra estrangeiros”, acrescenta a nota.
Sobre a alegada prática de racismo, a Universal pontua que “em Angola, dos 512 pastores, 419 são angolanos, 24 são moçambicanos e quatro vieram de São Tomé e Príncipe”, o que formaria um quadro de 87% de sacerdotes africanos no país.
“Outra mentira espalhada por esse grupo é a suposta obrigatoriedade de pastores serem submetidos a cirurgia de vasectomia. Trata-se de fake news facilmente desmentida pelo fato de que muitos bispos e pastores da Universal, em todos os níveis de hierarquia da Igreja, têm filhos. O que a Instituição estimula é o planejamento familiar, debatido de forma responsável por cada casal”, enfatiza o comunicado.
“O que se espera agora, é que as autoridades restabeleçam, com urgência, a ordem legal e possam assegurar que a Universal continue salvando vidas e prestando ajuda humanitária em Angola, como faz há 28 anos”, finaliza.