A prisão do bispo Marcelo Crivella (Republicanos) e seu afastamento das funções de prefeito da capital fluminense no caso do “QG da Propina” chacoalhou a política na última terça-feira, 22 de dezembro, e segundo o Ministério Público, foi embasada em uma delação premiada de um doleiro.
Ao todo, as investigações sobre o chamado “QG da Propina” – uma sala na sede da prefeitura do Rio de Janeiro que seria usada por um empresário aliado de Crivella – teria arrecadado ao longo dos quatro anos do mandato um valor aproximado de R$ 50 milhões.
“A organização criminosa arrecadou dos empresários pelo menos R$ 50 milhões, foi o que conseguimos apurar. Agora, quanto foi para cada um, aí realmente é algo que não temos essa previsão”, disse o subprocurador-geral Ricardo Ribeiro Martins.
O modus operandi do esquema de corrupção envolvia a cobrança de propina a empresas prestadoras de serviço à prefeitura, que não tinha recursos para saldar todas as dívidas.
De acordo com a investigação, o “QG da Propina” cobrava valores dos empresários para definir que receberia pagamentos pelos serviços prestados, e quem ficaria sem receber.
“Apesar de toda a situação de penúria [da Prefeitura], que não tem dinheiro nem para o pagamento do 13° [salário], muitos pagamentos eram feitos em razão por conta da propina”, disse Martins.
Corrupção na crise
O promotor Carlos Eugênio Greco detalhou a origem do esquema, ainda no primeiro ano do mandato de Marcelo Crivella: “A partir de 2017, especialmente em 2018, a Prefeitura do Rio enfrentou uma crise muito aguda, que foi lida como ‘oportunidade’ de receber valores espúrios. A partir do momento em que tinha, supondo, R$ 100 milhões pra pagar e só R$ 70 milhões no caixa, criava-se a necessidade de escolher quem pagar”.
“Empresários que faziam serviços não essenciais recebiam os pagamentos mesmo nos momentos de crise e isso acontecia justamente por conta do pagamento de propina”, acrescentou Greco.
Conforme informações do portal G1, o subprocurador-geral Ricardo Ribeiro Martins acredita que, mesmo com o fim do mandato, a “organização criminosa não se esgotaria”, pois “até os 45 do segundo tempo vieram aos autos elementos de prova necessários para a denúncia”.
“A escolha da data não depende da gente, a investigação tem vontade própria. Tivemos uma delação homologada há uma semana. O timing foi esse por ser o tempo da investigação”, acrescentou, referindo-se à determinação da prisão a nove dias do fim do mandato de Crivella.
Com a prisão e afastamento da função de prefeito, determinado pela desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita, quem assume as funções é o presidente da Câmara dos Vereadores, Jorge Felippe (DEM), já que o vice-prefeito eleito em 2016, Fernando Mac Dowell, morreu em maio de 2018.
Presídio
O bispo da Igreja Universal do Reino de Deus chegou a ser transferido para o presídio de Benfica, na zona norte, no final da tarde de ontem, 22 de dezembro.
De lá, a Secretaria de Administração Penitenciária definiria os presídios para onde eles seriam levados para o cumprimento da prisão preventiva, mas à noite, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) substituiu a prisão preventiva do prefeito afastado por prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica.