O senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) está sendo acusado de praticar rachadinha com funcionários de seu gabinete em Brasília (DF) e um pedido de investigação ao Supremo Tribunal Federal (STF) foi apresentado.
Alcolumbre, que preside a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), vem postergando o agendamento da sabatina do pastor André Mendonça, jurista indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para a vaga aberta no STF após aposentadoria de Marco Aurélio Mello.
A aliados políticos, Alcolumbre chegou a dizer que pretendia segurar a sabatina até 2023, quando novos senadores assumirão mandato e há a possibilidade de que um novo presidente da República esteja no cargo, caso Bolsonaro decida não tentar a reeleição ou seja derrotado nas urnas.
A atual denúncia surgiu a partir de uma reportagem da revista Veja, que localizou seis mulheres da periferia de Brasília, Marina, Lilian, Erica, Larissa, Jessyca e Adriana, desempregadas, mas lotadas no gabinete de Alcolumbre com salários entre R$ 4 e 14 mil.
Depois de admitidas, elas alegam terem aberto uma conta num banco e entregaram cartões e senhas a uma pessoa de confiança do senador, e em troca da rachadinha recebiam uma gratificação, muito inferior ao valor pago pelo Senado a título de remuneração pelos cargos supostamente exercidos por auxiliares.
Ao todo, a fraude teria desviado R$ 2 milhões ao longo dos últimos cinco anos, entre janeiro de 2016 e março deste ano. O regimento do Senado estipula R$ 280 mil de verba para o gabinete dos parlamentares custearem auxiliares.
“O senador me disse assim: ‘Eu te ajudo e você me ajuda’. Estava desempregada. Meu salário era mais de 14 mil, mas topei receber apenas 1 350 reais. A única orientação era para que eu não dissesse para ninguém que tinha sido contratada no Senado”, disse Marina Ramos Brito dos Santos, 33 anos, diarista.
“Meu salário era acima dos 14 mil reais, mas eu só recebia 900 reais. Eles ficavam até com a gratificação natalina. Na época, eu precisava muito desse dinheiro. Hoje tenho vergonha disso”, declarou Erica Almeida Castro, 31 anos, estudante.
“Eles pegaram meu cartão do banco e a senha. Uma pessoa sacava o dinheiro e dava minha parte na mão. Cheguei a ter um salário de 11 mil reais, mas recebia apenas 800 por mês”, afirmou Lilian Alves Pereira Braga, 29 anos, dona de casa.
‘Deus o livre’
Questionado sobre as acusações de rachadinha, Alcolumbre negou a prática criminosa: “Chance zero. Deus o livre!”, disse o senador, pouco antes de notar o equívoco no uso da expressão popular: “Deus me livre!, Deus me livre!”.
Enquanto isso, um colega de Senado, Alessandro Vieira (Cidadania-SE) apresentou ao STF uma notícia-crime pedindo a apuração das acusações: “Não se pretende – repise-se – atribuir sumariamente culpa ao senador Davi Alcolumbre, mas apenas levar ao conhecimento desta Corte fatos que, se vierem a ser reputados verdadeiros, merecem a devida e ulterior responsabilização”, escreveu.