Ao longo dos anos 1970 e 1980, a TV Globo implantou um método de produção que passou a influenciar a cultura nacional e mudar paradigmas. Agora, a Record TV pretende repetir esse plano para incutir valores conservadores e princípios evangélicos na sociedade.
A iniciativa estaria partindo da filha do bispo Edir Macedo, o dono da Record TV. Cristiane Cardoso, escritora e esposa do bispo Renato Cardoso – nome visto como o substituto do fundador da Igreja Universal do Reino de Deus – é quem tem delineado os rumos das novelas na emissora.
Entre os principais diretores da Record TV, há consenso sobre a oportunidade de usar as novelas para impulsionar a formação de uma “nação cristã” de fato no Brasil.
As tramas, que não seriam necessariamente bíblicas, teriam como propósito incutir valores que foram abandonados ao longo das décadas de influência da TV Globo sobre a sociedade.
Mudanças
A emissora do bispo Edir Macedo já anunciou que não renovará os contratos dos roteiristas que atualmente escrevem suas “novelas bíblicas”, pois são profissionais que não praticam a fé pregada pela Universal, de acordo com informações do portal Na Telinha.
Cristiane Cardoso entende que apenas um evangélico pode expressar suas convicções e valores de forma que não pareça artificial ou didático em excesso. Sendo assim, os novos roteiristas da Record TV devem ser evangélicos, para que as próximas novelas contemporâneas tenham personagens cristãos coerentes com os ensinamentos bíblicos.
O jornalista Daniel César informou que as novelas da emissora mostrarão “temas que são caros aos evangélicos”, e marcará posição: “Não ficará em cima do muro nem permitirá pensamentos distintos dentro da novela”.
Desde temas como ideologia de gênero até liberação das drogas, todos os assuntos que permeiam a sociedade serão retratados nas novelas da Record TV sob o ponto de vista evangélico. Ainda segundo César, “a ordem de Cristiane é clara: criar roteiros em que esses temas sejam mostrados, não debatidos”.
Boni
A Record TV teria admitido que o modelo criado por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, foi eficaz na mudança da cultura brasileira.
Criador do chamado “padrão Globo de qualidade”, o diretor de televisão enxergou que as novelas poderiam incutir pensamentos que não faziam parte da sociedade brasileira, estratégia usada até hoje pela emissora da família Marinho.
“É isso que a Record quer com suas tramas evangélicas nos próximos anos. A intenção é ‘mostrar a verdade’ custe o que custar para os brasileiros e, sem ficar em cima do muro em nenhum tema polêmico. As novelas terão lado e ninguém vai ter vergonha de mostrar qual é este lado. Nos corredores da emissora fala-se em divulgar os próximos projetos como uma forma de diminuir os preconceitos contra a religião evangélica no Brasil e ajudar a pautar temas polêmicos, o que a telenovela sempre fez no Brasil”, resumiu o jornalista.
Essa ideia teria sido aprovada pelo próprio Edir Macedo, que enxerga no momento atual atravessado pelo país uma oportunidade de propor ideias. Além disso, o fundador da Igreja Universal teria feito a ressalva de que essas novelas não devem “vender uma religião” para não afugentar a audiência nesse momento de transição.