A celebração dos 500 anos da Reforma Protestante tem motivado pastores, líderes e formadores de opinião a destacar os principais impactos do movimento iniciado pelo então padre Martinho Lutero contra a doutrina adotada à época pela Igreja Católica e os frutos da iniciativa, que influencia centenas de milhões de cristãos ao redor do mundo.
Embora a maioria das manifestações seja de exaltação da reforma que concedeu a possibilidade do nascimento de uma nova tradição cristã, desapegada dos ritos e liturgias católicos, há quem veja no resultado prático um fracasso. A blogueira Vera Siqueira, uma das líderes do movimento Voltemos ao Evangelho, abordou esse ponto de vista em um um artigo em seu blog A Estrangeira.
“Ao olhar ao redor tem-se a impressão de que a Reforma Protestante fracassou”, pontua, antes de recapitular que a Reforma Protestante, nascida como resultado de séculos de questionamentos, lutava contra uma série de questões que hoje são abandonadas pelas igrejas evangélicas.
“O movimento reformador (que não surgiu do nada em 1517, mas já existia séculos antes) propunha a revisão de doutrinas da Igreja Católica Apostólica Romana, buscando conformar-se com os ensinos de Jesus Cristo. Com o passar do tempo, adentrou-se na igreja rituais pagãos, a busca por benefícios para os sacerdotes, a venda do perdão dos pecados (indulgências) e o envolvimento sacerdotal com o Estado, buscando aumentar seu poderio sobre os fiéis e toda a sociedade da época. Cada movimento reformador buscou lutar contra aquilo que achava inconveniente ou mesmo herético. E o preço pago por isso foi muitas vezes torturas e mortes dolorosas”, destaca a blogueira.
Vera Siqueira observa que “assim como os cristãos se multiplicaram apesar dos martírios, os protestantes também se multiplicaram apesar da perseguição inquisitória”, mas salienta que nos “dias de hoje, no Brasil”, existem muitos “evangélicos, embora haja na maioria pouco de Evangelho e muito pouco de protestantes”.
“O que dizer de uma igreja como a nossa, onde se vendem as bênçãos materiais e celestiais (uma venda de perdão de pecados mascarada, uma vez que se o fiel recebe as bênçãos pelas quais pagou prova que é “santo”, e por isso perdoado dos pecados)? O que dizer de uma igreja onde se proíbe “andar no mundo”, mas que replica o “mundo” para satisfazer a seus fiéis (festas sincréticas gospel, rituais de espiritismo gospel, idolatria gospel)?”, questiona.
“O que dizer de uma igreja que faz clara acepção de pessoas, tratando-as conforme o valor do seu dízimo e segundo o status que ocupa na sociedade? O que dizer de uma igreja na qual seus líderes se acham no direito de usurpar e usufruir das ofertas que deveriam ser destinadas à manutenção do templo e ao cuidado dos mais necessitados? O que dizer de uma igreja que deixa de confiar em Deus para confiar na força de políticos, por mais corruptos que eles sejam?”, acrescenta.
O ponto de vista da blogueira é de que, sim, o resultado é negativo: “Cadê a Igreja que transforma? Que converte o caráter? Que traz renúncia do mal? Que abre mão dos bens e prazeres desta terra em prol do Reino vindouro? Cadê os frutos da Reforma? Aparentemente, não há. Olhando para o mundo, e mais especificamente para o Brasil, a Reforma Protestante fracassou, deixando um legado ainda pior do que o que havia há 500 anos”, conclui.