Nas últimas décadas, o movimento neopentecostal impulsionou o crescimento do número de fiéis evangélicos no Brasil, atraindo pessoas que antes se identificavam como católicas.
A Igreja Católica tem traçado inúmeras estratégias de retenção de fiéis, a fim de reduzir a perda do rebanho para os setores evangélicos, que são variados. Uma das linhas usadas – e talvez a mais bem sucedida até agora – é a difusão da chamada Renovação Carismática.
O catolicismo carismático, formado essencialmente por padres cantores, missas animadas, e ênfase em Deus e Jesus em suas pregações, é visto por especialistas como um esforço para se parecer com as denominações neopentecostais, que possuem a receita que impulsionou o crescimento evangélico.
“Desde os anos 1990 é registrada no Brasil uma crise na Igreja católica, com templos vazios e a Teologia da Libertação em retrocesso. Os grupos carismáticos convocam a Igreja a uma renovação para trazer de volta os fiéis e dar fôlego à instituição através de uma popularização baseada no modelo pentecostal”, afirmou Magali Cunha, professora da Faculdade de Teologia e pós-graduação da Universidade Metodista de São Paulo, em entrevista à agência de notícias AFP.
Porém, embora adotada como estratégia de atração ao catolicismo, a Renovação Carismática é vista por seus defensores na Igreja Católica como algo que pretende não apenas reduzir as perdas, mas modificar a ênfase da denominação: “Dizer que a renovação carismática é uma resposta ou uma estratégia de contenção de fiéis é uma leitura muito limitada. Também não é uma versão católica do pentecostalismo, é um fenômeno maior, mais amplo, próprio da Igreja Católica”, analisou o chefe do Departamento de Ciências da Religião da Universidade Católica de São Paulo, Edin Abumansur.
Mesmo creditando ao movimento uma importância maior do que uma simples cópia do modelo neopentecostal, Abumansur acredita que a Renovação Carismática tem sido o arrimo da Igreja Católica no Brasil: “Sem este tipo de espiritualidade a Igreja Católica teria perdido muito mais fiéis em comparação com os que já perdeu”, resume.
Uma organização chamada Renovação Carismática do Brasil, responsável por reunir os principais articulistas do movimento dentro da Igreja Católica, afirma que no Brasil há um milhão de fiéis adeptos ao modelo, e outros nove milhões que mantém uma certa proximidade, sempre participado de retiros espirituais ou encontros. “Se há técnicas que resolvem, os carismáticos dizem ‘vamos testar elas também’, como os grandes eventos públicos potencializados pelos meios de comunicação”, observa a professora Magali Cunha.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+