O pastor Ricardo Gondim anunciou em seu site que entrará em um hiato pessoal “para trocar de pele” e se ausentará das redes sociais, não escrevendo mais artigos para sua página ou reflexões em seu Twitter.
Segundo Gondim, a decisão de se ausentar visa uma reflexão pessoal, após as frustrações com pessoas que ele julgava amigas: “Não escondo a minha profunda dor. Fui cuspido, difamado e ridicularizado por quem acreditei ser parceiro. Meu coração sofreu além da conta”.
Pastor da Igreja Betesda, Ricardo Gondim menciona em seu artigo as repercussões por sua entrevista à revista Carta Capital, seu afastamento como articulista da revista Ultimato, os protestos enfrentados na congregação de Fortaleza da Betesda e afirma que se sentiu “usado” pelas lideranças evangélicas com as quais teve contato.
-Eu supus ter amigos entre os envangélicos. Enganei-me. Quando a revista Ultimato me defenestrou como articulista, não contei com cinco amigos que ousassem dar a cara a bater por mim. Nessa hora vi o quanto fui usado. Eu não passava de grife, ornando panfletos de eventos. Saí de casa, deixei meus filhos, esqueci meus pais, dormi em hotéis de quinta categoria, para dar credibilidade a conferências chinfrins – escreveu o pastor.
Gondim revelou ainda que sua saída temporária tem recomendação médica e que sabe que sua vida está perto do fim: “Noto que me resta pouco tempo de vida – não sei quanto, mas estou consciente de que é pouco”.
-Na verdade, estou exaurido. Agora virou questão de saúde. Como não posso respirar, minimamente, o ar dos evangélicos não serve como terapia […]Sinto que chega a hora de começar outro ciclo. Não sei como, mas para que aconteça, meu primeiro passo deve ser o exílio das redes sociais. Quanto tempo fico fora deste site e do tuiter, não sei. Mas, igual aos adolescentes quando querem acabar o namoro, digo: preciso de um tempo. Resta-me a igreja Betesda – afirmou.
Confira abaixo a íntegra do artigo “Recesso – preciso de um tempo”, do pastor Ricardo Gondim:
Por mais de um motivo, ficarei sem escrever aqui e no tuiter. Vou me exilar de todas as redes sociais por um tempo.
Mais cedo ou mais tarde chega o tempo em que algum ciclo se fecha. Como preciso saber discernir a minha hora: chegou um momento decisivo em minha vida. Não escondo a minha profunda dor.
Fui cuspido, difamado e ridicularizado por quem acreditei ser parceiro. Meu coração sofreu além da conta.
Noto que me resta pouco tempo de vida -não sei quanto, mas estou consciente de que é pouco. Em Fortaleza, tive que enfrentar um piquete na porta da igreja que eu considerava a menina dos meus olhos.
Depois, oportunistas se sucederam em me esfaquear. Pessoas baixas se revezaram em colocar o meu nome entre os grande apóstatas da fé. A Betesda em Fortaleza praticamente implodiu. A princípio, sofri. Depois, preocupei-me com amigos, parceiros e discípulos. Eles sofriam as consequências de minhas posições. Embora eu nunca, em tempo algum, tenha vendido a alma ao sucesso, não bastou. As pedradas não cessaram.
Eu podia ser outra pessoa. Estou consciente de meus dons e talentos. Sei que poderia tornar-me famoso e disputado entre os maiorais do movimento evangélico. Mas, não sei explicar, preferi o caminho dos proscritos. E a minha história virou piada; fui arrastado ao charco.
Dei uma entrevista à revista Carta Capital (eu daria novamente, sem tirar uma vírgula) e os eventos desandaram. Antigos companheiros passaram a me evitar como um leproso. Reconhecer que homossexuais têm direito era um pecado incontornável. Contudo, prefiro o ódio de fundamentalistas e homofóbicos à falta de paz; quero poder deitar a cabeça no travesseiro com a consciência de que defendi o que é justo.
Eu supus ter amigos entre os envangélicos. Enganei-me. Quando a revista Ultimato me defenestrou como articulista, não contei com cinco amigos que ousassem dar a cara a bater por mim. Nessa hora vi o quanto fui usado. Eu não passava de grife, ornando panfletos de eventos. Saí de casa, deixei meus filhos, esqueci meus pais, dormi em hotéis de quinta categoria, para dar credibilidade a conferências chinfrins.
Os amigos, que supunha de caminhada, se calaram. Estavam preocupados com eles mesmos na hora do meu linchamento.
Os meus verdadeiros amigos se resumiam aos poucos parceiros que sobraram na Betesda e me deram a mão. Só um punhado se solidarizou quando me viu arrastado na sarjeta. Alguns, para minha profunda decepção, se aproveitaram de vírgulas doutrinárias para jogar ainda mais querosene no fogo brando que fundamentalistas acenderam.
Na verdade, estou exaurido. Agora virou questão de saúde. Como não posso respirar, minimamente, o ar dos evangélicos não serve como terapia. Deixei de acreditar na grande maioria dos líderes, pastores, teólogos e missionários evangélicos. Não confio nos que se dizem pregadores da Boa Notícia do Nazareno; e isso é ruim. Depois de presenciar excrescências éticas, depois de ver-me roubado em direitos autorais, depois de usado e sugado não quero mais a piedade plástica e mentirosa dos que se sentem responsáveis pela salvação do mundo. A subcultura religiosa que me acalentou e me fez um homem bem sucedido agora me traumatiza. E quando a gente perde o respeito, acabam-se os argumentos.
Sinto que chega a hora de começar outro ciclo. Não sei como, mas para que aconteça, meu primeiro passo deve ser o exílio das redes sociais. Quanto tempo fico fora deste site e do tuiter, não sei. Mas, igual aos adolescentes quando querem acabar o namoro, digo: preciso de um tempo.
Resta-me a igreja Betesda, minha comunidade de fé na Avenida Alberto de Zagottis, 1000. Ali é minha cidade de refúgio. Continuarei liderando o pequeno rebanho de homens e mulheres que, apesar de toda a propaganda danosa, ainda se reúne para me ouvir nos domingos. Com eles, e por causa deles, continuo.
Saio das redes sociais por recomendação médica; mas, também, por bom siso: preciso procurar alguma caverna, e lá, trocar de pele.
Soli Deo Gloria
Fonte: Gospel+