O Templo de Salomão, nova sede da Igreja Universal, inaugurada nesta quinta-feira (31) com a presença do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e da presidente Dilma Rousseff (PT), está sendo investigado pelo Ministério Público Estadual (MPE) como possível local de origem de terras contaminadas que foram irregularmente no campus da USP.
De acordo com o inquérito, por cerca de um ano o então diretor da USP José Jorge Boueri permitiu que o Campus Leste da universidade fosse usado para descarte de terra. Nesse intervalo, entre 2010 e 2011, estima-se que 109 mil metros cúbicos de terra tenham sido depositados no local, o equivalente a mais de 6.000 caminhões. Segundo testemunhas, 33 destes caminhões teriam sido levados do local de construção do templo de Salomão da Igreja Universal.
A investigação aponta que as empresas de terraplanagem Ratão e Demolidora Formosa foram as responsáveis pela movimentação da terra contaminada até o campus, e o local citado como origem é o “Templo do Rei Salomão”, da Igreja Universal do Reino de Deus, no bairro do Brás.
Depoimentos colhidos pela Promotoria do Meio Ambiente indicam que Boueri autorizou pessoalmente todas as operações relativas ao aterro ilegal, e que ele teria sido alertado pela professora Rita Giraldi, em janeiro de 2011, de que “ele não poderia transportar e depositar terra no campus, pois não havia as necessárias licenças ambientais para transporte e deposição de terra” por tratar-se de área de Área de Proteção Ambiental (APA), e que ele “deveria fazer uma licitação para a movimentação de terra”.
Valter Pereira da Silva, dono da empresa Ratão, relatou em seu depoimento como teria se iniciado sua relação com o diretor da USP, que acabou concedendo o uso de um local no campus para o aterro.
– Como o declarante estava fazendo serviço de terraplanagem no Templo do Rei Salomão, do bispo Edir Macedo, precisava de um lugar para despejar terra decorrente da escavação para a construção do referido Templo (…) e como o declarante morava e mora próximo da USP-Zona Leste, em janeiro de 2011 [sic] se dirigiu até o mencionado campus, para ver se conseguia despejar a terra no interior do campus – diz o depoimento.
De acordo com a Folha de S.Paulo, o Ministério Público informou que está investigando se o local onde o templo foi construído, que antes era ocupado por uma fábrica de tecidos, também está contaminado.
– A área onde foi construído o Templo, ao que tudo indica, também estava contaminada – afirma o MPE.
De acordo com a Promotoria responsável pelo caso, se confirmada a contaminação no templo, a Igreja Universal pode ser obrigada, entre algumas possibilidades, “a providenciar a reparação integral do dano ambiental” e “o pagamento de indenização por eventuais danos ambientais irreparáveis”.
A Universal afirma que, para a construção do templo, contratou a empresa Construcap que, subcontratou outras empresas. A igreja afirmou ainda que “fiscalizou a execução do contrato, exigindo o rigoroso cumprimento da legislação por parte da construtora e demais contratados por ela, conforme explica a nota e atesta os documentos enviados”.
– A Universal contratou uma única empresa para erguer o Templo de Salomão, a Construcap. Como é comum nesse segmento, todas as prestadoras de serviço foram contratadas pela construtora para realizar os diversos serviços necessários nas obras: terraplanagem, fundação, concretagem, acabamento etc – afirmou a igreja em nota sobre o caso.
A Construcap afirma que “seguiu, rigorosamente, as normas de descarte de materiais e entulhos, inclusive, realizando e documentando o rastreamento de todo o transporte aos locais autorizados” e que não tem contrato de nenhuma natureza com a empresa de descarte Ratão.