A perseguição religiosa aos cristãos existe desde o início da Igreja, mas conforme o tempo passa, essa realidade parece estar surgindo entre os que se dizem seguidores de Cristo, por exemplo, através de pedidos para que as igrejas sejam reguladas pelo Estado, algo que só existe em regimes autoritários, como no comunismo chinês.
Foi para rebater essa visão de regulação estatal das igrejas que o pastor, teólogo e professor Guilherme de Carvalho publicou um artigo no jornal Gazeta do Povo, a fim de expor os erros conceituais de Lusmarina Garcia, definida por ele mesmo como uma “pastora luterana e militante do PT”.
Segundo Carvalho, Lusmarina publicou uma carta pública recentemente, com o objetivo de fazer uma reclamação quanto “ao desinteresse de Lula pelos evangélicos progressistas, e especialmente aqueles ligados ao movimento ecumênico”, do qual ela faz parte, uma vez que integra o “Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), uma organização ecumênica que existe a reboque do progressismo nacional e global, com pouquíssimo interesse pela ortodoxia cristã”.
A queixa de Lusmarina, segundo Guilherme de Carvalho, se deu em face a uma “autorização para que o Ministério do Desenvolvimento assinasse um protocolo para que igrejas em contextos periféricos mediassem benefícios sociais”.
Tais igrejas são, na prática, denominações em sua maioria pentecostais, como a Assembleia de Deus, e também neopentecostais, que no Brasil atual se divide em inúmeras nomenclaturas independentes.
Essas instituições costumam ter muita capilaridade em comunidades periféricas, onde o serviço público é precário. Nesses lugares, onde a pobreza e problemáticas sociais como o abuso de drogas, desemprego, violência e exploração sexual estão presentes, as igrejas em sua maioria levam uma mensagem de esperança e transformação para a população.
Ao tratar dessas instituições, porém, Lusmarina se referiu a elas de forma estereotipada, generalista e em tom preconceituoso, atribuindo a elas a pregação do “fundamentalismo” ligado à “ultradireita”. Assim ela escreve, segundo reprodução da Gazeta:
“O discurso [dessas igrejas] é formatado a partir do capitalismo (Teologia da Prosperidade e anticomunismo), do patriarcalismo (que se traduz em compreensões e práticas de submissão das mulheres e degrada-se, não raro, em misoginia e em diferentes formas de violência), da intolerância com respeito às diferenças (seja ela religiosa, comportamental, política ou de gênero), da branquitude (a matriz do pensamento é racista, embora num contexto de maioria negra, como o Brasil, o discurso tenha sido adaptado)”.
Crítica
Para Guilherme de Carvalho, a visão de Lusmarina “é inequívoca, e traduz de forma transparente a opinião das esquerdas sobre igrejas e lideranças evangélicas: elas seriam ‘fundamentalistas’ (no dialeto da elite, fundamentalista é o evangélico típico que leva a Bíblia a sério, independentemente da qualidade de sua vida intelectual ou de sua inteligência social)”.
“A generalização da pastora Lusmarina é exagerada, preconceituosa e odienta. É menos análise crítica e muito mais aquele típico preconceito de classe média secularizada contra as massas religiosas”, completa o teólogo.
Segundo Carvalho, a autora da carta sugere como possível solução do que seria um problema de cunho social, a regulação das igrejas pelo Estado, pauta essa que foi levantada, também, pela jornalista Eliane Cantanhêde, da GloboNews, dias atrás.
Lusmarina, de fato, sugere a criação de uma espécie de grupelho especial de “iluminados” da área teológica, para que este atue como um filtro do que deva ser considerado ou não um legítimo pensamento cristão. Isto, para a ilustre acadêmica, é necessário para que o “fundamentalismo” seja combatido.
“Não me parece que haverá efetividade em uma campanha de comunicação direcionada aos evangélicos e às evangélicas se os conteúdos fundamentalistas não forem enfrentados. E para enfrentá-los, é preciso incorporar teólogos e teólogas que tenham a capacidade de elaborar argumentos bíblico-teológicos que promovam a releitura do arcabouço conceitual”, defende.
Surpreso, Guilherme de Carvalho comenta: “Ou seja: o Estado deveria assumir o controle do conteúdo da formação teológica dos pastores evangélicos, autorizar (ou não) e fiscalizar a atividade pastoral, e assim autorizar ou impedir a abertura de novas igrejas. Realmente… inacreditável.”
“O que a pastora recomenda, naturalmente, é uma brutal inconstitucionalidade, agravada por ser a religiosa uma acadêmica do Direito”, ressalta o pastor, que conclui fazendo a seguinte colocação:
“A proposta indecente demonstra, de modo cabal, que há na esquerda brasileira, incluindo a esquerda ‘evangélica’, uma vontade totalitária, de controlar e de ‘consertar’ o discurso e a teologia das igrejas, de modo a alinhá-la com o projeto hegemônico progressista. Lusmarina, militante desde 1987, sempre foi algo mais do que uma teóloga e pastora; revelou-se uma agente de conversão ideológica, empregando conexões religiosas como plataforma de interferência política no imaginário da comunidade cristã.”