A recente inauguração do Templo de Salomão da Igreja Universal do Reino de Deus tem motivado uma série de críticas contra a denominação liderada pelo bispo Edir Macedo. Ao aparecer usando kipá e talit, ao lado de duas pedras representando as tábuas da lei de Moisés e se comparando ao patriarca Abraão, Macedo foi acusado por líderes evangélicos de promover um culto “recheado de misticismo”. Agora, o religioso tem sido criticado também por usar o Velho Testamento para reviver relação do ‘povo eleito’ com Deus.
O jornalista Luiz Felipe Pondé, da Folha de S.Paulo, publicou um artigo sobre o tema analisando a forte relação entre as denominações neopentecostais com o Velho Testamento. Para Pondé, “grande parte do cristianismo compreende a eleição de Israel de um modo equivocado”, vendo-a mais como uma forma de alcançar benefícios do que como uma responsabilidade.
– A eleição é uma responsabilidade, um peso, não a escolha de um caçulinha mimado fadado ao sucesso. Aqui nasce o equívoco e, ao mesmo tempo, a paixão neopentecostal pelo Velho Testamento – afirma o jornalista.
Segundo o jornalista, a construção de uma suposta réplica do Templo de Salomão pela Igreja Universal não é uma reconstrução arqueológica, mas uma peça de fé. Tal construção seria então uma tentativa de aproximar da relação entre o Deus de Israel e seu povo eleito presente no Velho Testamento que, segundo Pondé, é lida pelos neopentecostais “numa chave mágica”.
Ele analisa que o os fatos narrados no Velho Testamento “indicam uma forte presença de Deus nos destinos do povo, alterando círculos naturais, criando forças a favor do povo, enfim, fundando um mundo de milagres”. Portanto, segundo essa análise, ao reviver o Templo de Salomão, a Igreja Universal dá um importante passo simbólico no sentido de dizer que seus fiéis revivem a relação de povo eleito com seu Deus.
– O equívoco está no fato que o mundo mágico do Velho Testamento é apenas uma pequena parte da eleição de Israel. Mas os neopentecostais parecem crer que essa “mágica israelita” é a base para o sucesso, a felicidade, e, finalmente, para a teologia da prosperidade que marca o movimento neopentecostal. Dito de forma direta: quem vive com o Deus de Israel fica rico e feliz. (…) A eleição de Israel é muito mais um peso do que um ticket para o sucesso. Tem mais a ver com o conflito israelo-palestino, através do qual muitos odeiam Israel, do que com ficar rico e feliz – afirma o jornalista.
– Se perguntarmos a muitos judeus religiosos em Israel e no mundo, dirão que o desespero que passa Israel hoje, o medo do ódio do mundo e da destruição do Estado de Israel, é mais uma marca da sofrida eleição – conclui Pondé, afirmando que “por isso, não é difícil encontrar judeus que pediriam a Deus, assim como profetas o fizeram, que escolha outro povo para ser Seu eleito, porque Israel já cansou”.