Pais de santos dos terreiros de Pernambuco realizaram um protesto na Câmara dos Vereadores do Recife na última quarta-feira, 21 de fevereiro, contra a vereadora Michele Collins (PP), que é evangélica e costuma expressar opiniões contundentes.
O motivo do protesto foi uma publicação feita pela vereadora no Facebook, em que dizia que estava “clamando e quebrando toda maldição de iemanjá lançada contra nossa terra, em nome de Jesus”.
De acordo com informações do portal G1, o protesto reuniu representantes de 30 terreiros de Pernambuco. Os manifestantes entregaram, nos gabinetes, cópias de uma carta aberta em repúdio às declarações da vereadora, acusando-a de racismo e de crime contra o sentimento religioso.
A chefe do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, da Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude (SDSCJ), mãe Elza de Iemanjá afirmou que o protesto tinha, como um dos objetivos, gerar um debate sobre intolerância religiosa, pois a publicação da vereadora Michele Collins explicitaria uma questão de raça, intrínseca à religiosa.
“O Estado é laico e temos um conselho ativo no estado [de Pernambuco], norteado por um plano nacional de ação sobre assuntos acerca dos povos de terreiro, que são compostos majoritariamente por pessoas negras. Iemanjá é um ser divino e eu jamais vou dizer que Deus lançou a mão para amaldiçoar a terra. O que ocorreu foi um crime, que deve ser observado de perto”, disparou mãe Elza.
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) instaurou um inquérito civil para investigar se a vereadora cometeu o crime de violação à liberdade religiosa. O 7º promotor de Justiça de Defesa da Cidadania, Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Westei Conde, afirmou que Michele Collins seria notificada a comparecer à promotoria para prestar esclarecimentos.
“Dizer que as praias estão sujas por Iemanjá é um pensamento errado sobre a nossa religião. Cultuamos a natureza e me sinto bem sendo filho de iemanjá. Ninguém é obrigado a aceitar, mas queremos respeito, porque todo mundo tem direito a fazer seus cultos. Ela [Michele] foi infeliz na escolha de palavras e não podemos ficar quietos, para não voltarmos ao nível de preconceito que sofríamos antes”, afirmou o pai de santo Antônio de Xangô.
A assessoria de imprensa da vereadora afirmou ao G1, por telefone, que a notificação do Ministério Público foi recebida e encaminhada à assessoria jurídica, que dará a resposta pelos meios legais.
Antes do protesto realizado ontem, Michele Collins já havia publicado um pedido de desculpas: “Diante do exposto sobre uma postagem realizada em suas redes sociais, a vereadora missionária Michele Collins esclarece que em nenhuma momento teve a intenção de ofender ou propagar qualquer mensagem de ódio religioso. Todos sabem que a missionária é veementemente contra qualquer intolerância religiosa, inclusive já deletou a postagem de suas redes sociais, diante dessa falha na elaboração do texto. A vereadora missionária Michele Collins pede desculpas aos que se ofenderam”.