A igreja evangélica brasileira e a música gospel nacional foram alvo de críticas por parte dos integrantes da banda Resgate, os ex-bispos primazes da Igreja Renascer em Cristo, Zé Bruno, Marcelo Amorim e Hamilton Gomes.
Numa entrevista concedida ao programa Galeria Clip, da Rede Boas Novas, durante a Feira Internacional Cristã (FIC) em São Paulo, os três pastores comentaram desde a falta de criatividade nas composições dos artistas gospel, até a falta de foco das igrejas evangélicas nas questões de evangelismo.
Música
Líderes da Igreja Cristã A Casa da Rocha, Zé Bruno, Hamilton e Marcelo afirmaram que consideram o momento atual da música gospel e da igreja evangélica “confuso” pela falta de bandeiras.
“Acho que o momento da música cristã seja dos piores, no que diz respeito à criatividade. Artístico? Não sei se existe. A gente tem uma avalanche de música americana traduzida. Onde está a arte da nossa composição? Cadê o compositor brasileiro? Onde é que está a reflexão? Quem é que pensa?”, questionou Zé Bruno.
“Essa questão comercial tá ótimo. Os estandes cheios de gente, vendendo CDs, os artistas tudo felizes. Não é isso aí que é bom? Comercial é isso aí”, disse Hamilton Gomes, em tom irônico.
Sobre a caminhada da banda nos último anos, Zé Bruno comentou a retomada após a assinatura de contrato com a gravadora Sony Music: “Nós nunca paramos. Nós ficamos assim, com uma velocidade um pouco diminuída, mas parar, a gente nunca parou. De dois anos para cá, a gente deu uma acelerada boa. Estamos correndo bastante”, resumiu
A Igreja e o crescimento numérico dos evangélicos
Os pastores foram questionados sobre as características das igrejas evangélicas contemporâneas e sua contribuição em termos de qualidade para o Reino de Deus.
Hamilton Gomes foi sucinto e direto em sua análise: “Essa pergunta é complicada. A Igreja brasileira vive uma bagunça, porque a galera só está interessada em receber. ‘Eu quero que Deus me dê isso, me dê aquilo’. Deus tem que servir o homem… Acho que a coisa está um pouco invertida. A gente precisa voltar os nossos olhos para o Senhor, e servir a Deus, amá-lo pelo que Ele já fez: a nossa salvação, a restauração da nossa vida. O que vier é lucro”.
A presença constante de artistas e pastores na mídia secular, e o investimento de igrejas em programas de TV também foram questões analisadas pelos músicos do Resgate: “Quando é que nós vamos ter espaço conquistado? Quando a gente tiver uma mensagem que alcança. Às vezes, eu tenho algumas vergonhas alheias, de algumas imagens que eu acompanho e que parece que a gente não evolui. Nós involuímos. Você liga hoje um programa evangélico, aonde o povo contribui programa acontecer, e o pastor fala para o mesmo povo que deveria estar ouvindo ele domingo na igreja. Aonde está o nosso evangelismo? Aonde é que está o Jesus que anda no meio do povo? Onde é que está a música que não fala diretamente? Onde é que está a mensagem subliminar? Onde é que está a cultura sendo valorizada? Onde é que a gente está penetrando? A nossa penetração é oferecer para as pessoas o milagre e vender a custo de algum benefício, que você vai doar para tal instituição. Isso não é evangelismo. Isso é curandeirismo”, afirmou Zé Bruno.
O vocalista e líder da banda lamentou que o alvo das igrejas seja fechar-se em quatro paredes e disse que o isolamento traz como efeito colateral críticas severas de quem não faz parte do meio.
“Onde é que estão os nossos missionários? Eles estão sendo perseguidos fora das nossas fronteiras enquanto a nossa igreja dorme […] Temos que acordar. O que nós estamos fazendo? Estamos investindo todo o nosso esforço de conquista no corpo, por alguma coisa que só serve a nossa culturazinha do próprio corpo. E que nós, depois, consumimos as próprias coisas que fazem parte do nosso mundinho. Quando é que a gente vai ir e pregar o Evangelho a toda criatura? Quando é que nós não vamos ser a caricatura?”, questionou.
Marcelo Amorim, baixista da banda, complementou o raciocínio: “O Evangelho de Jesus Cristo era contracultura. E a gente criou uma cultura para se alimentar dela, e nem a nossa cultura brasileira a gente usa. Então a gente é muito tapado, hoje […] Era assim no começo: todo mundo tinha que vir pra Israel. Jesus Cristo veio e disse assim: ‘agora a Igreja vai para todo o mundo’. E a gente voltou pra dentro… A gente virou Israel de novo. A gente virou Israel de novo! […] Porque a gente só pensa na gente, no nosso umbigo, nas nossas coisas […] Jesus Cristo foi lá contra os religiosos… comia com as prostitutas, sentava lá com o publicano… Tava no meio dos pecadores. A gente se voltou para uma Igreja que se volta pra si. Virou uma Igreja judaizante, que só pensa nela. Ela é o umbigo do mundo”, criticou.
Saída da Renascer
Sobre a saída do quarteto (o baterista e pastor Jorge Bruno não participou da entrevista) da Igreja liderada pelo apóstolo Estevam Hernandes, o entrevistador instigou-os dizendo que há pouco tempo atrás eles não faziam críticas tão severas ao meio, ao passo que Zé Bruno respondeu: “Infelizmente eu dormia o sono da indolência. Todo mundo um dia acorda. Despertador toca, levanta quem quer”.
Zé Bruno criticou ainda a liturgia adotada por muitas igrejas neopentecostais, que aderem a simbolismos do judaísmo: “Tira esse monte de badulaque, e vê se tem Jesus um pouco, ali atrás”, disse, antes de comentar a mudança pela qual eles passaram: “Então acho que é isso. As nossas raízes batistas voltaram”.
Assista à entrevista na íntegra:
Por Tiago Chagas, para o Gospel+