O pastor Claudio Duarte concedeu uma entrevista falando sobre sua visão do comportamento dos evangélicos na sociedade e disse que as críticas feitas a esse segmento são justas, pois a religião tem sido fonte de preconceito.
“Nós [evangélicos] recebemos o preconceito que oferecemos. Vivemos um revide. Somos preconceituosos com tudo. Eu não me acho, mas digo ‘nós’ porque represento a classe. O brasileiro é intolerante ao extremo. Somos uma sociedade preconceituosa. E isso se reflete na igreja”, afirmou à Folha de S. Paulo.
Sendo objetivo, o pastor citou o principal ponto de tensão entre os evangélicos e um setor da sociedade: a homossexualidade. Frisando discordar, ele destacou que não é necessário isolar as pessoas que a praticam, muito menos torná-las cidadãos de segunda classe.
“[Tive] um irmão de criação negro e gay que morreu há 15 anos. Aprendi com ele a amar e a não segregar. Tenho horror a discurso de ódio”, afirmou, admitindo que é a favor do reconhecimento dos direitos civis para homossexuais, como o casamento civil.
“Na visão bíblica, é pecado. Não tenho como negociar. Para caminhar conosco no ministério tem que ter um protocolo. Mas, fora, o direito tem que ser para todos. Bater num gay, ‘tacar’ pedra numa menina [praticante do candomblé, apedrejada no Rio], para um cristão isso é inconcebível”, frisou.
Sobre o Estado laico, Duarte expressou uma visão equilibrada, dizendo-se a favor da separação entre as instituições de poder e as religiões, mas defendendo o direito de representação política das religiões, como no caso da bancada evangélica.
“Acho legal. É importante em todo segmento ter alguém que reproduza o comportamento cristão […] Agora, se as pessoas que se dizem cristãs agem como cristãs é outra coisa. O problema é quando quem se diz religioso tem comportamentos piores do que quem não é. Essa turma está queimando o filme de Jesus”, contextualizou.
Sobre o escândalo do petrolão, que tem o evangélico Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados acusado de ter recebido propina – inclusive com denúncias de que parte dos valores teriam sido repassados através de uma conta da Assembleia de Deus Madureira -, o pastor adotou cautela: “Prefiro não falar nada. Ele está vivendo aí, e eu acredito em lei de semeadura: ela é opcional, mas a colheita é obrigatória. Você escolhe o que planta, mas não o que colhe”, pontuou.
Sobre as piadas sobre religião feitas por humoristas, o pastor se posicionou contra as tentativas de proibi-las: “Enquanto cristãos tiverem um estilo de vida que não combina com a palavra de Deus, tem que ter gente pra denunciar. Se for um humorista, que seja.Não gosto da agressividade de muitos vídeos do Porta do Fundos, por exemplo, mas entendo que o intuito não é denegrir Deus, mas dizer para os crentes: ‘criem vergonha na cara. Parem de fazer da religião uma desculpa para manipular as pessoas’”, concluiu.