O reverendo Caio Fábio concedeu entrevista ao programa The Noite, apresentado por Danilo Gentili no SBT, e falou sobre diversos assuntos ligados ao meio evangélico, e novamente causou polêmica entre os fiéis.
“Foi para a liberdade que Cristo nos libertou e as igrejas ensinam escravidão”, disse Caio Fábio, sintetizando sua visão a respeito do tema.
De início, Danilo Gentili perguntou se existiam realmente casos de possessão demoníaca, fazendo menção à liturgia da Igreja Universal. O reverendo não poupou palavras para dizer que os exorcismos lá praticados são encenações: “Aquelas [possessões] ali se tiram com tapa na bunda… ‘Levanta, vamos acabar com a palhaçada’. Aquilo ali é sugestão, é psiquismo demoníaco aprendido com a cultura neopentecostal instilado nas pessoas. Aquilo ali, na maioria das vezes, é forjamento, tem até os possessos contratados para puxarem a fila dos impressionados”, disse.
“Porque só vemos milagre de araque?”, questionou Gentili. “Porque o pessoal só fica visitando milagre… Todo milagre industrial é de araque. É simples assim. Abriu uma porta e disse ‘milagre’ é mentira. Milagre é inusitado, misterioso”, respondeu Caio Fábio.
Na sequência, o reverendo fez questão de frisar que crê em milagres e narrou experiências vividas por ele, mas explicou que as práticas das igrejas pentecostais e neopentecostais são enganosas.
“Eu vi uma mulher derramando vermes pela vagina numa situação horrorosa em Manaus. É uma doença, [mas o milagre está em] você orar e o negócio parar na mesma hora. Não no dia seguinte ou duas horas depois, mas secar na hora. É chocante. Você ver pessoas em hospitais, como eu vi algumas vezes, desenganadas e morrendo, como meu amigo Zé Cury – que está vivo hoje, dono de uma pousada no Rio Grande do Norte – [estava] morrendo, desenganado, [com] septicemia – nós tínhamos sido malucos, tomadores de todo tipo de drogas, lutadores de jiu-jitsu juntos lá nos Gracie. Ele saiu um pouco da linha, perdeu a cabeça, a Polícia Federal encheu de sete tiros – mandou me chamar e disse ‘morro hoje à noite, encomenda a minha alma’, e eu falei ‘não, cara, você ainda vai viver pra caramba, não sei nem porque eu estou dizendo isso’. Botei a mão na cabeça dele e orei com toda sinceridade, simples, em nome de Jesus. O Zé Cury levantou na mesma noite. Isso faz 40 anos. Agora, [milagre] não é com hora marcada, não é ‘sexta-feira do milagre’, não tem preço nenhum a pagar, é tudo de graça, não tem rito. Só implica sinceridade, verdade, encontro humano puro diante de Deus”, resumiu Caio Fábio.
Ao longo da entrevista, Danilo Gentili e Caio Fábio dialogaram sobre questões ligadas ao Velho Testamento e suas aplicações práticas na atualidade, e chegaram à conclusão de que a narrativa do tempo da lei funciona como um prólogo para o Novo Testamento, mas já “caducou”. Nesse contexto, o apresentador questionou o reverendo sobre o dízimo, e a resposta de Caio Fábio foi pontual em afirmar que a contribuição forçada é errada.
“Eles me chamam de herege porque eu digo que essas coisas caducaram. Porque justamente se caducaram, o dízimo já era. E o dízimo ‘não pode’ [ser mexido]. É seletiva a escolha deles, quando o Novo Testamento não é seletivo, e diz em Romanos 10 ‘o fim da lei é Cristo pra justiça de todo aquele que crê’. Ponto, acabou, começou uma nova era eterna de consciência. Eles não querem porque tira deles os aparatos primitivos de controle do povo. O dízimo é um deles”, afirmou Fábio, antes de citar especificamente o caso da Igreja Universal: “Por que o Macedo está construindo aí esse ‘terreirão de Salomão’, essa coisa grandona, monstruosa? Porque ele quer, finalmente, oficializar a Universal como a captadora de recursos para o Templo de Deus, para que Malaquias 3 se torne encarnado na Universal […] Essa é a esperteza desse malandro”, disparou, referindo-se ao bispo Edir Macedo.
Sobre o tema “desigrejados”, nomenclatura criada a partir da constatação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último Censo em 2010 de que existe atualmente no Brasil um grupo de evangélicos não praticantes, Caio rebateu as críticas feitas por líderes religiosos aos fiéis que deixaram de congregar e disse: “Igreja é impossível não haver, igrejas somos nós. Igreja é encontro. Eu me encontrei aqui contigo e esse é um encontro igreja”, simplificou Caio Fábio, que recusou a ideia de que o relacionamento com Deus possa ser delimitado por regras eclesiásticas: “Deus é loucura pura. Essa história de racionalizar Deus é uma idiotice na qual eu não caibo. A minha inteligência é grande demais para entrar em racionalismo a respeito de Deus. Deus é absurdo”.
Sobre as constantes polêmicas entre líderes evangélicos e ativistas gays, Caio Fábio disse que Jesus veria o movimento gay “do jeito que ele viu nos dias dele”, e trataria da mesma forma como os tratou antigamente.
“Tava cheio de gay, e o que ele fez? Nada. Tava cheio de puta. O que ele fez? Nada. Tava cheio de canalha, calhorda pra todo lado, e o que ele fez? Nada. Ele acolheu quem o procurou, não perguntou coisa nenhuma. Não estava na pauta de Jesus e nem está. Essa pauta aí é uma pauta moral, ideológica, uma pauta da fragilidade da religião que introjeta culpa nas pessoas e exacerba o maior movimento de compulsão psicológica justamente para aquilo que eles proíbem”, conceituou.
O reverendo criticou ainda a ênfase dada ao tema nas igrejas evangélicas: “Pegue uma estatística e vá ver proporcionalmente neste país, onde existe a maior eclosão de compulsão gay. Nada alcança o movimento evangélico. É uma viadagem só. Você fica dizendo ‘cuidado, se virar viado é do diabo. Se tiver um comichão no furicolingo é satanás’. Tudo é diabo. Você cria meninos dizendo cuidado com o diabo e até o teu sexo natural, a tua heterossexualidade é do diabo. Tudo é do diabo. A homossexualidade então é o diabo… Uma ‘bronha’ ta danado. É tudo culpa, tudo pecado. Conclusão: uma sociedade que só introjeta pecado, vai produzir só tarados. É simples como qualquer análise psicológica te diria”.
Criticando severamente a forma como as igrejas evangélicas abordam os problemas sociais, o reverendo foi taxativo ao dizer que atualmente quase não há contribuição para que o país se torne melhor: “Não tem jeito dos evangélicos melhorarem enquanto eles piorarem o mundo para todos. Eles vão ser sempre os piores do mundo que eles pioram para os outros”.
Danilo Gentili questionou o reverendo se ele havia feito sexo antes do casamento. A resposta deixou o apresentador boquiaberto: “Com cinco anos. Tinha uma babá do meu irmão que tinha 15 e resolveu me pegar. Me viciou. Nunca mais parei, até hoje”, disse Caio. Gentili insistiu no assunto e perguntou: “Você ta falando sério? Com cinco anos? Você tinha noção do que você tava fazendo com uma babá?”. A resposta foi simples e objetiva: “Fui tendo [noção]. Primeiro eu só tinha alegrias, uma coisa gostosinha, ficava ali e ela vinha – aquela moça grande eu pequeno -. Depois de um ano, eu dizia ‘tomara que papai e mamãe vão pro cinema de novo’, porque era só quando eles iam pro cinema à noite. Eles iam três vezes por semana, e eu ficava torcendo para eles irem todo dia”, narrou Caio Fábio.
“Depois que eu me converti, isso tudo virou passado. A gente está conversando aqui de tempos acerca dos quais eu não tenho nenhum problema com eles, porque tudo que fez parte da minha vida faz parte da minha saúde hoje”, explicou.
Repercussão
Os evangélicos que assistiam ao programa criticaram Caio Fábio de forma dura: “Caio Fabio foi abusado quando criança e fez apologia ao abuso que na verdade é caso de Pedofilia… Meu Deus onde estamos?”, escreveu a psicóloga Marisa Lobo no Twitter.
Caio Fabio foi abusado quando criança e fez apologia ao abuso que na verdade é caso de #Pedofilia..Meus Deus onde estamos?
— PSICOLOGIACRISTÃ (@marisa_lobo) 24 junho 2014
Sobre o conteúdo da entrevista, Marisa lamentou as palavras do reverendo: “Com todo respeito Caio Fábio, mas o senhor perdeu o juízo, que vergonha senti do senhor agora. Que Deus tenha piedade de sua alma ferida. Sabemos que existe gente podre em nosso meio Caio Fabio, mas o senhor não tem o direito de ofender nossa fé dessa maneira. Acaso o senhor é exemplo?”, questionou, antes de acrescentar: “Ele podia sim criticar os falsos profetas pois eles existem, mas não tinha o direito de generalizar”, protestou.