Felipe Heiderich vem retomando seu ministério, atendendo a convites para pregar e contar seu testemunho de absolvição da acusação de abuso sexual contra seu ex-enteado, filho da cantora Bianca Toledo, mas diz que ainda recebe ameaças de morte e tem medo de ser assassinado.
Ele concedeu uma entrevista e também fez uma publicação no Facebook sobre sua retomada ministerial, explicando os motivos de ter se mantido afastado do púlpito enquanto sua sentença não era expedida pela Justiça.
“Sempre defendi um princípio: Se há uma investigação sobre alguém, alguma lideranca, essa pessoa precisa ser afastada para que a noiva não sofra a penalidade. Se for condenado, que permaneça afastado e pague o que for necessário; se inocentado, que seja restaurado com honras”, declarou o pastor.
Heiderich afirmou que sempre agiu dessa forma em seu ministério, e “se não aplicasse o mesmo princípio a mim, seria hipocrisia”, e acrescentou: “Hoje, quando subo ao Altar, tenho não só as mãos limpas e inocentes, mas também uma justiça humana que ratifica isso”.
Assista:
Novas revelações
Meses após a absolvição na Justiça, com parecer do Ministério Público pedindo que ele fosse inocentado, o pastor Felipe Heiderich concedeu uma longa e abrangente entrevista falando sobre o período que passou internado contra sua vontade, preso em Bangu e as ameaças de morte que recebeu após obter um habeas corpus.
Ele e Bianca Toledo causaram rebuliço com uma cerimônia de casamento vista por muitos, à época, como o ápice de um conto de fadas. A cantora, que vinha se recuperando de uma internação de meses após ficar à beira da morte por conta de uma infecção, se mostrava radiante e feliz.
A história sofreria uma reviravolta surpreendente em 2016, quando a cantora acusou Felipe Heiderich de ter estuprado seu filho de apenas cinco anos de idade, além de fazer insinuações sobre a sexualidade do pastor e sua fé.
Confira abaixo a íntegra da entrevista ao portal Pleno News, e que o pastor faz novas revelações sobre o período em que ficou casado com Bianca Toledo:
Você é de Minas Gerais. Como chegou ao Rio e conheceu a Bianca Toledo?
Minha família é formada por agricultores e cafeicultores e vivi em meio a fazendas e bichos. Aos 20 anos, vim para o Rio para fazer seminário teológico. Sou de família presbiteriana e queria entender mais de Deus. Comecei como auxiliar de uma igreja presbiteriana. Depois passei quatro anos e meio pastoreando em Caxias e cuidando de mais de 200 famílias, oferecendo vacina, roupas, alimentação, dentista, documentação. Nessa época, fundei a ONG Eu Não Estou Só.
Certa vez, eu estava pregando nas igrejas, comecei a fazer programas de rádio e conheci a Bianca. Foi pelo Twitter. Eu era colunista do site Eu Escolhi Esperar, do pastor Nelson Junior, e vi que ela retuitou algumas das minhas frases. Fui ver quem era, gostei e puxei papo. Namoramos pouco mais de um ano, nos casamos e passei a ser membro da Igreja Batista Atitude.
Você percebia algo estranho da parte dela durante o namoro?
Naquela época, a Bianca não era tão conhecida. Ela saiu do coma em 2011, nos conhecemos em 2012 e casamos em 2013. Ela tinha muitas atitudes estranhas. Entre elas, a maneira de falar com as pessoas. Fui criado na roça e lá você cumprimenta todo mundo. Ela não era assim. Sempre achei que era a questão do coma, que era um campo de defesa. Mas existe uma diferença entre ser seco e ser mal educado. De certa forma, era uma desculpa que eu me dava para encarar a realidade, já que eu estava extremamente apaixonado.
Como era a relação dela com o filho?
Todo muito vai dizer que era ótima, mas não era. Quando conheci a criança, ela tinha dois anos, ainda não falava e sentia muita ausência do pai biológico, que Bianca não deixava ver. Sempre me dei muito bem com crianças e sempre quis ter muitos filhos. Quando vi uma mulher, que a princípio havia sido abandonada e tinha passado por tanta coisa, e um filho, que estava aparentemente desprotegido, eu via como se Deus estivesse me dando dois presentes como um só. Eu ia ter a oportunidade de aprender a ser pai antes de ter meus próprios filhos.
Como era a convivência entre vocês após o casamento?
Fui apaixonado num nível absurdo ao ponto de comprar todas as brigas para defendê-la de qualquer coisa. A convivência era muito difícil por causa do temperamento dela. Quando você é cristão, ao invés de pedir ajuda externa, você simplesmente foca na ajuda de Deus. Então, eu passava muito tempo só orando. Mas achava que eram crises normais de casamento e que não justificavam um divórcio.
A gente tinha um relacionamento sexual muito ativo, mas ela nunca gostou muito de toque, de muito abraço. Sei que não sou a melhor pessoa para conviver. Nem vou posar de santo porque teve dias em que eu me irritava. Cada um tem a sua parcela de culpa.
Você chegou a conversar com o primeiro marido?
Sim, mas, infelizmente, eu só tinha o que ela dizia sobre ele. Ela dizia que ele tinha transtorno de personalidade, tinha muitos casos extraconjugais, não gostava de trabalhar e tinha a abandonado. E quando você ouve isso, você pensa em como um homem é capaz de abandonar alguém no leito de morte. Eu já tinha um prejulgamento. Depois vi que ele era um doce de pessoa, assim como a atual esposa.
Percebeu alguma mudança nos dias que antecederam toda a polêmica?
Teve um dia em que ela quis mudar o regime de bens do casamento. Casamos em comunhão parcial, mas ela queria mudar para separação total para que minha família não herdasse alguma parte. Eu falei que não precisava, que faria um testamento, mas ela ficou muito irritada. Tivemos uma briga séria e passamos quase um dia inteiro sem nos falar. Eu tinha uma regra de que a gente não podia dormir fora do quarto, estando bem ou mal. Mas nesse dia ela dormiu na sala.
O estranho é que dois dias antes, no domingo, estávamos juntos na igreja que fundamos, a Aliança Mundial de Evangelização e Ensino (AME). Quando cheguei do trabalho, no dia seguinte à briga, os empregados e a criança não estavam em casa. Ela disse que o filho tinha sido estuprado e tinha descoberto que eu era pedófilo, homossexual, satanista e que fui enviado para destruir o ministério dela.
Qual foi sua reação diante das acusações?
Comecei a rir achando que era uma pegadinha. Depois entrei em choque porque era tão absurdo que entrei em desespero. Ela saiu de casa e entrei em contato com os pastores de Dallas – a quem ela estava subordinada. Mas já estava tudo armado e eles faziam parte dessa armação.
Eu precisava dormir e tomei algumas gotas de remédio. Acordei com uma ambulância na porta e descobri que o meu motorista, que era amigo da Bianca, me levou para o hospital Lourenço Jorge, alegando que eu tinha tentado me matar. O hospital emitiu um laudo dizendo que eu estava completamente são.
Falei para irmos para casa e o motorista disse que precisávamos de uma ambulância. Ele ficou com meu telefone e me mandava repetir algumas coisas e depois fiquei sabendo que tinha frases minhas de áudios salpicados, dizendo que eu iria me matar. A ambulância chegou e começou a andar por ruas esburacadas. De repente, me injetaram uma coisa no braço, eu apaguei e acordei no hospício. Eles me internaram, dizendo que eu tinha tentado me matar, que eu era estuprador, sofria de Borderline, tinha múltiplas personalidades, era bipolar e psicopata.
Eles me mantiveram recluso, sendo drogado, sem conseguir nenhum contato externo por oito dias até a minha mãe me localizar e me resgatar de lá. Durante oito dias, fiquei amarrado a uma maca e uma mulher do meu lado dizia que eu não era Felipe, que eu tinha dupla personalidade, que me acharam na rua. Eu passava as noites recitando Salmos e orando para manter minha sanidade. Mas lá pelo sétimo dia, eu já não acreditava mais que era Felipe.
No oitavo dia, eles falaram que eu teria uma consulta com o médico. Quando cheguei, estavam minha esposa, um advogado e um pastor vindo de Palmas com um papel para eu assinar, anulando meu casamento. Eles falaram que, se eu assinasse aquele documento, eles não dariam queixa na Polícia por causa do estupro. Eu teria que alegar que não consumamos o casamento durante três anos e deixaria tudo no nome dela e a liberaria para se casar novamente.
Como você reagiu diante desse pedido e com a Bianca na sua frente?
Eu comecei a rir de novo porque aquilo era ridículo. Falei que não ia abrir mão do meu casamento porque eu amava aquela mulher, amava minha família. Eles conseguiram uma ordem de restrição e eu seria preso se não assinasse. Falei que não ia assinar e que ia lutar por ela até o último minuto. Eles foram até a Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) e convenceram a delegada de que eu era perigoso. E formaram uma força-tarefa para me caçar no Rio de Janeiro. Em menos de 24h houve uma denúncia, um inquérito aberto e um pedido de prisão decretado, coisa que não acontece sem flagrante e sem investigação, sem laudos e sem ouvir as testemunhas ou o acusado. Eu sequer pude voltar em minha casa para buscar uma camisa. Ela tinha todas as procurações de plenos poderes e passou tudo para o nome dela.
Como era o ambiente no hospício?
Quem entra no hospício acha que é como um spa porque tem piscina, piquenique e umas casinhas de aconselhamento. Só que ninguém sabe que lá no fundão tem uma prisão com grades, onde ficam os casos absurdos. Fiquei no quarto com malucos que defecavam na mão e esfregavam na parede e gritavam a noite inteira, pessoas com abstinência de drogas pesadas que quebravam e espancavam todo mundo. Por causa disso, desenvolvi Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Dependendo do barulho, da voz ou do cheiro, eu fico revivendo as sessões de tortura. Você não faz ideia do que é ser privado de sono com mais oito pessoas gritando no mesmo quarto.
Como conseguiu sair de lá?
A secretária executiva e os funcionários da minha empresa começaram a questionar minha ausência. Bianca disse que eu estava em casa e passando mal. No quarto dia, essa secretária insistiu em questionar e minha esposa disse: “Você acha que eu matei ele, esquartejei e escondi no quintal?” Diante dessa frase, a secretária entrou em contato com a diretoria da igreja para acionar minha família. Minha mãe bateu em tudo o que é lugar até achar a clínica onde eu estava em Vargem Pequena, Zona Oeste da cidade. A clínica só me liberaria se eu assinasse o termo do meu casamento. E eu não tinha mais para onde ir. Bianca tinha acesso à todas as minhas redes e nunca tive nada a esconder. Então, ela fez uma lambança com meu nome, mandou nudes para os meus amigos, falou que eu era gay, montou fotos minhas com olhos negros em rituais satânicos. Depois entregou meu computador e meu celular à Polícia para fazerem uma perícia a fim de provar como eu era um monstro. A perícia descobriu que todas as coisas ali tinham sido colocadas no período em que eu estava internado no hospício.
Como foi a sua prisão?
Descobri que havia um pedido de prisão para mim e aí “a ficha caiu”. Eu achava que a Bianca estava sendo influenciada por alguém que queria destruir o nosso casamento ou pegar a igreja. Busquei um advogado que pudesse me atender “fiado”. Era um criminalista muito sagaz e viu que eu havia caído em uma armadilha.
Cheguei na DCAV, dei meu depoimento e o detetive disse que eu era inocente. A delegada também reconheceu a besteira que tinha feito, mas o juiz já havia emitido uma ordem de prisão. Passei a primeira noite no chão da delegacia, esperando o Habeas Corpus sair. No dia seguinte foi troca de turno e os detetives que assumiram não sabiam da história e me trataram como um monstro. Fui colocado num camburão com 16 pessoas e fui para Complexo Penitenciário Bangu 10. Não havia nem um documento para provar que eu tinha Ensino Superior. Lá me colocaram nu, rasparam minha cabeça e perguntavam qual era o meu artigo. Começaram a me bater porque eu não sabia que era o 217-A. Os carcereiros me jogaram nu na cela, disseram que eu era estuprador e quem me estuprasse primeiro não iria apanhar.
Naquele momento, pelado e de cabeça raspada, fiz uma oração: “Deus, que eu morra rápido porque não vou aguentar ser rasgado e dilacerado dia após dia aqui”. Terminei a oração entregando meu espírito e a oração da cruz fez sentido pra mim. Fui para um canto imundo, esperando que alguém começasse a me bater. Mas um preso me deu uma camisa branca, outro me deu um short e outro me deu uma havaiana, que tenho até hoje.
Fiquei quieto durante dois dias até que alguém me reconheceu e me pediu para falar de Jesus, mas eu não tinha a menor capacidade. Quando tomei uma surra dos carcereiros, eles falaram que eu apanharia se falasse de Deus ou orasse.
No quarto dia, eu já estava em todos os jornais. No Plenário, Magno Malta, então senador, chegou a falar que eu tinha que receber a pena de morte. O diretor do presídio queria saber quem eu era. Quando descobriram, acharam que eu não estava mais vivo e como iriam justificar isso para a mídia. Mas me acharam intacto e, por precaução, me colocaram isolado em uma cela sem ninguém. Eles me deram um colchão e um lençol e, pela primeira vez, pude beber água. Sete dias depois, o mesmo juiz que mandou me prender, mandou me soltar.
Quanto ao seu enteado? Algum exame chegou a ser feito na criança?
Foi feito um exame psiquiátrico que deixou claro que ele não foi violentado, mas que foi induzido a mentir. Em todas as declarações, a Bianca diz que é a vítima, que Deus está honrando o ministério dela, que está protegendo a igreja. Só que nenhum pai ou mãe pensa nisso como prioridade, só pensa na criança. Levei seis meses para, de fato, acreditar que eu estava lidando com uma pessoa que tinha planejado tudo.
Na época surgiu até o depoimento das babás. O que é verdadeiro nessa história?
Uma babá disse que viu a criança sem fralda uma vez. Essa babá cuidou dele um tempo atrás, mas foi dispensada por mim porque tinha problemas com higiene. Ela não lavava a mamadeira e os pratos. Uma vez, ela passou mal, vomitou no quarto dele e não limpou.
Tínhamos sistema de monitoramento com câmeras e babás eletrônicas. Eu, a mãe, as babás e as avós tínhamos acesso pelo celular. A própria promotora questionou isso. As outras duas babás disseram que queriam que eu fosse pai delas por tratar meu enteado tão bem. Isso de que as babás depuseram contra mim não existe. Elas foram chamadas pela Promotoria, mas depuseram a meu favor.
Quanto às acusações de que você seria homossexual?
Ela também acusou o primeiro marido assim. Ela quis me desconstruir de todas as formas. Fui criado num ambiente com muitas mulheres, não sou um símbolo de masculinidade, não sou grosso, mas tenho uma personalidade bem embasada. Eu gesticulo muito, trato as pessoas com muito carinho e abraço todo mundo. Então, por causa disso, ela aliou uma coisa a outra porque, se não confirmasse a pedofilia, pelo menos ela destruiria meu ministério dizendo que eu era gay. Fui extremamente fiel nos três anos de casamento e não olhei nem para a direita e nem para a esquerda porque eu era apaixonado num nível muito absurdo.
Acredita que houve uma falha da sua parte durante o casamento?
Óbvio! Somos seres humanos. Se eu não disser que não tem minha parte, a que nível está a arrogância e a prepotência? Eu poderia ter sido muito mais enfático com alguns desvios que ela teve, mas fui omisso e a omissão é um erro muito sério. Quando você deixa de fazer algo que deveria ter feito é a mesma coisa que fazer algo errado.
Algum dos amigos famosos e pastores chegaram a acreditar em você?
Tirando a minha família, que acreditou 500% em mim, de todos os famosos que frequentavam a minha casa, 95% foram contra mim. Dos 5% que ficaram a meu favor, alguns falaram que não iam se manifestar e comprar essa briga. Raríssimas pessoas tiveram coragem de “dar a cara a tapa” como o Jonathan Nemer e a família dele. A maioria me bloqueou nas redes, apagou as fotos, me excluiu do WhatsApp. E, se eu estivesse em um lugar, atravessava a rua para não falar comigo.
Chegou a questionar Deus ou a perder a fé nesse período?
A fé é uma coisa tão complicada de tentar explicar que eu não perdi. Muitas vezes, questionei a Deus em tardes de conversas sinceras com Ele. Eu estava sendo perseguido, ameaçado, me tiraram a voz, a igreja estava sendo levada por uma mentira. Nesses três anos, eu aprendi que ter fé é passar pelo vale da sombra e da morte, com todas as dores, e não ter profecias, amigos, revelações, anjos. Só você, Deus, o silêncio e ainda assim continuar crendo.
Pensei em desistir várias vezes. Os pastores de Dallas assinaram um termo para que nunca mais eu entrasse em uma igreja porque eu era uma vergonha para o Evangelho. Mas quando você ama a Deus e é chamado para isso, você chora, mas continua ajoelhado. Eu não suporto o que estou vivendo, mas não consigo abrir mão do Senhor.
Como foi quando finalmente obteve sua absolvição?
Foram três anos, não três dias. Perdi 25 kg, definhei, minhas emoções estão extremamente confusas ainda. As pessoas perguntam se eu vou casar de novo, mas eu ainda preciso arrumar o coração que está dentro de mim. Muitos falam que tenho que casar de novo e encontrar uma pessoa boa para cuidar de mim, mas isso não é relacionamento.
O grande matemático Pitágoras dizia que eu não posso colocar um doce novo num pote sujo se não vou estragar o doce. Então, como vou pegar um coração que ainda está se recuperando e entregar para outra pessoa? Vou colocar um peso em cima dessa pessoa e vou frustrar algo que poderia ser incrível. Mas não nasci para ser solteiro, não tenho vocação para o celibato.
Eu tinha pedido a Deus para que o Ministério Público me absolvesse porque ele tem a única incumbência de culpar uma pessoa. No processo existem 57 páginas, relatando o quão inocente eu era e refutando cada uma das teorias. Quebraram sigilo telefônico e bancário de um monte de gente, vasculharam tudo o que você possa imaginar e chegaram à conclusão de que eu era absolutamente inocente.
Não tem como modificar o processo porque ele está todo lá. Inclusive, o terceiro casamento da Bianca colaboraria para a minha inocência, já que ela colocou uma pessoa dentro de casa meses depois. Como alguém tem um filho estuprado e coloca outro homem dentro de casa?
Minha defesa é algo que foi dirigido pela mão de Deus. Levou três anos de dor, de deserto e de sofrimento. Pensei que iria morrer e ainda temo pela minha vida. Sei que Deus fará justiça e ela será relevante para a nação e para a Igreja. Recebi tantas ameaças de morte, com arma, com faca, com pessoas dizendo que sabem onde moro e que estão vigiando tudo. Tem tantas pessoas poderosas envolvidas que eu sei que posso morrer a qualquer momento.
Como fez para encontrar outra casa e pagar suas contas?
Eu ainda moro de favor e tudo meu não foi devolvido. Todos aqui sabem quem eu sou, mas me tratam com respeito. Estou sobrevivendo de oferta, mas não porque estou pregando porque nunca cobrei para pregar. Algumas pessoas enviadas por Deus pagam meu condomínio, minha luz, minha internet e me mandam uma cesta básica. É um desafio para mim, que sempre tive muito. Mas há uma preocupação porque vivo do que Deus envia. Assim como eu não sei se amanhã continuarei vivo, não sei se essas pessoas continuarão ajudando.
Como está sua família atualmente?
Eles gastaram o que tinham e o que não tinham para manter o básico e pagar os extras, mas estão destroçados. Minha mãe definhou e foi para Minas recentemente. Ela vivenciou tantas ameaças e tanta maldade. As pessoas são muito cruéis. Até dois meses atrás, eu recebia 20 ameaças de morte por dia, hoje talvez receba uma por semana.
Quando teve coragem de retornar às redes sociais?
Eu consegui recuperar o acesso porque minhas redes eram verificadas, mas já havia um estrago absurdo. A primeira vez que apareci foi depois da absolvição. Antes eu só postava frases e apagava quem me xingava. Mas, nesses três anos, amadureci com as críticas. Diante do que passei é muito difícil alguém conseguir me desestruturar.
Você contou com algum pastor ao seu lado nesses três anos?
Nenhum pastor me ajudou. Eu me humilhei pedindo ajuda. Um deles disse que, se eu estivesse na igreja dele, isso não teria acontecido. Liguei para um outro pastor amigo e eu disse que estava com inveja de Jó. Ele perdeu tudo, mas, pelo menos, ele manteve a casa, a esposa e tinha quatro amigos, que detonaram a sua vida, mas não saíram do lado dele. Eu estava precisando de alguém para sentar do meu lado e orar comigo. Essa pessoa falou que, a primeira coisa que faria quando chegasse ao Rio de Janeiro, seria vir na minha casa. Estou esperando até hoje. Muitos voltaram depois que saiu a absolvição, mas muitos não farão isso porque vão ter que reconhecer que estavam errados e pessoas famosas tem o ego mais forte do que o temor a Deus.
Você congrega em alguma igreja hoje em dia?
Às vezes, vou na Lagoinha Barra. Pelos riscos, os pastores sabem da dificuldade que é me ter ali. Tem muita gente que vem me abraçar e falar que orou. Na igreja onde preguei, em Irajá, eles disseram que oraram por mim. É muito bom porque você vai sendo curado. A Lagoinha sabe tratar isso e é a igreja que tem me acolhido.
Como foi seu retorno aos púlpitos?
Eu voltei no dia 13 de julho em Campo Grande (RJ). Eu estava muito nervoso e com medo. Eu recebi convites para pregar durante esses três anos e recusei todos veementemente com a mesma justificativa: a Igreja de Cristo está doente, está manchada e as pessoas estão olhando para a Igreja com ar de desconfiança. Eu não podia subir ao altar enquanto não pudesse provar que a minha versão era a verdadeira, mesmo eu sendo inocente. Quando saiu minha absolvição, eu tinha um documento. Eu voltei, fiz minha primeira pregação e foi muito estranho. Muitas igrejas querem ouvir um pouco da história, mas não nasci para dar testemunho. Nasci para falar das coisas de Deus e das obras de Jesus Cristo.
Você escreveu no Facebook que “as pessoas mais fortes têm a alma marcadas por cicatrizes”. Então, como estão as suas cicatrizes nesse momento?
Talvez quando as pequenas cicatrizes saírem, eu consiga ver a grandona que está embaixo. A minha luta durante esses três anos foi para que Deus não me permitisse ter um coração amargo por causa do que fizeram comigo. Eu ainda estou me sarando das cicatrizes leves, mas eu acho que a maior de todas não foi ser chamado de pedófilo, satanista e gay. Foi entregar o coração com uma pureza, confiar tão plenamente em alguém e descobrir que aquela pessoa simplesmente fez toda a maldade porque ela precisava de mais uma história de drama para continuar vendendo livro. Eu fui apenas uma mercadoria para a fama e me senti tão inútil, tão nada. Essa cicatriz é mais profunda. Quando ela for curada, talvez eu esteja pronto para amar outra mulher.
Pensa em entrar com uma ação contra o Magno Malta?
Eu só fiz um pedido a Deus: que ele não tivesse nenhum cargo que lhe desse foro privilegiado e Deus me atendeu. Acho que foi o único pedido que Deus atendeu junto com ser absolvido pelo Ministério Público. O silêncio de Deus é muito difícil, o deserto é cruel e seco, tem tempestades de areia e não há equilíbrio. O deserto durante o dia é escaldante e a noite é congelante, não há equilíbrio. Sobre todas as pessoas que diretamente fizeram tanta maldade, a Justiça cuidará delas. Eu não nasci para processar pessoas, eu nasci para falar de Cristo.
Como foi ver a Bianca Toledo refazendo a vida enquanto você estava passando por tudo isso?
Ali eu já estava curado, não a amava mais. Primeiro você ama, depois você odeia. O oposto do amor não é o ódio. O ódio ainda é uma manifestação de amor porque é uma mágoa de algo que você entregou, mas não foi correspondido. As pessoas mandam as coisas dela pra mim, mas eu bloqueei porque é terapêutico. Eu já sabia que ela teve namorados durante esse período, mas quando ela casou de novo, eu já tinha passado pelo processo do luto que inclui o ódio e a raiva, eu já estava indiferente. O oposto do amor não é o ódio, é indiferença. A Justiça sim fará valer e dessa eu não abro mão porque se eu não for instrumento de Deus para que a justiça seja feita com ela, ela vai continuar fazendo maldade.
Pensa em escrever um livro sobre tudo o que aconteceu?
Eu já estou escrevendo sobre todas as ameaças, todo o processo da prisão, o cárcere, a maldade do coração e espero um dia conseguir falar desse livro em duas partes: a primeira narrando os fatos e a segunda sobre como lidar com as emoções decorrente desse fato, com todos os transtornos da alma e como superar e manter a fé. Minha fé não é inabalável, mas é baseada em alguém que é inabalável.
E quem é o Felipe Heiderich hoje?
Sou alguém que passou por tudo e conseguiu não se perder. Fiquei muito menos ingênuo, era amigo de todo mundo e hoje não consigo. Tenho dificuldade de acreditar na pureza do coração humano. Eu conheci o pior lado, mas ainda acredito que existam pessoas que têm um lado bom. Hoje tenho medo porque não sei se a pessoa que está se aproximando está vindo me fazer mal. Hoje me tornei alguém mais cauteloso.