A adoção de um discurso mais agressivo contra a militância LGBT por parte de algumas lideranças cristãs já não é novidade, mas o pastor Murray Watkinson, da Nova Zelândia, tornou-se centro de uma nova discussão ao afirmar que a bissexualidade é como se uma pessoa branca fingisse ser negra.
Durante um sermão no início deste mês, Watkinson comentou o episódio do assassinato de George Floyd nos Estados Unidos e, ao invés de repudiar o crime, chamou atenção para o passado da vítima, que já tinha cumprido pena na cadeia. Ele referiu-se ao homem como um “vilão”.
Watkinson deu a entender que pretendia realmente causar algum tipo de polêmica: “Quero continuar sendo controverso se possível”, disse, antes de atacar as pessoas que referem-se a George Floyd “como um herói”.
Ao longo do sermão na Celebration Church, na cidade de Christchurch, ele aproveitou para falar sobre pessoas pardas e também sobre bissexuais: “E se você é marrom e está dividido internamente? O que você fará é escolher um lado. E depois há aqueles que querem ser bissexuais… é como se os brancos fingissem ser pretos ou pardos”.
De acordo com informações do portal LGBT ObservatórioG, o pastor continuou seu discurso indicando que essas pessoas sofrem de crise de identidade: “Bissexuais não sabem quem eles são. Eu acho que eles não têm coragem. Eles não querem ofender ninguém, então eles vão cortar pra todo lado”.
A repercussão das declarações do pastor Murray Watkinson causou críticas a ele, inclusive por pessoas ligadas à igreja. Trina Watkin, uma ex-líder da congregação, afirmou que o sermão era uma “completa deturpação” da mensagem do Evangelho.
Ela também disse que estava “chateada” por notar que os fiéis presentes no culto riram durante o sermão de Watkinson, e acrescentou: “Este é o intolerante Murray. A diferença é que as pessoas têm ouvidos diferentes agora. As pessoas estão dizendo ‘oh não, isso não está bom’”.
Um dos fiéis presentes ao culto, que preferiu se manter anônimo, disse que havia decidido deixar de ir à igreja por causa do discurso de Watkinson: “Ele foi racialmente inapropriado e retratou não-brancos como seres humanos inferiores, e brincou e ridicularizou as pessoas de cor… seu discurso intolerante ainda incluiu gays e bissexuais, bem como transexuais”.
Os humores na Nova Zelândia andam exaltados nos últimos meses. Recentemente o país foi notícia por episódios de intolerância religiosa, como no caso da prisão do músico Jacob Lowestein, 28 anos, baterista de uma banda de black metal.
Lowestein foi preso na mesma cidade, Christchurch, em abril de 2019 por incendiar dois templos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, popularmente conhecida como mórmon. Uma das igrejas não foi destruída totalmente, mas a outra teve de ser demolida para poder ser reconstruída. Até ser preso, Lowenstein trabalhava como operador de máquinas que cortam madeira na cidade, além de se dedicar à música.
Meses antes, também em Christchurch, um extremista invadiu uma mesquita e matou muçulmanos enquanto eles faziam suas orações.