A escravidão atravessou diferentes períodos da história humana. No Império Romano, por exemplo, estima-se que cerca de 30% da sua população era de escravos. Dados como esse, levantados pelo antropólogo africano Tidiane N’Diaye, vão muito além do que a maioria conhece sobre o tráfico de escravos.
Em sua obra “O Genocídio Ocultado – Investigação histórica sobre o tráfico negreiro Árabo-Muçulmano”, Tidiane N’Diaye revela que por 13 séculos ininterruptos os árabes praticaram a escravidão de forma perversa, muito mais do que a escravidão europeia, que durou 4 séculos.
“O tráfico negreiro árabo‑muçulmano começou quando o emir e general árabe Abdallah ben Saïd impôs aos sudaneses um bakht (acordo), no ano de 652, que os obrigava a entregar anualmente centenas de escravos”, diz o autor na introdução do seu livro.
“A maioria destes homens era retirada das populações do Darfur. E foi este o começo da sangria humana que, aliás, só iria estancar oficialmente no início do século xx”, destacou.
“A escravatura árabe foi muito mais violenta”
Tidiane N’Diaye concedeu uma entrevista para falar das suas pesquisas. Ele revelou que o tráfico de escravos praticado pelos árabes muçulmanos foi ainda mais horrendo que o praticado pelos europeus, não apenas pelo tempo, que foi muito maior, mas também pela desumanidade.
“Os árabes-muçulmanos estão na origem da calamidade que foi o tráfico e a escravatura, que praticaram do século VII ao século XX. E do sétimo ao décimo sexto século, durante quase mil anos, eles foram os únicos a praticar este comércio miserável, deportando quase 10 milhões de africanos, antes da entrada na cena dos europeus”, disse Tidiane ao Jornal de Angola.
A castração dos escravos era uma prática comum entre os escravagistas árabes muçulmanos. Esse método horrendo visava evitar a reprodução dos grupos considerados “infiéis”, ou seja, que não se convertiam ao islamismo, segundo o antropólogo.
“Desde o início do comércio oriental de escravos que os muçulmanos árabes decidiram castrar os negros, para evitar que se reproduzissem. Esses infelizes foram submetidos a terríveis situações, para evitar que se integrassem e implantassem uma descendência nesta região do mundo”, explicou Tidiane.
“A castração total, a dos eunucos, era uma operação extremamente perigosa. Quando realizada em adultos, matou entre 75% e 80% dos que a ela foram sujeitos. A taxa de mortalidade só foi menor nas crianças que eram castradas de forma sistemática. Mas 30% a 40% das crianças não sobreviveram à castração total”, completou.
No fim das contas, a escravidão marcou a história humana como algo vergonhoso e foi praticada por diferentes povos, inclusive entre os próprios povos africanos, muito antes que os europeus colonizassem as suas terras, por volta do ano 1660 a 1790, segundo o pesquisador.
“A escravatura interna existia antes e durante o tráfico árabo-muçulmano e transatlântico [europeu]. Foram os árabes muçulmanos que começaram o tráfico de escravos em grande escala”, disse Tidiane, que conclui:
“Como Fernand Braudel apontou, o tráfico de escravos não foi uma invenção diabólica da Europa. São os muçulmanos árabes que estão na origem e o praticaram em grande escala.”.