Há tempos que a esquerda almeja (e trabalha) para minimizar e, ao longo dos anos, apagar a importância histórica do cristianismo na fundação da sociedade ocidental, assim como no estabelecimento de valores e conceitos. Uma demonstração dessa aversão à fé cristã foi dada na última terça-feira, 14 de maio, quando se realizou uma sessão solene na Câmara dos Deputados para celebrar os 131 anos do fim da escravidão no Brasil.
Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), trineto da princesa Isabel – responsável pela articulação da chamada lei Áurea, que libertou os escravos – usou a tribuna no Plenário da Câmara para discursar e foi vaiado por parlamentares de esquerda no momento em que afirmou que o trabalho de sua trisavó teve, no cristianismo, uma inspiração e um apoio essenciais.
Tratado como “príncipe” nas redes sociais, Luiz Philippe é herdeiro direto da família imperial brasileira, expulsa do país durante o golpe militar de 1889 que derrubou o Império e fundou a República. Em seu discurso, ele fez um apanhado de dados históricos sobre o fim da escravidão, recapitulando fatos ocorridos na Grécia antiga até a consolidação no Brasil, em 1888, um dos últimos países a adotar a medida.
O parlamentar afirmou que a escravidão “é parte da natureza humana” da mesma forma que outras mazelas cometidas pela humanidade ao longo da história, mas que a consciência de se combater essas atrocidades faz parte do movimento de amadurecimento da civilização, e que diante do conhecimento a respeito do mal causado por essas atrocidades, é preciso tomar uma posição de combate para evitar que os episódios se repitam.
No momento em que Luiz Philippe de Orleans e Bragança afirmou que o cristianismo exerceu papel fundamental na criação da consciência de que a escravidão no Brasil não deveria mais existir, o “príncipe” foi vaiado por um grupo de manifestantes do movimento negro, liderados pelos deputados de esquerda Erika Kokay (PT-DF) e Talíria Petrone (PSOL-RJ).
“Se não fosse o cristianismo, não haveria libertação de escravos na Europa. Os valores cristãos criaram sim o fim da escravatura nas tribos europeias, deram o norte moral para as famílias fundadoras, encabeçando os seus territórios e nos seus territórios eles declararam o fim da escravatura”, afirmou, contextualizando fatos históricos.
O parlamentar seguiu em seu discurso, listando dois fatores importantes para garantir o fim da escravidão: a criação do Estado e o norte moral dado pelo cristianismo, além de citar o papel relevante exercido pela Igreja Católica fia defesa do fim da escravidão nos países fora da Europa, como por exemplo no Brasil, que teve dois momentos mais decisivos: a promulgação da Lei do Ventre Livre, em 28 de setembro de 1871 (que garantia liberdade aos filhos nascidos de mulheres escravas) e a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.
Veja o discurso do deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança:
Aversão ao cristianismo
Conceitos e valores que se consolidaram como parte da fé cristã e das tradições e culturas influenciadas por essa religião se tornaram fortes pontos de resistência às filosofias e ideologias que formam a visão política da esquerda. Dessa forma, ao longo dos séculos, os principais formadores de opinião desse movimento – que existe com força em escala global – sempre apontaram o cristianismo como um inimigo do avanço de sua visão de mundo.
Mais recentemente o Brasil experimentou um avanço do pensamento de esquerda de forma mais chamativa. De um lado, a partir de 2012, sob o governo de Dilma Rousseff (PT) – o mais radical das administrações comandadas pelo Partido dos Trabalhadores – iniciou-se um movimento de convencimento de cristãos evangélicos, com o chamado movimento de “cristãos progressistas”, ou “evangélicos de esquerda”.
Essa iniciativa se tornou organizada a partir de uma declaração do então ministro Gilberto Carvalho (PT), no Fórum Social Mundial de 2012, em Porto Alegre (RS), de que era preciso, para o governo petista, disputar a formação de opinião com as igrejas evangélicas, reduzindo assim a influência das diferentes denominações sobre as classes mais baixas em termos socioeconômicos.
Desse “gatilho” dado pelo então ministro, movimentos simpáticos à esquerda que existiam com menor expressão dentro do meio cristão passaram se organizar para ocupar posição de destaque.
O mais expressivo nesse período foi o grupo conhecido como TMI (Teologia da Missão Integral), liderado pelo pastor Ariovaldo Ramos com o apoio de outros renomados pastores de igrejas tradicionais, como Ed René Kivitz, por exemplo. O movimento difundiu compreensões teológicas simpáticas a ideais socialistas, sempre apresentados como uma faceta da justiça social orientada pelo Evangelho aos seguidores de Cristo.
Com a derrota nas eleições presidenciais em 2018, Fernando Haddad já anunciou que o PT pretende intensificar essa estratégia de influência sobre as igrejas evangélicas, para tornar o segmento mais receptivo ao progressismo.
O segundo ponto que marca o recrudescimento da esquerda no Brasil foi evidenciado no projeto de Base Nacional Comum Curricular apresentado pelo Ministério da Educação em 2015, quando se propôs reduzir os conteúdos históricos tratados nos ensinos Fundamental e Médio no Brasil. Com essa proposta, o governo Dilma excluía questões ligadas à origem da sociedade ocidental, como por exemplo a influência do cristianismo nessa construção.
“O Ministério da Educação está preparando uma Revolução Cultural […] Sob o disfarce de ‘consulta pública’, pretende até junho ‘aprovar’ uma radical mudança nos currículos dos ensinos fundamental e médio — antigos primeiro e segundo graus. Nem a União Soviética teve coragem de fazer uma mudança tão drástica como a ‘Base Nacional Comum Curricular’”, denunciou à época o professor de História Marco Antônio Villa, em um artigo.
Em outro trecho do texto publicado em O Globo, Villa diz que a proposta tinha suas principais ousadias na parte do currículo que tratava de História durante o Ensino Médio: “Foi simplesmente suprimida a História Antiga. Seguindo a vontade dos comissários-educadores do PT, não teremos mais nenhuma aula que trata da Mesopotâmia ou do Egito. Da herança greco-latina os nossos alunos nada saberão. A filosofia grega para que serve? E a democracia ateniense? E a cultura grega? E a herança romana? E o nascimento do cristianismo? E o Império Romano? Isto só para lembrar temas que são essenciais à nossa cultura, à nossa história, à nossa tradição”, contextualizou o professor e analista político.
O projeto – que posteriormente foi reformulado após o impeachment de Dilma, omitia da história os dez séculos marcados pela “expansão do cristianismo e seus reflexos na cultura ocidental, o mundo islâmico, as Cruzadas, e as transformações econômico-políticas (sic)”.
A interpretação mais simples de se chegar é que, ao “apagar” a importância do cristianismo para eventos de relevância para a civilização, essa tradição perde importância e alcance nas gerações futuras, permitindo que surja uma sociedade moldada a partir dos valores da esquerda e suas principais facetas: o socialismo e o comunismo.