O bispo Hermes C. Fernandes, um dos mais ativos defensores do progressismo entre os evangélicos que se opõem aos principais líderes religiosos do segmento, saiu em defesa do youtuber Felipe Neto, a quem referiu como “voz profética”.
Fernandes, que dirige a Igreja Reina, é opositor do governo de Jair Bolsonaro e associou o repúdio abrangente que se percebe contra Felipe Neto a uma suposta ação coordenada dos apoiadores do presidente.
“Bastou que ele [Felipe Neto] usasse suas redes sociais para criticar o atual governo brasileiro, e que aparecesse no The New York Times referindo-se a Bolsonaro como ‘o pior presidente do mundo’ no trato da pandemia da COVID-19, para que o gabinete do ódio apontasse sua metralhadora de fake news em sua direção. Felipe Neto tem tido o seu nome associado à pedofilia, fato que já foi amplamente desmentido. A mesma metralhadora tem sido apontada na direção de artistas como a Xuxa, Chico Buarque, Caetano Veloso, e tantos outros, e até de políticos que abandonaram o barco bolsonarista depois de se desiludirem”, comentou o pastor.
Em seguida, Hermes C. Fernandes ecoa acusações, dizendo que as manifestações contrárias aos ideais progressistas partem de “robôs sempre prontos a disparar hashtags e notícias falsas”, e acrescenta que essa suposta estrutura organizada conta com “artilharia pesada de pastores que não se constrangem em usar suas próprias redes sociais para espalhar boatos e destruir reputações”.
Após acusar, o bispo diz que quem acusa cumpre o papel do diabo: “Alguns demonstram maior lealdade ao governo do que ao seu próprio chamado ministerial. Com isso, a igreja evangélica perde não apenas fiéis, mas também credibilidade e relevância. Qualquer um que se atreva a atravessar seu caminho, desafiando sua agenda moralista hipócrita e se opondo aos seus interesses políticos, deve ser massacrado sem misericórdia. Nem que para isso, tenham que vasculhar o passado de seus desafetos, fazendo o papel do diabo, o acusador”.
Em outro trecho, o pastor volta a acusar dizendo que a campanha que elegeu o presidente Jair Bolsonaro foi baseada em mentiras: “Bem fariam se recordassem das célebres palavras de Jesus: ‘Quem com ferro fere, com ferro será ferido’. Desafio-os a desertar das fileiras bolsonaristas para ver o que lhes acontece. Se não pouparam alguns dos pilares de sua funesta campanha eleitoral baseada em mentiras, o que não farão a pastores que se arrependerem de negociar o evangelho transformando-o em discurso de ódio?”, questionou o pastor.
Em março de 2019, segundo informações do portal G1, o ministro Luiz Edson Fachin, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), determinou que o candidato derrotado do PT à Presidência, Fernando Haddad, e sua coligação pagassem multa no valor de R$ 176,5 mil por impulsionamento irregular de conteúdo contra seu adversário, Jair Bolsonaro [à época no PSL], que venceu a disputa.
Esse fato, omitido na mensagem que o bispo compartilhou em sua página no Facebook, é seguido pela definição que o líder religioso faz dos opositores do movimento conservador que conta com muitos evangélicos em suas fileiras: “Enquanto pastores se associam ao desgoverno, vozes proféticas ecoam nas redes sociais através dos lábios e dos posts de pessoas como Felipe Neto, Gregorio Duvivier, Emicida e tantas outras”.
“O que me traz algum alento é saber que nem todo joelho se dobrou a este ídolo de carne e osso. Entre os pastores, há muitos comprometidos com o evangelho a ponto de arriscarem suas reputações. Poderia citar alguns nomes aqui, mas não o farei com receio de cometer alguma injustiça. Minha esperança é de que a igreja evangélica brasileira sobreviva a estes tempos odiosos, fazendo coro com os que clamam por justiça e não com os que alimentam o ódio e o preconceito”, finalizou.