A bancada evangélica recebeu, do presidente Jair Bolsonaro (PL), a sinalização de que, caso o projeto que propõe a legalização dos jogos de azar seja aprovado na Câmara, ele será vetado. Paralelamente, os deputados atuaram para impedir a urgência na votação do projeto na noite da última segunda-feira, 13 de dezembro.
O sinal de veto foi dado por Bolsonaro ao pastor Silas Malafaia, um de seus principais aliados e também um dos maiores opositores da regulamentação dos jogos de azar, que são proibidos no Brasil desde 1946.
Malafaia disse ter ouvido de Bolsonaro que o projeto é “absurdo”. O pastor também criticou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), por ter aceito pautar o requerimento de urgência para esse projeto.
“Falei com o presidente ao telefone após publicar meu vídeo, ele disse que vai dar veto. Falou que isso é um absurdo, que não colabora com a economia e que prejudica os aposentados”, resumiu o pastor.
Bolsonaro já havia feito essa sinalização em setembro, numa entrevista à revista Veja, dizendo que seria “natural” vetar o projeto, mas ponderando que havia a possibilidade de o Congresso derrubar seu veto posteriormente.
Contra-ataque
Ao mesmo tempo em que o lobby dos jogos de azar tem pressionado deputados para legalização, há uma ação intensa para que os parlamentares evangélicos consigam contra-atacar, conscientizando outros deputados sobre os males sociais que a atividade pode causar.
Na visão dos líderes evangélicos, se Bolsonaro vetar, os parlamentares ganhariam mais tempo para e articular: “90% da população brasileira ganha até cinco salários (mínimos). Isso é uma coisa tão desgraçada que só interessa a grupos econômicos poderosos e lavagem de dinheiro de corruptos. Não beneficia em nada a economia do país. Não venham aqui fazer comparações com Estados Unidos e Europa, que têm outro nível social”, disparou o pastor.
De acordo com informações do jornal O Globo, Arthur Lira fez reuniões nas últimas semanas com diferentes bancadas para tratar de projetos que seriam prioritários na reta final do ano legislativo, e ouviu dos evangélicos que sua prioridade seria barrar a legalização dos jogos de azar.
Por esse motivo, a inclusão do requerimento de urgência na pauta desta segunda-feira foi entendida pelos líderes evangélicos como um gesto sorrateiro de Lira.
Cezinha de Madureira (PSD-SP), presidente da bancada evangélica, discursou no plenário pouco antes do cancelamento da votação de urgência do projeto, afirmando que o grupo é “terrivelmente contra”.
“Já falei com o presidente Bolsonaro há um tempo e ele prometeu vetar a proposta. Mas nós vamos nos organizar para nem entrar na pauta”, afirmou Madureira ao jornal O Globo.
“Eu deixei claro ao presidente Arthur Lira que essa era uma pauta que não dava para votar de forma alguma. Disse que obstruiria se fosse para votação. O Brasil não está preparado para esse tipo de situação. Temos grande parte da população pobre e outra parte aposentada. Há estudos que mostram que os mais idosos são os grandes prejudicados pelo vício. E é um caminho que pode levar os jovens, inclusive, para as drogas”, acrescentou.
Já o afilhado político de Malafaia no Congresso, deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), declarou que Lira quebrou um acordo: “Ele descumpriu o que falou para gente, em reunião com 70 convidados. Ele falou que, se pautasse, seria em comum acordo”.