A Polícia Federal pôs na rua na manhã dessa terça-feira, 15 de dezembro, a Operação Catilinárias, derivada da Lava-Jato, para fazer buscas e apreensões nas casas e escritórios de diversos políticos, incluindo o presidente da Câmara dos Deputados, o evangélico Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o senador e ex-ministro das Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), e os ministros Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), do Turismo, e Celso Pansera (PMDB-RJ), de Ciência e Tecnologia.
A decisão que autorizou a operação foi tomada pelo ministro Teori Zavascki, que é o relator dos processos contra políticos acusados na Operação Lava-Jato que possuem mandato. O pedido de busca e apreensão foram feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Os principais noticiários de rádio e TV do país amanheceram o dia falando sobre o cerco que a PF fez na residência oficial do presidente da Câmara, na Península dos Ministros, em Brasília (DF) para recolher documentos e computadores. De acordo com a coluna Radar Online, da Veja, até o celular de Eduardo Cunha foi apreendido: “Ativo no WhatsApp, que usa para se comunicar em tempo real e a qualquer hora com aliados e jornalistas, Eduardo Cunha acessou o serviço pela última vez às 6h45”, informou o jornalista Severino Motta.
De um total de 53 mandados cumpridos pela PF na Catilinárias, um deles está sendo cumprido na Câmara dos Deputados, onde os investigadores vasculham as dependências da diretoria-geral da Casa.
No caso do ministro Pansera, que foi apontado pelo doleiro Alberto Youssef, um dos delatores do esquema de desvio de recursos da Petrobras, como “pau mandado” de Cunha, a busca e apreensão foi feita em sua residência, segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo. O mesmo acontece com Henrique Eduardo Alves, ex-presidente da Câmara dos Deputados e atualmente aliado de Dilma Rousseff (PT).
A ideia da operação de busca e apreensão nas residências dos suspeitos é que, de alguma forma, se encontrem vestígios dos crimes supostamente cometidos: “Segundo um delegado da cúpula da PF, os agentes sempre encontram algo relevante nessas ações. […] Por mais minuciosas que tenham sido a limpeza e a destruição de provas feitas pelos investigados, sempre fica algo para trás, um fio da meada que pode ser puxado ou que, às vezes, é a peça que faltava num mosaico bem mais complexo […] Os investigados sempre podem deixar propositalmente um documento para ser apreendido, para incriminar algum desafeto ou para livrar ele mesmo de alguma enrascada bem maior”, informou o jornalista Guilherme Amado, de O Globo.
A essa altura, os aliados de Cunha já deixam transparecer, de acordo com informações da coluna Radar Online, que “duvidam” que o presidente da Câmara tenha mantido “algum documento comprometedor em sua casa ou na residência oficial”.
Catilinárias
O título que batiza a operação da PF para buscar e apreender documentos e computadores na casa dos políticos foi inspirado em um fato histórico registrado em 63 a. C., no antigo Império Romano, quando um cônsul chamado Cícero denunciou o plano de um senador, Lúcio Catilina, para reunir aliados e derrubar o governo republicano a fim de obter mais poder e riquezas.
Para os procuradores da República, a denúncia de Cícero guarda muitas similaridades com a situação política atual do Brasil. Leia o primeiro dos quatro célebres discursos:
“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos? Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem? Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, em que local estiveste, a quem convocaste, que deliberações foram as tuas?”.