As investigações de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Trabalho Escravo, instaurada na Parlamento nacional no final de março de 2012, culminou no fechamento de uma oficina de costura que trabalhava para a Talita Kume, grife feminina que tem como mercado principal as evangélicas.
Na oficina, que funcionava em um sobrado localizado na Zona Norte de São Paulo, foi resgatado um grupo de oito pessoas, em condições análogas à escravidão. De acordo com matéria da repórter Bianca Pyl, do Repórter Brasil, que acompanhou a fiscalização, no sobrado viviam duas famílias e mais três jovens, entre eles um rapaz de 17 anos, que costuravam peças femininas de roupa em situação de trabalho escravo. A fiscalização encontrou também 2 crianças no local, filhas de um dos casais, que circulavam livremente na oficina improvisada.
As vítimas libertadas estavam de quatro a oito meses trabalhando no local e viviam sob condições precárias de higiene e trabalho. Quase todos tiveram os valores das passagens da Bolívia para o Brasil descontados dos salários, o que revela indícios de tráfico de pessoas e comprova a prática de servidão por dívida, uma vez que despesas de moradia, alimentação e limpeza também eram cobradas.
A Confecções Talita Kume Ltda. contrata serviços da referida oficina de costura há cerca de cinco anos, e a ligação foi comprovada pela investigação através de notas fiscais com encomendas de mais de duas mil peças utilizando o CPF da filha do dono da oficina.
A Talita Kume contrata os trabalhos da oficina diretamente. A fiscalização apontou ainda a existência de outras 16 oficinas que costuram peças de vestuário comercializadas pela marca, a maioria em situação irregular.
De acordo com o Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo, a jornada exaustiva imposta aos empregados está diretamente relacionada ao baixo valor pago pela Talita Kume por cada peça costurada. Cada trabalhador recebia R$1 por peça, dos R$3,80 que eram pagos para a oficina. Um das peças que era costurada quando a fiscalização chegou é vendida por R$49,90, nas lojas da grife evangélica.
O sobrado, onde funcionavam o local de trabalho e os alojamentos, foi interditado, assim como o depósito da Talita Kume, na sede da empresa no bairro do Bom Retiro. Até o momento, a empresa não comprovou a correção dos problemas e, portanto, os locais continuam interditados.
Entre os 42 autos de infração lavrados contra a Talita Kume, está o de discriminação étnica de indígenas Quechua e Aymara, grupo ao qual pertencem os trabalhadores bolivianos, que recebiam tratamento pior do que os empregados que trabalham na loja ou na sede da companhia.
Após a fiscalização, os empregados resgatados receberam as verbas rescisórias no valor de mais de R$ 40 mil e estão recebendo auxílio da Secretaria de Estado da Justiça e Defesa da Cidadania (SEJUDC) e da Defensoria Pública da União (DPU) para regularizar sua documentação.
Fonte: Gospel+