Localizada no centro de São Paulo, a Cracolândia é uma ferida aberta a revelar o terror do universo dos drogados no estado mais bruto. Em alguns pontos, os viciados tomam completamente o espaço público, calçadas e ruas, chegando a dificultar o trânsito de carros. O vai e vem é interminável. Diante do quadro de penúria dos corpos mutilados pelo crack, tem-se a impressão de estar diante de zumbis. A droga descola as pessoas da realidade. Luz ou noite, tudo igual. Passam dias sem comer ou dormir. O pouco que resta do raciocínio é totalmente devotado ao esforço de obter mais droga.
Furto, prostituição, mendicância. Tudo gira em torno da droga. O mundo prefere pensar que a este local não existe. Mas existe. É a realidade de milhares. Presos em uma armadilha de onde não se sai sozinho e a ajuda é escassa. O estado não assume a tarefa e esta é uma missão que poucos crentes têm a coragem e o preparo para enfrentar.
Na mente dos missionários atuando no local está a certeza de que esta é a vontade do Senhor, pois foi em cenários parecidos que Jesus atuou quando cruzou os limites das colônias de leprosos e das áreas marginalizadas durante Seu tempo entre nós.
Raspa do chifre do diabo
O Crack é um subproduto da Cocaína que até a última década era descartado devido a sua toxidade extremada até para os padrões dos traficantes. Atualmente, a droga é largamente vendida e é fumada em cachimbos improvisados. O Crack é uma droga poderosa que consome o físico e a mente e mata a maioria dos usuários em pouco tempo. O seu baixo preço a faz a droga dos mais pobres e marginalizados.
Alguns especialistas dizem que devido ao baixíssimo nível sócio-econômico do consumidor de crack e, consequentemente, a sua pouca expressão social, falta vontade política às autoridades para tomarem providências efetivas. Até mesmo o combate ao comércio da droga, não parece gerar interesse no poder público, como ocorre quando se trata de combater crimes de maior visibilidade.
As iniciativas do poder público no sentido de abordar a questão não passam da retórica. Quem tem feito a diferença são os cristãos evangélicos atuando no local. Já há vários grupos trabalhando na área e estão obtendo bons resultados em prol da vida e do Reino.
Um dos projetos no local desde o início de 2009 é o Radicais Brasil da Junta de Missões Nacionais, dos Batistas. Liderados pelo casal de missionários Humberto e Soraya Machado, o grupo circulou entre becos e favelas da capital, mostrando aos marginalizados que há esperança, apesar das circunstâncias.
Caminhar lado a lado com a população de rua, demonstrando interesse por suas vidas foi essencial para que o projeto se desenvolvesse. Logo nas primeiras ações, os Radicais presentearam com um par de muletas uma moradora de rua – grávida de sete meses e com uma fratura na perna, já que a sua havia sido roubada. “Ela chorava muito, e nós, que estávamos ali naquele momento, tínhamos que dar uma solução. Oramos, conversei com ela e pedi que me aguardasse. Voltaríamos com a resposta. Era desafiador… a garota não tinha como sair daquele lugar”, explicou Soraya. Mais tarde, a solução: um novo par de muletas. Daí por diante a confiança estava estabelecida. Ouviam-se dos marginalizados comentários do tipo: “Eles são sérios e fazem um excelente trabalho… eles são de Deus!”.
Os frutos que surgem precisam de um acompanhamento diário, sendo, em sua maioria, encaminhados para casas de recuperação, onde também recebem o discipulado. No trabalho com marginalizados, não basta retirar as pessoas das ruas. É necessário alcançar o foco do problema. Por isso, foi preciso alargar a tenda, alcançando também a Comunidade do Moinho, local de onde vem grande parte das drogas consumidas na Cracolândia. Paralelamente ao trabalho espiritual, os Radicais realizam atendimentos sociais, tais como cortes de cabelo, orientações médicas e atendimento diferenciado às crianças. Como resultado desse período de atuação, algumas famílias já se decidiram por Cristo.
O testemunho de G
Um dos frutos gerados na Cracolândia é a jovem G. Em julho de 2009, soube da atuação dos Radicais e decidiu procurá-los a fim de encontrar libertação. Apesar de tímida, contou que havia deixado a Bahia após algumas desavenças familiares. Chegando a São Paulo, se virou como pôde para se alimentar e conseguir abrigo. No crack viu a forma mais barata para fugir dos problemas, mas o que não sabia era que essa viagem custaria nada menos que anos de vida. Contou que tinha uma filha, que era cuidada por uma amiga. Quando dava, fazia uma breve visita para controlar a saudade, mas a tentação das drogas falava mais alto, fazendo-a retornar às ruas. Felizmente, após ser encaminhada para uma casa de recuperação, G. encontrou um novo caminho e, no dia 27 de Dezembro de 2009, confirmou sua decisão por Cristo, descendo às águas batismais na Primeira Igreja Batista de São Paulo (igreja que dá o apoio logístico e institucional ao projeto). A emoção foi grande e a certeza de se estar no caminho certo ainda maior.
Outra missão dando muitos frutos para o Reino no local é o Projeto Retorno, com muita experiência em ações com tribos urbanas. O casal responsável pelo ministério na Cracolândia é o Pr. Jair e a esposa Nildes Nery, que, em uma atitude ousada, se mudaram com as filhas Talita e Lais da Bahia para São Paulo encarando o desafio proposto pela Igreja do Evangelho Quadrangular. Hoje eles não somente trabalham, mas também moram no coração da Cracolândia, arriscando a própria segurança e esquecendo a própria comodidade pelo Reino na vida dos usuários de crack. Além da missão junto aos viciados, o casal também atua coordenando a ações de dezenas de jovens em prol da cidadania de homossexuais e prostitutas atuando na área.
A Missão Cena é outra missão atuando na área. Esta turma do bem coopera para os serviços básicos da população local oferecendo meios de higiene pessoal, assistência médica, roupas, alimentação, cursos e atividades interativas, como danças, artesanatos, capoeira e outras.
“Agora que vi, sou responsável”
Thaís Chioqueti conta como foi sua primeira experiência no local: Um dos jovens da igreja sugeriu um programa diferente para nossa reunião e programou uma “visitinha” ao local para distribuirmos comida. Compramos 300 hot-dogs e juntamos 30 jovens em um sábado à noite. Não deu nem pro cheiro… Saímos do espaço da Missão Cena, todo mundo feliz e alegre, com os celulares devidamente escondidos nos bolsos, bandejas e mais bandejas com lanches e garrafas de suco. Depois de uns cinco minutos de caminhada viramos uma esquina. Naquele momento as 30 pessoas com lanches foram literalmente engolidas por uma multidão de – sem exageros – umas 500 pessoas moradoras de rua, profundamente drogadas, bêbadas, sujas e o que mais você imaginar. Foi um soco no estômago. O inferno existe mesmo e fica ali na Cracolândia, com certeza. Os 300 lanches acabaram em cinco minutos, muita gente ficou sem. É incrível imaginar como aquele mar de gente vive ali, todas as noites… ex-psicólogos, ex-universitários, ex-advogados e também ex-pastores. Os que não estavam “lesados” demais conversavam com a gente e naquele momento vimos como os vícios e os prazeres da carne roubam a identidade das pessoas. Ninguém era alguém lá. Todo mundo era escravo da droga e fim. Foi um baque para o grupo todo. O mais incrível é perceber que a maior transformação aconteceu dentro de mim. É como aquela música da Brooke Fraser que diz: “Now that I have seen, I am responsible” (“Agora que vi, sou responsável”). Deus me lembrou o quanto Ele é misericordioso comigo e o que Ele espera de mim com relação a seus outros “filhinhos”.
Há outros grupos de evangélicos atuando na área, em maior número do que este espaço nos permite honrar. Se o poder público não quer despender esforços no resgate destas vidas, ou mesmo não acredita que tais vidas possam ser resgatadas, há quem pense diferente. Um grupo valoroso de evangélicos brasileiros vive a certeza de que o esforço compensa. Nossa gente sabe que não existe droga que não se consiga vencer pelo Sangue de Jesus! A mentira do Crack é apenas mais uma causa derrotada do inimigo. Em Jesus, os crentes irão transformar, em pouco tempo, a Cracolândia em Cristolãndia, para a honra e glória de Quem nos sustenta.
Provérbios 23:32-25 No fim, picará como a cobra, e como o basilisco morderá. Os teus olhos olharão para as mulheres estranhas, e o teu coração falará perversidades. E serás como o que se deita no meio do mar, e como o que jaz no topo do mastro. E dirás: Espancaram-me e não me doeu; bateram-me e nem senti; quando despertarei?
MISSÕES NACIONAIS – RADICAL BRASIL
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Casa Família
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Fazenda Nova Aurora
Fone 11-4682-1645
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Vídeo: Cracolândia e Cristolândia – impressões
Fonte: Genizah Virtual / Gospel+
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Créditos
Matéria criada e publicado originalmente no blog Genizah Virtual.
Colaboraram com os textos originais:
Andre Herdy Mantenedor da Fé, Missões nacionais e Thaís Chioqueti.
Fotografias (Capa e P&Bs):
Marco Gomes Visite o album no FLIKr
Fotografias (cor):
Missão Nacional
Redação:
Danilo Fernandes