Shelley Neese desenvolveu um profundo interesse na cultura judaica. Apesar de ser cristã e filha de um pastor da Louisiana, nos EUA, ela sempre entendeu que judeus e cristãos não como parentes no campo teológico e adoradores do mesmo Deus.
O que Neese não chegou a imaginar, contudo, é que seria tão surpreendida pela forma como alguns judeus ortodoxos encaram a leitura dos textos bíblicos cristãos. Ela viu isso de perto quando foi fazer uma pós-graduação na Universidade Ben-Gurion, em Israel.
“Quando cheguei ao portão do meu avião de Frankfurt para Tel Aviv, havia um monte de judeus religiosos rezando em hebraico. Naquele momento, percebi que, pela primeira vez na vida, eu era minoria religiosa”, disse Shelley ao Jerusalem Post.
Estar em Israel fez com que a cristã percebesse o quanto é diferente conhecer o judaísmo através dos livros e pessoalmente, tendo a oportunidade de ouvir dos próprios judeus ortodoxos o que eles enxergam da Torá e do Antigo Testamento, também conhecido como Bíblia Hebraica.
Nesse viveu na cidade de Beersheba entre 2000 e 2004, e foi lá que ela e o seu esposo tiveram a oportunidade de fazer amizade com os judeus locais, ao mesmo tempo em que transmitiam os ensinamentos da tradição cristã.
“Quase nunca tivemos um Shabat em que não fomos convidados para a casa de alguém. Tentei aprender todas as coisas sobre o judaísmo para que pudesse entender mais sobre a luz que sentia emanando de dentro dos lares judeus israelenses. Senti que suas práticas de fé não deveriam ser tão estranhas para mim como eram, já que os cristãos são os irmãos mais novos dos judeus”, disse ela.
De volta aos Estados Unidos, Neese ingressou no The Bible Seminary, onde estudou teologia, tendo como uma disciplina de grande interesse o Hebraico Bíblico. Foi a partir desse envolvimento com a cultura judaica traduzida para a teologia cristã que ela resolveu criar o podcast “Fibra Bíblica: Texturas e Sombras da Tapeçaria Profética”.
Para a surpresa de Neese, muitos dos seus amigos judeus ortodoxos passaram a acompanhar o seu trabalho no podcast, trocando conhecimento e experiências em relação à fé no Deus da Bíblia Sagrada, incluindo a figura de Jesus.
A cristã aprendeu, por exemplo, que muitos judeus fazem a leitura do Novo Testamento (também conhecido como Bíblia Cristã) para compreender os relatos do Antigo Testamento a partir do contexto judaico do primeiro século.
“Encorajamos uns aos outros”, disse ela. “Como judeus e cristãos que adoram o mesmo Deus e leem, pelo menos parcialmente, a mesma escritura, nos afastamos dos profetas com as mesmas perguntas.”
“Como cristã sionista, rejeito a teologia da substituição como um veneno que penetrou em nossa religião muitos anos atrás, quando os cristãos tentaram se separar do povo judeu. Quero que os cristãos leiam a Bíblia e entendam que não precisamos afirmar o cristianismo negando o judaísmo”, conclui Neese.