Os cristãos na China estão enfrentando níveis cada vez mais altos de cerceamento da liberdade religiosa, uma censura imposta pelos diversos mecanismos de controle que o governo comunista do país exerce sobre o povo. E o símbolo mais recente dessa perseguição é a proibição da palavra “Cristo” na principal rede social do país.
Recentemente, medidas administrativas para os serviços de informação religiosa na internet entraram em vigor no país sob o pretexto de segurança, mas na prática o que acontece é censura, já que todos os conteúdos precisam de autorização governamental.
Nesse contexto, a entidade de monitoramento da perseguição religiosa ChinaAid relatou que contas de usuários e grupos cristãos no aplicativo de mensagens WeChat passaram a sofrer ingerência ativa dos censores.
Membros da igreja Early Rain Covenant Church — uma igreja doméstica que rejeita a imposição de interpretações bíblicas do governo e, por isso, tem sido frequentemente alvo de perseguição religiosa — foram impedidos de usar a palavra “Cristo” em um grupo no WeChat.
Um desses grupos, intitulado “Como ler”, tinha como interação principal a recomendação de livros entre os membros da igreja, assim como uma avaliação sobre as recomendações.
Uma dessas indicações era o livro Imitação de Cristo, um devocional de Tomás de Kempis, publicado no século XV. No entanto, a votação não conseguiu passar pela censura do WeChat, apresentando a seguinte mensagem:
“A palavra ‘Cristo’, que você está tentando publicar, viola os regulamentos dos Serviços de Informações da Internet, incluindo, mas não se limitando, às seguintes categorias: pornografia, jogos de azar e abuso de drogas; marketing excessivo; incitação”.
A opção de resolução do problema oferecida pelo aplicativo foi “editar o conteúdo ou enviar para revisão”. Diante do impasse, o administrador do grupo, Ran Yunfei, denunciou a censura à ChinaAid, relatando que substituiu parte da palavra “Cristo” para driblar a regra.
Em fevereiro deste ano, Yunfei já havia experimentado outra adversidade, ao ter sido temporariamente proibido de publicar no aplicativo. O grupo que ele administra foi criado há cinco anos, e desde então os integrantes leem um livro por mês e ao final de cada ciclo de leitura, Yunfei envia mensagens de áudio resumindo o conteúdo da obra, para oferecer uma melhor compreensão do conteúdo para os membros.
Deus proibido
As medidas de censura tentam resolver reclamações do presidente Xi Jinping de que as restrições às referências à fé na web são “facilmente evitadas”.
As restrições entraram em vigor em 1º de março. Os comunistas, como de praxe, distorcem a realidade, alegando que as medidas visam “proteger a liberdade religiosa dos cidadãos”.
O texto das medidas diz que “o envolvimento em serviços de informação religiosa na Internet deve cumprir a Constituição, as leis, regulamentos e regras, praticar os valores socialistas fundamentais, aderir ao princípio de independência e autogestão das religiões na China, aderir à direção do sinicização das religiões na China e orientar ativamente as religiões para se adaptarem à sociedade socialista, para manter a harmonia religiosa, a harmonia social e a harmonia nacional”.
Todo esse aspecto de limitar a abrangência dos temas pregados por cristãos, e usar o que resta para promover os valores do PCCh, vem acompanhado de um forte aparato de repressão aos cidadãos que não aceitam se submeter ao controle estatal.