O governo Bolsonaro parece estar querendo garantir a sua boa relação com a Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional, algo considerado vital em ano eleitoral, tendo em vista que os evangélicos constituíram a grande base de apoio para a eleição do atual presidente da República. Para isso, figuras como o pastor Otoni de Paula (MDB-RJ) possuem papel de destaque.
Não por acaso, o governo indicou o pastor e deputado federal para assumir um dos postos de vice-líder do governo na Câmara dos Deputados, mesmo ciente de que Otoni é uma das pessoas mais críticas dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), contra os quais o Executivo vem lidando em clima de guerra.
Em 2020, por exemplo, Otoni de Paula já era vice-líder do governo na Câmara, mas precisou pedir o seu afastamento da função, após fazer uma série de críticas ao ministro Alexandre de Moraes.
“Minhas opiniões sobre o sr. Alexandre de Moraes são única e exclusivamente de minha responsabilidade, não sendo eu porta voz do presidente Jair Bolsonaro”, disse ele à época, explicando o motivo do seu afastamento, cuja intenção foi não associar a sua postura ao Executivo.
Já em 2021, o pastor chegou a ser alvo de um mandado de busca e apreensão expedido por Moraes, no âmbito do polêmico inquérito dos “atos antidemocráticos”, aberto para investigar os organizadores da megamanifestação do dia 7 de setembro daquele ano, quando até o cantor Sérgio Reis virou alvo do STF.
“Vai ser na bala”
Na coleção de declarações polêmicas do pastor e deputado federal Otoni de Paula, a mais recente foi uma reação às declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva envolvendo a intimidação dos parlamentares em suas residências.
O líder petista, já condenado por corrupção, mas pré-candidato à Presidência da República este ano, orientou durante um evento realizado semanas atrás, que a militância deveria enviar ao menos 50 pessoas para a casa dos deputados, a fim de pressioná-los por suas pautas, incluindo o contato com seus filhos e esposas.
Sobre isto, Otoni declarou durante um discurso na Câmara: “Eu quero dizer para vagabundos igual a Lula. Não atravesse a escola dos meus filhos e nem pense em visitar minha esposa. Ir lá em casa então é inimaginável, porque lá no Rio de Janeiro a gente tem um método de tratar bandido, é na bala (…) Não venha tentar visitar minha casa, porque vai ser na bala”.
Controvérsias à parte, a decisão do governo pela recondução do pastor Otoni de Paula para a vice-liderança na Câmara, publicada na edição da sexta-feira (22) do Diário Oficial da União, parece mesmo uma aposta na postura crítica do deputado, alinhada a do presidente Bolsonaro, bem como na sua influência sobre o eleitorado evangélico.