A realização de um batismo nas águas em local aberto irritou as autoridades chinesas, que rastrearam o local onde a cerimônia foi realizada e fizeram uma operação policial para intimidar o pastor e os fiéis.
Em Shenzen, cidade no sudeste da China, seis membros de uma igreja local e o pastor organizaram uma cerimônia de batismo nas águas. Eles dirigiram por duas horas em direção a uma cidade costeira onde realizaram o batismo nas águas de uma praia.
A celebração do batismo ocorreu sem incidentes, de maneira discreta. No entanto, um dos fiéis publicou fotos e vídeos do batismo na rede social chinesa WeChat.
Minutos depois, um funcionário do governo ligou para o celular do pastor Mao Zhibin para confirmar sua identidade, sob alegação de que as informações eram necessárias devido a uma medida de proteção contra a covid-19.
O pastor informou seus dados e seguiu com o almoço com os fiéis que participaram da viagem. Durante a refeição, vários policiais e o vice-prefeito da cidade costeira chegaram ao local onde o grupo confraternizava e os aguardaram concluir o almoço.
Os policiais pediram a identidade de todos e escanearam seus rostos, de acordo com informações do portal The Christian Post. O pastor Zhibin contou que um dos policiais possuía o vídeo do batismo nas águas que eles haviam acabado de celebrar em seu celular.
O pastor Zhibin, que lidera a Shenzhen Trinity Gospel Harvest Church, relatou a situação à entidade ChinaAid, que monitora a perseguição do governo comunista contra os cristãos: “A tecnologia usada pelo governo supera o regime autoritário tradicional e deve ser chamada de superautoritarismo”, disse ele.
“No entanto, também acredito que Deus ainda reina sobre todos. Só precisamos confiar n’Ele, andar humildemente com Deus”, acrescentou Zhibin, avaliando que o cenário em seu país é pior do que o livro de ficção 1984, escrito por George Orwell.
A China hoje é monitorada por um esquema de grande abrangência, com milhões de câmeras de vigilância no país monitorando os movimentos de todas as pessoas, além de funcionários do governo que trabalham exclusivamente para revisar tudo que é publicado na rede social WeChat.
O pastor demonstrou sua indignação com a situação, afirmando que “os algoritmos de inteligência artificial de big data podem ser chamados de Matrix 1.0, que é um hipertotalitarismo que excede em muito a tecnologia tradicional de governo totalitário”.
Repressão
O pastor Mao Zhibin e a congregação que ele dirige já se posicionaram contra o governo em outras ocasiões, e por isso estão sob um olhar ainda mais atento por parte das autoridades.
Uma dessas ocasiões foi a defesa da liberdade religiosa e manifestação de apoio ao pastor Wang Yi, fundador de uma das igrejas domésticas mais perseguidas da China, a Early Rain Covenant Church.
Outro fator é que ativistas conhecidos das autoridades frequentam a Shenzhen Trinity Gospel Harvest Church, o que pode ser a razão pela qual o governo comunista tem como alvo a igreja doméstica.
A Missão Portas Abertas, que monitora a perseguição em mais de 60 países, estima que existam cerca de 97 milhões de cristãos na China. Uma grande porcentagem desses cristãos congrega no que o governo comunista da China considera serem igrejas “ilegais” e não registradas.
Essas igrejas, referidas pelos cristãos chineses como “igrejas domésticas”, não se submetem às ingerências impostas pelo regime comunista às igrejas registradas. Muitas das congregações que pertenciam às denominações com licença do governo para atuar foram “forçadas a se dividir em pequenos grupos e se reunir em diferentes locais, mantendo-se discretas para não serem detectadas pelo oficial do subdistrito ou pelo comitê de bairro”.
“Desde que os Regulamentos Revisados sobre Assuntos Religiosos entraram em vigor em fevereiro de 2018, o governo chinês adicionou mais leis visando coibir atividades religiosas que não são sancionadas pelo Estado”, disse Gina Goh, gerente regional da International Christian Concern (ICC).
“Pequim é paranóica com a interação dos cristãos chineses com os cristãos no exterior. Como resultado, eles estão penalizando os cristãos para impedi-los de ‘receber influência estrangeira’. É uma pena que o governo chinês manipule constantemente as leis para violar a liberdade religiosa de seus cidadãos”, lamentou Gina.