Uma escola de orientação cristã na cidade de Ananindeua (PA) está no centro da mais nova polêmica sobre intolerância religiosa depois que a diretora vetou a apresentação de um trabalho escolar sobre a Pombagira, uma entidade feminina cultuada por religiões afro-brasileiras.
O caso foi registrado no Centro de Educação Trindade, onde os estudantes do Ensino Médio foram proibidos de apresentarem uma música em homenagem à entidade. De acordo com informações do portal Uol, a escola se descreve como “formadora de princípios cristãos”.
A polêmica veio à tona depois que um vídeo, gravado com um celular, circulou nas redes sociais. Os alunos, já na diretoria, tentam argumentar com a responsável pela escola, mas não a convencem. Quando dizem à diretora que a música se chama “Pombagira Cigana”, ela expressa contrariedade: “Pombagira? Credo!”.
Insistente, um dos alunos afirma que é preciso reconhecer o espaço de outras religiões, mas a diretora mantém sua decisão: “Não sou obrigada a entender as outras religiões! A escola tem um princípio cristão […] Eu tenho que dizer pra vocês: aqui dentro da minha escola vai funcionar, vai se realizar e vai se apresentar o que eu achar que é de Deus. Nada de Pombagira aqui dentro”, definiu.
Durante a discussão, um dos alunos pede que a diretora reconsidere por respeito à tradição religiosa, mas a diretora encerra a discussão: “Eu não quero e acabou”.
Com a repercussão do caso na imprensa, a Comissão de Direito e Defesa da Liberdade Religiosa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Pará emitiu uma nota de repúdio e informou que irá tomar medidas legais contra a ação da diretora.
“A atitude revela-se ainda mais grave, por partir de dirigente de instituição educacional, que tem o dever de combater qualquer tipo de discriminação ou intolerância religiosa, não importando a fé que a diretora professe individualmente. É inconcebível que uma instituição de ensino restrinja a divulgação cultural de práticas religiosas que fazem parte da tradição do povo brasileiro, assentando sua convicção no desrespeito e na discriminação contra a liberdade religiosa”, diz o texto do comunicado, assinado por Emerson Lima, presidente da Comissão, segundo informações do G1.
Um dos alunos admitiu que o vídeo foi feito com a intenção de registrar a postura da diretora: “Ela agiu de forma preconceituosa, falando que não aceitava ‘macumba’ na escola dela. Eu achei o ato totalmente desrespeitoso e tomei a frente da situação chamando meus colegas de classe para irmos até ela, dialogar sobre o fato. Nesse momento, o vídeo foi feito pela minha amiga. Eu já tinha plena consciência que o que eu tinha acabado de presenciar era crime, porém precisava de provas para que o crime fosse julgado e penalizado”.
Nas redes sociais, houve manifestações de críticas à postura da diretora, mas também manifestações de apoio: “É simples: não gosta dos ensinamentos da escola, é só mudar pra uma escola de umbanda, você não é obrigado a permanecer em um local onde não se sente bem”, escreveu um usuário do Facebook. “Uma escola cristã para quem quer ter ensinamentos do cristianismo! Intolerância, nada! Apenas regras”, defendeu outra.