O governo de João Doria (PSDB) em São Paulo entrou em nova polêmica nas redes sociais por conta de uma diretriz da Secretaria de Educação anunciada em uma aula para substituir o uso das nomenclaturas a.C (antes de Cristo) e d.C. (depois de Cristo) por uma que omite a referência à fé cristã.
O caso veio à tona com forte repercussão nas redes sociais, o que levou à publicação de uma nota oficial da Secretaria de Educação com uma retratação, negando que haveria banimento das nomenclaturas.
Durante uma aula, a professora afirma que a Secretaria de Educação paulista estabeleceu o uso das nomenclaturas AeC (antes da era comum) e DeC (depois da era comum) para substituir as referências a “antes de Cristo” e “depois de Cristo”.
“Essa é uma descrição da divisão da linha do tempo, de antes de Cristo e depois de Cristo. A gente fez uma mudança na denominação, ela é utilizada em alguns escritos, algumas literaturas, mas a Secretaria de Educação, nos seus materiais, decidiu que vai se utilizar essa sigla AeC, que significa ‘antes da era comum’. A ‘era comum’ é o que a gente conhece como ‘depois de Cristo’ […], é a mesma divisão”, diz a professora.
Em seguida, ela acrescenta o motivo da decisão da pasta: “A gente sabe que o nosso calendário é cristão, o calendário gregoriano, que determina que o ano um é o ano do nascimento de Cristo para frente. Mas, como Cristo é uma referência religiosa e a gente sabe que nem todas as religiões têm Cristo como referência – e também tem tantas pessoas que não têm religião –, então a gente prefere usar esse termo, que é um pouco mais neutro, mas que significa a mesma coisa”.
A repercussão foi imediata nas redes sociais, e o deputado estadual Gil Diniz compartilhou o vídeo em sua conta no Twitter, classificando a decisão como “absurda”. Outro que criticou a determinação foi o pastor Marco Feliciano (Republicanos-SP), que cobrou dos eleitores paulistas uma ação para que a medida fosse revista.
“Aparentemente, sem assuntos mais importantes para tratar, através de uma decisão de segundo escalão, sem deliberação na Assembleia Legislativa – que é onde se criam as leis – resolveram eliminar a tradicional referência temporal. […] A alegação deles é que essa referência, a.C/d.C., é cristã demais e existem outras religiões não cristãs que se sentem desconfortáveis”, ironizou o pastor.
Feliciano destacou ainda que trata-se de “uma referência literária/cultural mundial” que seria abandonada pelo órgão que determina os rumos da educação pública no maior estado do Brasil: “O que querem essas pessoas? Causarem confusão desnecessária em uma geração que já se perdeu, já com maioria de analfabetos funcionais? É isso que querem no Brasil?”, questionou.
Diante da repercussão, a Secretaria de Educação recuou e afirmou que o padrão segue sendo a.C/d.C.: “Os termos a.C. (antes de Cristo) e d.C. (depois de Cristo) são o padrão da Seduc para construção dos materiais didáticos, assim como nos livros paradidáticos e de literatura adquiridos para as unidades escolares e são os mais utilizados no Brasil”, diz a introdução da nota oficial.
“Como o estudante poderá se deparar com nomenclaturas diferentes em outros textos durante sua trajetória acadêmica, é importante que eles tenham ciência da existência das mesmas. Juntamente com o questionamento, circula em redes sociais a explicação de uma docente a respeito da utilização destas terminologias. Nesse sentido, cumpre esclarecer que a aula em questão procura explicar essa distinção e não representa uma diretriz da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo que continua utilizando a terminologia a.C/d.C. como o padrão. Esta posição será reforçada com a equipe da secretaria”, conclui o secretário Rossieli Soares da Silva.
Por que o cristianismo incomoda tanto? Assista! pic.twitter.com/bmxP81kSHY
— 👊🇧🇷 Marco Feliciano (@marcofeliciano) August 31, 2020
Governador João Doria e Secretário de Educação faltam com a verdade quando dizem que é “Fake News” a retirada das siglas A/C e D/C do material escolar! Estamos todas as providências administrativas e jurídicas contra esse absurdo! Assista até o final e vai entender esse caso! pic.twitter.com/yJAkQzZ2jB
— Gil Diniz (@carteiroreaca) September 2, 2020