Após afirmação do pastor Marco Feliciano de que a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) era “dominada por satanás” antes de sua chegada à presidência, a vice-presidente da Comissão, deputada Antônia Lúcia (PSC-AC), chegou a afirmar que deixaria o cargo pois se sentiu ofendida com a afirmação do colega de partido, mas após uma conversa com o presidente do partido, deputado André Moura, voltou atrás na decisão.
– Me senti extremamente ofendida. Não tenho como continuar no cargo de vice. Isso é ofensa demais, é desacato. Assim que eu comprovar a autenticidade do vídeo publicado no YouTube, não fico mais [no posto de vice] – afirmou Antônia Lúcia, que também é evangélica, em entrevista ao G1.
Antônia Lúcia, que chegou a ser cogitada para a presidência da comissão caso Feliciano renunciasse, afirmou ter ficado indignada com as declarações de Feliciano e chegou a pedir “desculpas” em nome do colega ao ex-presidente da comissão, deputado Domingos Dutra (PT-MA), e aos demais parlamentares que integraram o colegiado no passado.
– Não existe isso que ele [Feliciano] falou. Peço desculpas aos ex-colegas e aos atuais membros da comissão. Quero deixar registrado, especialmente ao deputado Domingos Dutra, que não tínhamos nenhuma representação satânica no colegiado. Refuto essa declaração, até porque eu mesma fazia parte dessa comissão – afirmou a deputada, que afirmou também que Marco Feliciano não poderia ter feito comentários sobre assuntos internos do Legislativo em um culto religioso.
As declarações do deputado Marco Feliciano foram comentadas também pelo líder do PSC, André Moura (SP), que afirmou que caberá à Mesa Diretora do partido analisar “as consequências” da declaração do deputado, mas ressaltou que o colega deve um pedido de desculpas por suas declarações, que Moura classifica como “infelizes”.
– Eu entendo que são declarações infelizes da parte dele, inclusive disse isso ao deputado. Acho que agora cabe a ele um pedido de desculpas oficial e, logicamente, que a Mesa Diretora da Casa fará uma análise das consequências da declaração, mesmo porque, apesar de ser num culto evangélico, ele fez referência a parlamentares que faziam parte da comissão no ano passado e alguns que continuam fazendo parte da comissão neste ano – disse Moura.
Além dos colegas de partido, parlamentares contrários à permanência de Marco Feliciano no cargo também se manifestaram sobre o assunto. Indignada, a deputada Iriny Lopes (PT-ES), ex-ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, protocolou nesta terça-feira (2) na Mesa Diretora da Câmara, um requerimento por quebra de decoro contra o parlamentar.
– É inaceitável que um deputado faça esse tipo de declaração, ferindo a honra e a imagem dos nobres colegas que atuam com dedicação e firmeza, para a promoção e valorização dos direitos humanos – afirmou a deputada, que presidiu a Comissão de Direitos Humanos em 2006, e classificou a declaração feita por Marco Feliciano como um “desrespeito” aos demais parlamentares.
O requerimento feito por Iriny Lopes será analisado pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e, se for decidida a abertura de investigação caberá ao Conselho de Ética julgar o caso. O recém eleito presidente do Conselho, deputado Ricardo Izar Junior (foto) do PDT de São Paulo poderá pedir até mesmo a cassação do mandato do pastor como parlamentar.
Cinco ex-presidentes e três vice-presidentes da Comissão de Direitos Humanos e Minorias assinaram uma nota oficial onde afirmam considerar “inaceitável a declaração feita pelo parlamentar relacionando Satanás à comissão, o que mais uma vez demonstra a sua incompatibilidade para presidi-la”.
Resposta de Feliciano
Em rápidas palavras com a imprensa antes de uma reunião do PSC para tratar sobre as próximas pautas da CDHM e de uma ida a Bolívia, o deputado Marco Feliciano afirmou que “não disse o nome de ninguém. Eu estava num culto, num ambiente espiritual, falando sobre coisas espirituais. Se vocês assistirem ao vídeo, minutos depois eu falei que a comissão fez um seminário com apologia ao sexo a crianças de zero a seis anos” e completou que “isso para quem é espiritual não é coisa de Deus. Se não é coisa de Deus é do adversário. Satanás significa adversário”, disse.
Sobre a afirmação da vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minoriais, Antônia Lúcia, o pastor afirmou que “não há crise”, “conversei com ela e já está tudo normal. A deputada disse a tarde que atendeu “a um pedido do partido, do nosso líder. O pastor Feliciano pediu desculpas no Twitter, telefonou, pediu desculpas e eu aceitei”.
Sobre o requerimento protocolado contra ele pela deputada Iriny Lopes, o pastor Marco Feliciano se limitou a dizer que “é um direito dela”.
Por Dan Martins, para o Gospel+