A situação de guerra declarada por Israel aos terroristas do Hamas renovou o debate sobre o papel que o povo judeu e sua nação têm no contexto do Novo Testamento, em especial, em relação à escatologia. O pastor e professor Franklin Ferreira expôs sua visão sobre o assunto em um vídeo, afirmando que Deus ainda não terminou Sua obra com Israel.
O tema tem se tornado recorrente nas publicações de Franklin Ferreira nas redes sociais desde o ataque terrorista contra Israel, que matou mais de 1.300 pessoas em seu território, sendo pelo menos 161 estrangeiros, com três brasileiros entre as vítimas.
O professor de teologia explicou que sempre que há uma crise envolvendo Israel, a pergunta sobre a relação do país com as profecias bíblicas vem à tona, e para respondê-la, é preciso fazer uma análise do registro bíblico, mas também do entendimento sobre o tema no contexto cristão dos últimos séculos.
“Uma pergunta que sempre volta quando há uma crise no Oriente Médio, é ‘qual a relação de Israel com as profecias bíblicas?’. A igreja evangélica nos últimos 100 anos ficou presa em dois extremos”, apontou.
“Um extremo, o dispensacionalismo, que além de enfatizar a descontinuidade entre Antigo e Novo Testamento, pressupõe que Deus plantou duas oliveiras, Igreja e Israel; e o supersessionismo ou substitucionismo, que foi a posição comum na Idade Média e que foi retomada pelos evangélicos no século XX e XXI, que supõe que Deus arrancou a Oliveira original e plantou outra no lugar, ou seja, Deus substituiu Israel pela igreja gentílica nos seus planos e projetos de redenção”, contextualizou.
Franklin Ferreira admite que ao longo de toda sua jornada como pastor e professor, se colocou no segundo grupo: “Essa foi a posição que eu defendi, e eu tinha muita dificuldade de articula-la junto com o amor que eu sempre tive por Israel, que eu fui ensinado a ter por Israel, pela história de Israel contemporânea”,
Uma nova leitura da Bíblia Sagrada, com a preocupação de conciliar diferentes fatos, foi necessária para que essa percepção mudasse, revelou o pastor e professor: “Em novembro de 2019, numa viagem a Israel, eu tive um momento de experiência muito forte no Museu Amigos de Sião, e a partir daquela experiência eu comecei a reler o texto sagrado, e textos como Deuteronômio 7, Zacarias 12 e 14, que foram escritos após o período do exílio, Romanos 9, 10 e 11, ganharam um novo enfoque, jogaram luz para mim sobre essa tensão que eu tinha na minha teologia”.
“O que eu descobri, nesses meus estudos, é que uma noção de eleição individual pode andar lado a lado com a noção de eleição corporativa. Ou seja, Deus elege pecadores para que eles tenham fé, ao mesmo tempo que Deus elege uma nação, uma etnia, para missão, para serviço, e Deus não abandona essa eleição. O contrário, achar que Deus abandonou essa eleição, colocaria uma tensão complicada demais dentro da visão de Salvação baseada na graça e na soberania divina”, conceituou.
Israel, território e escatologia
“E outro ponto também que me chamou atenção é que os pactos que Deus fez com o Seu povo, são pactos incondicionais. Eu aprendi que o pacto que Deus fez com Moisés no Sinai seria um pacto condicional, já que o povo não conseguiu viver à luz das demandas daquele pacto, então o povo perdeu tudo, inclusive a terra. Mas nessa nova leitura das Sagradas Escrituras, o que eu percebi é que todos os pactos são baseados na soberania de Deus, na graça livre de Deus, e Deus é fiel a Si mesmo. Deus não abandona esses pactos com Abraão, Moisés, Davi e o novo pacto, a Nova Aliança que é selada em Jesus Cristo”, explicou Ferreira.
Por esse motivo, inclusive, o pastor e professor entende que o retorno do povo judeu ao território de seus ancestrais é legítimo: “Junto com essa noção de pactos incondicionais, eu fui desafiado a rever o que as Sagradas Escrituras ensinam sobre terra. Na medida que fui avançando meus estudos e passando para a teologia histórica, eu descobri que muitos dos meus escritores prediletos no século XVII, XVIII, IXX e começo do século XX criam que a terra é dada por estatuto perpétuo por Deus ao Seu povo judeu, o Seu povo judeu voltaria para essa terra, da perspectiva das Escrituras isso aconteceria ainda no futuro”.
“Como um sinal seguro de que Cristo está às portas todo Israel seria salvo, ou seja, haveria uma conversão em massa de Israel ao único Messias, Jesus. John Owen, William Perkins, Samuel Rutherford, Wilhelmus à Brakel, Jonathan Edwards, J. C. Ryle, Robert Murray M’Cheyne, Charles Spurgeon, todos esses escritores criam nesses três pontos”, referenciou Ferreira, elencando nomes importantes na teologia reformada.
“O mais surpreendente foi chegar no século XX e descobrir, por exemplo, Karl Barth afirmou que a única prova natural, que ele admitia, da existência de Deus seria a preservação dos judeus durante a História e a sua volta para sua terra ancestral”, disse o pastor, reiterando seu atual posicionamento.
Franklin Ferreira fez também indicações de livros que ajudam a entender o assunto de maneira mais completa: “Eu queria sugerir, aqui, que você releia a Sagrada Escritura de uma perspectiva de aliança, de uma perspectiva de eleição corporativa. Nesse processo de reler a Escritura, busque bons livros, como esse A Importância de Israel, de Gerald McDermott, que foi um livro muito importante nos meus estudos, e que gerou esse meu livro, Por Amor de Sião, que é uma tentativa de entender o que a Sagrada Escritura fala de aliança, eleição, terra, shabat, entre outros temas importantes nesse debate entre Antigo e Novo Testamento, Israel e Igreja”.
“Ore pelo povo judeu. Coloque o povo judeu nas suas orações, se Deus abrir portas, comunique a mensagem do Messias para os judeus, se interesse pela história contemporânea do povo judeu, leia sobre a história contemporânea de Israel, e vocalize seu apoio pela pequena nação de Israel, que ainda cumpre uma função dentro dos propósitos de eleição e aliança, do único Deus soberano”, encerrou o pastor e professor.
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