O surgimento das igrejas evangélicas no Brasil é comumente associado à chegada de missionários protestantes em meados do fim do século XIX, mas essa história acaba de ganhar um capítulo prévio.
A historiadora e professora cearense Jaquelini de Souza acaba de lançar o livro A Primeira Igreja Protestante do Brasil, pela editora Mackenzie, contando a história da Igreja Reformada Potiguara, fundada por índios após a invasão holandesa a Pernambuco.
Segundo as pesquisas de Jaquelini, os índios Paraupaba e Poty foram levados voluntariamente por holandeses à Europa em 1625, onde receberam educação formal e foram convertidos ao protestantismo. De volta ao Brasil cinco anos depois, passaram a anunciar o Evangelho com o apoio de holandeses que ainda estavam por aqui.
“Já era a Igreja Potiguara porque, teologicamente, havendo dois ou três reunidos em nome de Deus, independentemente do lugar, está ali uma igreja”, afirma a historiadora em seu livro, de acordo com informações da IstoÉ.
Em 1654, com a luta dos portugueses para expulsar os holandeses de Pernambuco, os índios fugiram para a Serra do Ibiapaba, a 750 quilômetros do litoral pernambucano, para se refugiarem de retaliações dos portugueses, que eram católicos.
No Ceará, anunciaram o Evangelho dentro da doutrina protestante para outros índios, e formaram a igreja de maneira mais organizada. “Por isso, argumento que foi só depois da expulsão dos holandeses que vimos aflorar a verdadeira Igreja Potiguara”, diz Jaquelini.
O padre jesuíta português Antônio Vieira, foi designado pela Igreja Católica para investigar o que se passava na Serra do Ibiapaba, e relatou à Companhia de Jesus que a região era como uma “Genebra de todos os sertões”, em referência à cidade suíça que foi o berço do protestantismo.
Em seu relato, o padre diz que os índios “estão muitos deles tão calvinistas e luteranos como se nasceram em Inglaterra ou Alemanha”. Apesar dos esforços de seus fundadores, sem apoio, a primeira igreja evangélica do Brasil se desfez ainda no século XVII, quando alguns dos remanescentes do grupo inicial teriam se juntado aos opositores dos portugueses durante as Guerras dos Bárbaros a partir de 1688, enquanto outros teriam retornado ao catolicismo ou às suas crenças nativas.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+