Todos os anos, durante o período de carnaval, inúmeras igrejas evangélicas promovem acampamentos e retiros espirituais para os membros, com o intuito de aproveitar os dias de descanso para comungar, ao invés de curtir a festa de momo. Essa prática agora é adotada também pelas igrejas inclusivas, que aceitam homossexuais normalmente.
“A gente orienta evitar qualquer difamação. Que respeito haveria por alguém que estava na [rua] Farme [de Amoedo] bebendo, todo jogado? Pelo fato de nós sermos uma igreja inclusiva nós somos cobrados de uma maneira muito maior. São dois mundos muito mal falados: o de cristãos e o de gays. Se a gente não apontar essas questões, a gente vai dar mais margem a falarem mal da gente. Ainda assim, o membro que foi para a Farme vai ser amado e acolhido do mesmo jeito”, disse o pastor gay Marcos Gladstone, referindo-se ao carnaval do bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro, frequentado por homossexuais.
A igreja que Marcos dirige com seu marido, Fábio Inácio, reuniu 400 gays evangélicos num retiro em Guaratiba, zona oeste do Rio, durante os dias de carnaval, para que os fiéis evitassem a “pegação”.
“O que acontece na minha vida nesses dias de retiro é um avivamento do meu chamado. É uma experiência sobrenatural que descrever com palavras é praticamente impossível. A forma como a palavra é conduzida é como se o próprio Deus estivesse falando conosco . É algo divino e o que nós sentimos nos nossos corações após esses quatro dias é um completo renovo, uma nova vida que vai se fortificando cada vez mais dentro de cada um de nós”, declarou Carlos Alberto Lopes, membro da Igreja Cristã Contemporânea e professor de história.
Com mais de 2 mil membros, a igreja inclusiva orientou aos que não puderam participar do acampamento gay de carnaval a ficarem em casa, com a família. “Se é uma festa da carne e se eu, enquanto evangélico, enquanto cristão, seguindo orientação bíblica, estou matando minha carne a cada dia, eu devo fazer escolhas tentando matar, renunciar os desejos do dia a dia. Nesse tipo de festa a carne é explorada, a visão do sexo livre é tida como algo liberado, é totalmente permissivo. Por conta de quatro dias as pessoas fazem coisas que ao longo do ano inteiro elas se veem fechadas, trancadas e tentam se liberar nesse período. A visão da igreja é que nesses quatro dias os membros devem se fortalecer para continuar vivendo em ligação com Deus”, argumentou o professor.
As atividades dos gays evangélicos durante o retiro, incluíam, segundo informações do jornal O Dia, concursos de música gospel e desafios de conhecimento das passagens bíblicas. Durante o período, a igreja também realizou o batismo de 78 novos membros na piscina do sítio.
Francisco Lopes, 50 anos, músico, ex-membro da Assembleia de Deus, foi ao acampamento da igreja inclusiva acompanhado de seu marido e sua mãe: “Hoje eu posso louvar a Deus da forma que eu sou porque sei que Deus me ama da forma como sou”, afirmou, antes de contar o que aconteceu durante o período de retiro: “Estávamos todos louvando a Deus. A igreja cantando em união. Eu tive a certeza que, ali, naquele instante, Deus se fez muito mais presente. Somente quem vive uma experiência como essa entende. São quatro dias de pura glória onde não se pensa em nada além de buscar a presença de Deus”, disse o músico.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+