As igrejas evangélicas neopentecostais são as responsáveis pela sobrevivência financeira de muitas das principais emissoras de TV com sinal aberto no Brasil. Essa é a constatação de uma breve análise do orçamento de Band, RedeTV!, Record e Gazeta, entre outras.
Os horários alugados por essas emissoras às igrejas são responsáveis por uma fatia de 30%, em média, do faturamento anual. No caso da Record TV, do total de R$ 1,8 bilhão estimado para 2017, R$ 540 milhões vêm da Igreja Universal do Reino de Deus. As duas instituições são controladas pelo bispo Edir Macedo.
Na Band, segundo informações do jornalista Ricardo Feltrin, o orçamento de R$ 500 milhões de todo o grupo tem um terço oriundo das igrejas, incluindo o arrendamento do Canal 21 para a denominação de Macedo.
Já na RedeTV!, que estima um orçamento de R$ 400 milhões para 2017, a fatia do bolo é maior: 35% da arrecadação da emissora vem da locação de espaços para igrejas. “Do ponto de vista pragmático, muitas TVs abertas e suas afiliadas não fecham mais as contas e em alguns casos correriam até risco de insolvência sem a venda desses horários”, comentou Feltrin, em sua coluna no portal Uol.
No meio artístico há muitas críticas à locação de horários das emissoras para as igrejas. A prática também é constantemente bombardeada por jornalistas especializados em programação de TV. Feltrin, no entanto, pondera que essa tem sido a única forma de manter as obrigações em dia, como salários dos funcionários. “A despeito das críticas contra esse comércio, se esse dinheiro sumisse começariam cortes, demissões em massa e ameaça até de continuidade da operação dessas emissoras e de muitas de suas afiliadas”, lamentou.
As únicas emissoras do país que não alugam horários de sua grade para igrejas são a Globo e o SBT, do judeu Silvio Santos. Mas isso não impede que afiliadas dessas duas gigantes já não se aproveitem do dinheiro dos dízimos e ofertas doados às denominações: Brasil afora, algumas das emissoras que integram a rede das duas principais já alugam horários ou vendem anúncios para a Igreja Universal.
O vice-presidente da RedeTV!, Marcelo de Carvalho, foi o único que aceitou comentar o assunto, dizendo que as emissoras precisam desses valores para sobreviver, pois o mercado publicitário nacional tem “discrepâncias” que privilegiam a Globo. “Além disso vamos deixar claro que só existe programação religiosa porque há público para assistir […] Ninguém quer falar sobre isso”, disparou.